Vou contar um pouco da minha história. Aos 18 anos (hoje tenho 24), já havia passado por uma série de experiências amorosas não muito agradáveis. Cristã batista desde os 15 anos de idade, almejava um homem cristão (e mais velho) que me fizesse feliz e com o qual pudesse me casar. Imaginava que o cara me amaria acima de todas as coisas e nunca me deixaria, assim eu pedia em minhas orações. As experiências anteriores decepcionavam completamente as expectativas. Porém, após repetidas orações que especificavam o homem ideal, eu recebi a resposta. Conheci um rapaz cristão muito bonito que cantava no louvor e que se apaixonou perdidamente por mim. Em pouco tempo nos casamos, e….Para tudo gente! A história não foi assim! Na verdade, esta história só ilustra a perspectiva que eu tinha do que seria um relacionamento feliz. Assim, como eu, talvez você tenha essa perspectiva e, por isso, quero contar minha história real e compartilhar com vocês o que foi tão difícil, mas extremamente importante aprender!

Aos 18 anos, de fato eu estava bem desiludida com experiências amorosas, pois infelizmente comecei a namorar muito cedo. Nesta mesma idade, um rapaz bem novinho da minha igreja começou a me paquerar e se aproximar dos meus amigos. Porém, o garoto só tinha 16 anos, nem pensava em vestibular e estava completamente fora das minhas expectativas. Apesar da insistência dele, eu fui bem clara ao dizer para ele que minha resposta era não e que nunca ia dar certo.

Depois de muita conversa e resistência de minha parte, porém, ele me encarou e disse “eu gosto muito de você, quero namorar e casar com você, porém não irei mais insistir pois não quero sofrer”. Nesse momento, meu coração bateu forte e resolvi aceitar namorar com ele. Entrei nesse relacionamento motivada por meus medos, desejos e necessidades, assim como fazia com todas as outras coisas da minha vida. Eu estava sozinha, me sentia incompleta e insegura, queria alguém para amar.

Cada um de nós, por vezes, entra em um relacionamento com um ser interior desordenado. Muitas vezes, procuramos superar as inseguranças dedicando-nos muito mais ao relacionamento com o namorado do que com Cristo. Às vezes esperamos receber afeição e apoio inesgotáveis de um parceiro. O relacionamento passa a ser transformado numa espécie de salvação, uma expectativa que nenhuma relação entre homem e mulher é capaz de preencher.

Quando tínhamos desentendimentos, chegávamos a um acordo, que consistia basicamente em um meio termo que não feriria o meu egocentrismo e nem o dele. E assim continuávamos entendendo que éramos felizes e que problemas “todos têm, então para quê tentar lutar contra eles?!”. Seguíamos racionalizando nosso pecado e nos afundando nele.

Com toda essa “felicidade”, eu fui me apegando cada vez mais a ele e ele a mim. Com aproximadamente 5 meses de namoro, em uma das vezes em que ele veio me visitar, ficamos assistindo TV na sala e começamos a nos beijar, beijos apaixonados que faziam o coração bater mais forte e ter a certeza do meu sentimento. Foi quando aconteceu de ele tocar no meu corpo em meio a brecha que eu dava para aquela situação. No primeiro momento, nos assustamos. Eu chorei, disse que não queria mais namorar, ele pediu perdão e então oramos ao Senhor. Nesta ocasião, orei pedindo a Deus que se esse namoro não fosse pra glória dele, que Deus permitisse que o namoro não se prolongasse. Acontece que essas situações começaram a se repetir cada vez mais.

Foi quando ele mudou-se para um lugar bem distante da nossa cidade. No começo, ficou aquela tensão, os amigos brincavam dizendo que íamos nos separar e os mais velhos diziam que pela experiência esse relacionamento naturalmente ia se desfazer. Resolvemos que continuaríamos o namoro e olhávamos essa situação como uma ótima oportunidade para nos manter santos. Mas não foi o que aconteceu.

Em certa ocasião, tive a oportunidade de visitá-lo com o objetivo de animá-lo, pois ele se sentia muito sozinho. De fato, ele se sentiria verdadeiramente encorajado se não tivessem acontecido novamente situações de defraudação. Chamo de defraudação, pois sem dúvida, ao agirmos assim, estávamos criando a expectativa de proporcionar a intimidade e o prazer que não conseguiríamos dar um ao outro, pelo menos, até entendermos que amar não significa um sentimento forte no coração e que momentos de intimidade não devem ter como motivação a vivência da intensa paixão e sedução. Amor, sentimentos, são importantes na construção de um relacionamento. Porém, compromisso sacrificial com o bem do outro é a base, é a essência do amor. E isto só consegue ser concretizado após o casamento.

Os anos foram passando e mesmo envolvidos no meio cristão nos víamos pecando cada vez mais. Até que, após quatro anos de namoro, aconteceu o que já poderíamos esperar, fizemos sexo. Após isso acontecer, nossas orações e pedidos de perdão se tornaram cada vez mais frequentes. Porém, apesar de pedirmos perdão, não estávamos dispostos verdadeiramente a abdicar daquilo que nos dava alegria e prazer, portanto, não havia o verdadeiro arrependimento. Na nossa cabeça passavam pensamentos tais como: “sei que é errado, mas nós já íamos casar mesmo, então tudo bem”, “acho que fulano da igreja também faz isso” e “ninguém tem nada com isso/ninguém precisa saber disso”. E seguíamos sem parar de nos por em situações de vulnerabilidade ao pecado. A minha dependência emocional em relação a ele só aumentava cada vez mais, ele era “meu amor perfeito” e não me imaginava sem ele, ele “era meu e eu era dele”! Cada vez mais eu procurava nele aquilo que só Cristo podia me dar e, portanto, não era capaz de adorar verdadeiramente a Deus. O que eu precisava aprender era que Somente Deus pode preencher um espaço que é do tamanho dEle. Enquanto Deus não ocupasse o devido lugar em minha vida, estaria sempre me queixando de que “não me sinto completamente amada por meu namorado”, de que “a vida está difícil” ou que “ser santo é quase impossível”.

Ao longo dos anos, eu tinha vivido excelentes e péssimas experiências com meu namorado. Mas era incapaz de me aprofundar nos ensinamentos, na vida e obra de Jesus de tal modo que isso dominasse minha vida e que brotasse de mim, de modo espontâneo, o que Jesus faria em alguma situação.

Em meio ao relacionamento permeado de imoralidade sexual, eu me via cada vez mais loucamente apaixonada pelo meu namorado. Em parte, porque ele supria minhas carências, tentava tratar minhas inseguranças. Mas isso alimentava em mim uma postura pecaminosa e ao invés de, enquanto mulher e cristã, servir e me doar, eu fazia exigências e exercia o controle.

Pela infinita misericórdia de Deus, após cinco anos de namoro, ele mostrou que verdadeiramente me amava e terminou o namoro! Tenho por certo que essa decisão não foi tomada pela vontade autônoma dele, mas através do Espírito Santo, pois só Ele é capaz de fazer algo bom em nós. É claro que eu sofri e não entendi muito bem o que estava acontecendo no momento. Ele também sofreu, choramos muito.

Mais ou menos um mês após o término, eu senti fortes dores pélvicas e naquela situação descobri que estava tendo um aborto espontâneo. Naquele momento, parecia que Deus tinha esquecido da minha existência, mas pedi a Ele que, pela misericórdia dEle, eu pudesse ter a oportunidade de conhecê-Lo verdadeiramente.

Foi nesse meio tempo que uma amiga cristã e missionária começou a conversar comigo e, pouco a pouco, fui me abrindo pra ela. Nessa situação, ela começou a me discipular. Conversávamos uma vez por semana, ela separava horas pra ouvir meus lamentos, porém principalmente para falar da palavra de Deus e me confrontar frente aos meus pecados. Ela passou meses me discipulando e parecia que eu não estava entendendo nada. Ela falava, eu dizia que estava entendendo, mas minhas escolhas, meu sentimento de autocomiseração e meus posicionamentos de controle mostravam que eu não entendia. Vários meses depois, no entanto, eu entendi que o evangelho não era a respeito de mim ou do meu sofrimento, o evangelho é a respeito de Cristo e deve ser vivido para Ele e por causa dEle.

A amizade com essa pessoa foi se fortalecendo, e em todos os momentos Deus a usava e a capacitava, pois ela podia até falar, mas a transformação só vem pelo Espírito Santo! Só Ele pode moldar nosso coração.

Dizer que meu namorado terminou o relacionamento por amor pode parecer contraditório ou mesmo loucura. No entanto, loucura é querermos ser felizes e completas com aquilo que a nossa própria vontade oferece para nós. O nosso coração é enganoso, somos pecadores e não podemos esquecer disso! Meu coração sentia segurança em estar com meu namorado, especialmente após fazermos sexo. Parecíamos mais íntimos e ligados emocionalmente. Porém, o verdadeiro amor não nos oferece uma escolha entre satisfação e sacrifício, mas sim a satisfação mútua por meio do sacrifício mútuo.

A situação em que vivíamos mostrava claramente a motivação do nosso coração, que era priorizar a satisfação das nossas próprias vontades e não a vontade de Deus em nossa vida. A vontade de Deus para todos nós não é que não façamos sexo! A vontade dEle é que tudo o que a gente faça, a gente possa fazer para a honra e glória dEle, entendendo que amor é compromisso baseado no sacrifício de Cristo e na aliança dEle conosco e nossa um com o outro. Assim, o sexo que honra e glorifica a Deus é somente aquele que está protegido por um compromisso de casamento!

Eu era cristã e dizia que queria ser parecida com Cristo, porém não sabia ao certo quem era esse Cristo com quem eu queria parecer. Se eu soubesse verdadeiramente, não teria escolhido caminhos que satisfaziam unicamente a minha vontade, a minha carência, o meu ego. Ao contrário de mim, na cruz, Cristo escolheu não agradar a si mesmo. Cristo não se apegou a sua superioridade, desceu e esvaziou-se de sua glória e nos serviu a ponto de morrer por nós.

Se entendemos que a vontade de Deus para a nossa vida é sempre melhor, que o verdadeiro amor é aquele que Cristo demonstrou ao ser crucificado em nosso lugar, e que o desejo dEle é que desfrutemos desse amor para a glória dEle. Chegamos à conclusão de que Cristo derramou graça ao permitir que nos separássemos. Vivíamos a nossa vontade ao fazer sexo mesmo sabendo que não era a vontade de Deus para nós. Dizíamos amar um ao outro porém éramos incapazes de colocarmos-nos na cruz, abdicando dos nossos desejos carnais, a fim de que apresentássemo-nos puros e sem mácula diante do Senhor. A verdadeira prova de amor é quando um homem é capaz de colocar a nossa santidade antes da satisfação pessoal dele, no intuito de dar glória ao amor sacrifical que Cristo demonstrou na cruz. Nada do que você não abriu mão será de fato seu!

Sou grata a Deus pelo término, pois mesmo pecando contra Ele, Ele quis nos amar de novo, abrir nossos olhos e nos voltar para a vontade Dele.  

Durante esse tempo, aprendi que se relacionamentos não forem vividos para agradar primeiramente a Cristo, é melhor que não sejam vividos. Aprendi que sou pecadora e que a todo momento preciso da ajuda de Deus para me vigiar sempre que eu quisesse assumir o controle das situações. A decisão se voltaríamos ou não, se nos casaríamos ou não, passou a não ser tão importante para mim.

A questão era se isso seria para Cristo ou não, porque se não fosse, apesar de amá-lo e ele me amar, eu não queria. Isso parecia loucura para quem estava a minha volta, eles diziam: “ como você vai perder a oportunidade de ser feliz de novo com ‘ o amor da sua vida’ ? Deus só quer o seu bem!”. Porém, a única coisa que eu não abria mão era do meu relacionamento com Cristo.

Sim Deus quer o meu bem, sim Deus me ama, mas isso não significa que Ele quer que eu viva a minha vontade, pelo contrário, Ele quer que vivamos a vontade dEle, por meio dEle e para Ele. Ele deseja de nós o entendimento de que o verdadeiro amor só pode ser vivido ao compreendermos que “ Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).

 

Ana Clara Mattos*,

*(Nome fictício para preservação da identidade da autora)