Tenho certeza que você guarda suas roupas em armários diferentes segundo a peça de roupa: tem o armário onde você pendura os vestidos, blusas e calças; o armário para os sapatos, o armário com gavetas para roupa íntima e outras peças. Em nossa vida, também temos diversos “armários”: o armário do entretenimento, o dos estudos, o dos amigos, o dos sonhos, etc.. No entanto, há um armário obscuro, que só você e Deus sabem: aquele que reúne e que mantém escondido todos os desejos pecaminosos. Exemplo? Talvez você nunca tenha desobedecido os seus pais (o que eu duvido), mas, em seu coração, muitas vezes os obedeceu apenas para agradá-los ou para ganhar algo em troca e não por uma obediência sincera. Talvez você nunca tenha tirado notas baixas na escola (ou faculdade), no entanto a verdadeira motivação não tenha sido dar o seu melhor, mas provar para a sua turma (família e amigos) que você é a “boa”. Talvez você nunca tenha deixado de ler a Bíblia e obedece-a à risca, mas a sua motivação está em mostrar para os outros como você é madura e “santa” e não alguém que reconhece a necessidade de Deus e Sua Palavra. Talvez você nunca tenha ficado com alguém, porém seu coração transborda sonhos sexuais com rapazes. Enfim, há um armário em nossa vida que esconde os verdadeiros desejos de nosso coração que não queremos assumir nem para nós, nem para ninguém. Por quê? Porque não queremos mudar. E por que não queremos mudar? Porque mudar é difícil e doloroso. No entanto, Deus, em Sua Palavra, convida-nos a sair desse armário obscuro. Vamos ver?

“Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. 1 João 1:5-10

O início do verso cinco é essencial para a construção do nosso entendimento sobre o tema tratado neste artigo: a mensagem que o autor descreve não é uma mensagem dita por ele mesmo, mas pelo próprio Deus. E o que Ele diz sobre si mesmo? Que Ele é luz e nele não há treva alguma.

Segundo Hernandes Dias Lopes [1], a afirmação “Deus é luz” tem, basicamente, dois significados: Ele se revelou e Ele é santo. Deus se revelou a nós na criação, nas Escrituras e em Jesus para que os homens O vejam e O conheçam. E, ao conhecê-Lo, percebe-se que Ele é santo, puro, sem pecado. O verso cinco completa ainda mais essa expressão quando diz “que nele não há treva alguma”. Ou seja, Deus não tem um armário secreto onde Ele esconde seus pecados. Ele quer se mostrar a todos a fim de que todos o contemplem e espelhem em Sua santidade e intolerância ao pecado.

Em contrapartida, nós não somos luz. Segundo o trecho, existe a possibilidade de muitos de nós estarmos dizendo com a boca que temos comunhão com Deus, mas com nossa conduta permanecendo nas trevas, isto é, na prática de pecado (v.6).

Mas o texto não para por aí, ele também adverte contra essa conduta.

Assim como nós, na época em que esta carta foi escrita pelo apóstolo João haviam falsos mestres, no caso dele recém-chegados na Ásia Menor, que pregavam a heresia de que era possível ter uma vida desconectada de Deus, ou seja, que podiam ter comunhão com Deus e, ao mesmo tempo, viver o que quisessem viver [2]. Mas João, sabendo disso, refuta-os dizendo que quem diz ter comunhão com Deus mas não vive o que a Palavra de Deus ensina está mentindo para os outros (v.6), para si (v.8) e [tentando mentir] para Deus (v.10).

Como cristãs, nosso dever não é viver o que queremos viver, mas é viver o que Deus quer para nós. Não uma vida dupla, mas uma vida coerente. Não manter e alimentar as atitudes escondidas em nosso armário secreto, mas assumir os erros e buscar corrigi-los. Nosso dever é andar na luz como Deus é e está na luz. Sabendo disso, a grande questão é: como podemos andar na luz? E a resposta é: saindo do armário!

Quando digo “sair do armário” quero diz: Confessar os erros ao Senhor, como o verso 9 nos ensina.

Confessar ao Senhor exige atitudes, como: (1) ser sincera consigo mesma, ou seja, compreender existe um armário secreto que precisa ser limpo organizado; (2) assumir detalhadamente tudo aquilo de errado que está escondido em seu armário; (3) confessar os erros ao Senhor; e (4), buscar tais erros segundo a Palavra de Deus! E sabe qual é o grande presente que Deus nos dá por fazer isso? Perdão! Deus é fiel e justo para nos perdoar e purificar de todas as atitudes mais podres e escondidas dentro de nosso armário.

Permita-me lembra-lhe de um personagem. Davi. Ele amou e cultivou o pecado em seu armário secreto. Esse amor cresceu a tal ponto de ele adulterar e ainda planejar a melhor forma de esconder seu erro das pessoas a sua volta – após saber que Bete-Seba estava grávida, Davi armou uma cilada para que Urias, marido dela, morresse, e isso aconteceu [quer saber mais sobre esse episódio da vida de Davi? Então leia 2Sm 11 e 12]. No entanto, Deus usou o profeta Natã para alertá-lo sobre o pecado no seu armário. Davi reconheceu seu erro e confessou-o ao Senhor. O Salmo 51 é uma canção de lamento que Davi fez a Deus por causa de seu pecado. Davi foi chamado de “um homem segundo o coração de Deus” (cf. 1Sm 13.14, At 13.22) não só porque fez grandes coisas, mas porque tinha consciência da importância de não permanecer preso ao seu armário.

Diante disso, querida leitora, qual tem sido o seu posicionamento diante do pecado? Você tem tratado o pecado como uma ação a ser curtida e guardada em seu armário secreto ou você tem o visto como uma atitude que desagrada a Deus e, por isso, tem buscado corrigi-la? Quais tem sido seus pecados de estimação? Mentira? Egoísmo? Orgulho? Vaidade? Medo? Ansiedade? Controle? Pornografia? Masturbação? Relacionamentos sem compromisso (como o “ficar”)? Insatisfação? Incredulidade?

Lembre-se: se você diz que tem comunhão com Deus, mas em seu armário há várias atitudes que demonstram o contrário, então você está mentindo para os outros, para si e [tentando mentir] para Deus. No entanto, se você quer andar na luz por que Deus é e está na luz, então reconheça e confesse seu pecado ao Senhor. Deus é fiel e justo para lhe perdoar, não importa qual seja o seu pecado! Em outras palavras: saia de seu armário pessoal e pecaminoso!

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno“.
Salmos 139:23,24

“Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia. Como é feliz o homem constante no temor do Senhor! Mas quem endurece o coração cairá na desgraça”. Provérbios 28:13,14


[1] LOPES, Hernandes Dias. 1, 2, 3João: Como ter garantia da Salvação. São Paulo: Hagnos, 2010. p. 57-59.

[3] Idem, p. 60.