“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” Marcos 12:29-31

Esses versículos trazem em si um verdade muito simples: o amor a Deus é refletido no amor ao próximo. Ambos andam juntos. E isto não é novidade do Novo Testamento. Por toda a Escritura vemos Deus encorajando o povo a servir o necessitado – o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro. O povo de Israel é fortemente repreendido por falhar em amar ao próximo desta maneira.

Habitualmente, definimos ação social como programas e ajudas às pessoas e comunidades necessitadas, no entanto, por definição, a ação social é o que acontece quando um indivíduo estabelece uma comunicação com um outro (Max Weber). Fazer ação social seria, então, estabelecer comunicação com outros indivíduos, o que pode ocorrer de muitas maneiras, sendo uma delas o serviço aos necessitados.

Evangelizar é expor o plano redentor de Jesus Cristo para outra pessoa – quem somos (Romanos 3:23), as consequências do pecado (Romanos 6:23), o ato redentor de Jesus Cristo (Romanos 5:8), a necessidade da confissão de pecados (Romanos 10:9), e a certeza da Salvação (Romanos 5:1).

Assim, o evangelismo e a ação social andam de mãos dadas: uma comunica em palavras o plano redentor de Deus, a outra comunica em pessoa. Com estas definições em mente, vamos olhar para a Palavra de Deus e entender melhor como estes dois conceitos caminham juntos.

Exemplo Bíblico – O Bom Samaritano (Lucas 10.30-35)

Você já deve ter lido esta passagem, se não, lhe encorajo a ler. Vejamos o que o samaritano sentiu e fez: ele viu um homem caído ao chão, todo machucado e teve misericórdia dele (v.33), enfaixou suas feridas, derramou sobre elas vinho e óleo, colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele (v.34); pagando todas as despesas (v.35).  

Podemos aprender muito com o bom samaritano: primeiramente, ele teve misericórdia, sentiu compaixão, o que produziu uma ação – vendo a necessidade de um homem, agiu e cuidou bem dele. O bom samaritano esteve disposto a ajudar sem pensar se receberia algo em troca. 

O Evangelho todo, para todo homem

Precisamos enxergar o homem como um todo. Nós, seres humanos, temos necessidades físicas, fisiológicas, emocionais e espirituais. Você sabe disso, afinal, você se conhece e, na medida do possível, busca suprir todas essas suas necessidades. Mas quando olhamos para Marcos 12.31, onde Jesus responde a um escriba qual é o principal de todos os mandamentos, Ele diz: “Amarás o Senhor, teu Deus de todos o teu coração, alma, entendimento e forças. E o segundo é este: amarás o teu próximo como a ti mesmo.” 

Compreendemos que todos nós somos pecadores (Romanos 3.23), que sem Jesus estamos mortos em nossos delitos e pecados (Efésios 2.1). Jesus sabe que o homem precisa de um Redentor: ELE! Esta é a primeira mensagem que devemos comunicar. 

Entretanto precisamos ser sensíveis as necessidades do nosso próximo. O maior desejo de Jesus para a humanidade é resgatar almas perdidas, no entanto, isso não exclui as outras áreas do indivíduo. Ele quer restaurar toda uma vida, uma vida que sente fome, que fica enferma, que sente frio, uma vida que precisa de higienização pessoal, que precisa beber água potável. Este é o ideal de Deus: que o nosso amor ao próximo se dê em palavras e em ações.

Se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados de roupa e passando privação do alimento de cada dia, e qualquer dentre vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos e comei até satisfazer-vos”, porém sem lhe dar alguma ajuda concreta, de que adianta isso? ” Tiago 2.15-16

Foi Ele quem nos deu vida e saúde, e cuidar disso é nossa responsabilidade. Quando auxiliamos aos outros, estamos cumprindo o mandamento do Senhor (Marcos 12.31).

Porque tive com fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. ” Mateus 25. 35-36

Imago Dei

Para entender este termo usarei as palavras de Timothy Keller (1):

O conceito integral de imago dei, como expressado em latim, a “imagem de Deus”, é a noção de que todos os seres humanos têm dentro de si algo injetado por Deus. Isso não significa que tenham grande comunhão com Deus, mas que têm a capacidade de se relacionar com ele. E isso dá singularidade, valor e dignidade ao ser humano. Como nação, não podemos jamais nos esquecer disso: não existe gradação na imagem de Deus [um tem mais valor que o outro). Cada pessoa, desde a branca como marfim à negra como ébano, é importante ao teclado musical de Deus, precisamente porque cada uma foi criada à imagem d’Ele.”(p.)

Deus se importa com o homem na sua integralidade, e você deve se importar também. Não podemos simplesmente querer “ajeitar” a vida espiritual de uma pessoa e dizer que você fez a sua parte. Você fez parte da sua parte. Ao perceber a necessidade de alguém, é seu dever oferecer auxílio. E não é uma tarefa tão simples assim, pois implica se colocar no lugar do outro e nós só conseguimos fazer isso se estamos juntinhos com o Espírito Santo.

Timothy Keller, em seu livro Justiça Generosa – A graça de Deus e a justiça social, fala sobre essas questões de como nós cristãos temos o papel de ajudar o homem na sua integralidade. Ele traz um simples exemplo de como o evangelho abrange uma vida inteira ao contar de uma mulher que se converteu, mas tinha muitas dívidas, pois não era sábia em suas finanças. E então, o que fazemos? Se sua resposta for “Nada, pois já se falou de Jesus para ela”, sua resposta está errada. O seu papel é auxiliá-la, dentro de suas capacidades, no processo de pôr em ordem sua vida financeira e depois, até mesmo, orientá-la a fazer algum curso profissionalizante e conseguir um trabalho mais bem remunerado.

“Quem não se preocupa com o pobre mostra que, na melhor das hipóteses, não entendeu a graça recebida; na pior delas, não descobriu ainda a misericordiosa graça salvadora de Deus. A graça deve nos fazer justos.” (p.105)

Não tem como uma pessoa se dizer filha de Deus e não demonstrar isso para com seus próximos. Quem entendeu a misericordiosa ação de Jesus em sua vida, desejará espalhar esta misericórdia e ajudar outros a retomarem sua integridade de ser humano.

A Ação Social na Prática

Hoje em dia há diversos tipos de programas de ações sociais. Já tive a oportunidade e o privilégio de trabalhar com os moradores de rua em Campinas, em São Paulo, levando janta para eles e aproveitando a oportunidade como porta de entrada para compartilharmos do evangelho de Jesus. Na África, em Moçambique, eu e meu marido ensinamos as crianças a escovar os dentes para assim manter uma saúde bucal saudável, e dei palestras de doenças que são endêmicas no país. Essas são duas entre muitas outras coisas que já fizemos em nosso ministério com o objetivo de compartilhar de Jesus, o Cristo. 

E para terminar deixo este pequeno trecho para que você possa ser confrontada sobre como você tem transparecido Jesus, visto a necessidade de seu próximo. Assim como o bom samaritano, você tem AGIDO?

“O espírito cristão nos levará a ser solidários com o próximo quando virmos que ele está passando necessidade […] nosso amor por ele deveria ser tanto que nos afligiríamos com ele em sua aflição.” Cristo viveu literalmente em nossa pele e participou de nossas aflições. Quem só ajuda o próximo quando este chegou à indigência, mostra que o amor de Cristo ainda não o transformou na pessoa solidária que o evangelho deveria produzir. Outras pessoas se desculpam dizendo “não ter nada sobrando” e que mal podem suprir as próprias necessidades. Mas uma das lições mais importantes da parábola do bom samaritano é que o amor verdadeiro envolve risco e sacrifício. Jonathan Edwards responde que, quando dizemos: “não posso ajudar”, isso normalmente significa: “não posso ajudar ninguém sem me prejudicar, sem atrapalhar meu estilo de vida.

Se as dificuldades e necessidades do próximo são muito maiores que as nossas e percebemos que ele não tem saída, temos de estar dispostos a sofrer com ele e levar parte de seu fardo em nossos ombros. De outro modo, como cumpriremos a ordem de carregar o fardo uns dos outros? Se aliviamos o fardo do próximo apenas quando isso não prejudica, então como carregaremos o fardo do próximo se não queremos carregar fardo nenhum?” (p. 85)

“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” Tiago 4.17

 

Missionária Wanderly R. Lima, 21 anos, casada com Adriano, estudante de Enfermagem, juntos são missionários da JOCUM e moram em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde trabalham com os povos indígenas guarani-kaiowá.


(1) Timothy Keller. Justiça Generosa – A graça de Deus e a justiça social. Edições Vida Nova.