TRAZENDO À MEMÓRIA O QUE DÁ ESPERANÇA

Meu nome é Izilda Maria Mendes Berti e sou casada com Otoniel Wey Berti há trinta e oito anos e temos quatro filhos: Marcelo, Mariana, Marília e Marina. Ele formou-se em Medicina Veterinária e trabalhou em sua profissão por vários anos. Eu também cursei a Universidade, escolhendo Letras para minha formação acadêmica.

Otoniel foi criado em lar cristão, mas foi enquanto aluno da Universidade que decidiu seguir a Cristo com mais firmeza. Nesta época eu também me converti a Cristo. E foi assim que nos encontramos, ele terminando seu curso, e acabamos frequentando a mesma igreja e querendo servir a Deus. Eu amava missões, mas não tinha a coragem de sair do lugar. Otoniel já era mais destemido! Casamento perfeito!

Então estabelecemos que, em nosso casamento, Cristo seria o fundamento sólido da nossa união, entendendo o sacrifício de Jesus que morreu por nós quando ainda éramos pecadores (Romanos 5.8). Assim que os filhos foram chegando, este compromisso se fortaleceu, pois nos vimos com grandes responsabilidades e, por vezes, sem as ferramentas necessárias para esta instrução na Palavra de Deus.

Assim, num passo de fé, Otoniel deixou sua profissão para estudar Teologia, o que aconteceu no Seminário Bíblico Palavra da Vida, onde fez o curso de Licenciatura com ênfase em Missões durante três anos. O plano inicial era voltarmos a trabalhar em nossas profissões e servir a Deus em igrejas locais. Mas Deus tinha outros planos! Aos poucos fomos entendendo a urgência na pregação do Evangelho e Deus nos conquistou com Seu grande amor para este ministério, uma vez que a transformação que ocorreu em nossas vidas, pela salvação somente em Cristo Jesus, precisava ser anunciada! (“Se, com tua boca, confessares a Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” Romanos 10.9).

Conhecemos então a MEVA, Missão Evangélica da Amazônia, que presta assistência aos povos indígenas no norte da Amazônia há mais de cinqüenta anos. Ficamos impressionados com o ministério que a MEVA exercia naquele lugar através de voluntários que haviam deixado uma vida cheia de oportunidades para servirem ao Senhor numa terra tão distante, mesmo dentro do Brasil. Com sua base localizada na cidade de Boa Vista, no estado de Roraima, às margens do Rio Branco, um lugar fascinante! Ouvimos tantas histórias de fé e perseverança, dos irmãos que há muitos anos ainda trabalhavam ali que nos motivaram com seus testemunhos.

Então, o que levou nossa família a uma mudança tão grande de direção? Foi o entendimento do versículo de Mateus 9.36 que diz: “ Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor”. Jesus andava por toda parte fazendo o bem!  Seu olhar era de compaixão e misericórdia!

Havia uma grande necessidade naquela missão de pessoas dispostas para aquele ministério tão específico.  Era tudo tão longe, o custo de vida alto porque tudo que o estado precisava chegava por meio dos aviões que faziam apenas um vôo por semana no ano de 1990. Ao tomarmos esta decisão ouvimos de alguns amigos: “É isto que vocês querem para suas vidas?”

E assim nossa família trabalhou nesta missão por vinte e três anos, envolvida com o ministério de apoio na base, de ensino bíblico e discipulado em aldeias e em igrejas na cidade, aulas de música, etc.  Nossos filhos cresceram neste lugar.

Para que vocês possam entender, as equipes de missionários se dividem em três lugares diferentes de atuação: a sede, onde funcionam os escritórios para assuntos financeiros e burocráticos; a hospedagem, que é o espaço com vários alojamentos para receber os missionários em trânsito; e as aldeias, onde ficam localizados os chamados ‘postos’ onde os missionários vivem com suas famílias no meio da floresta, onde só era possível chegar por meio de aviões. Toda esta engrenagem funciona em favor da evangelização destes povos indígenas.

Otoniel foi o responsável por doze anos pelas compras dos missionários que depois de armazenadas eram levadas para o hangar onde o piloto da Missão Asas de Socorro, fazia o transporte delas para as aldeias. Também atuou na liderança da Missão.

 Sempre pensando em nossos filhos, fui me adaptando para servir, mas sempre de olho neles! Encontrei na hospedagem a oportunidade perfeita porque era realizada no nosso quintal! Então, por alguns anos, fui responsável  pela organização da chegada dos missionários das aldeias. Muitos vinham à cidade em busca de descanso, ou tratamentos de saúde, e para o nascimento de filhos.  Um tempo especial onde aproveitavam para contar suas vitórias e desafios. Os alojamentos eram cuidadosamente arrumados, compras para as primeiras refeições eram providenciadas. Mas também os recebíamos em nossa casa para as refeições, porque ouvir seus relatos logo que chegavam à cidade nos enchia de alegria! Presenciamos muitas vezes o cansaço, doenças, e o desânimo pelo ministério ser desenvolvido sob de uma forte pressão.

Como moramos na sede por muito tempo, vi muitos casais recém-casados chegarem à missão, tendo que se adaptar ao forte calor, às viagens difíceis por terra e que constituíram famílias ali. Vi muitas crianças nascerem!!!!! Que alegria! Presenciei algumas mortes de pessoas tão queridas, e quando chegavam  notícias das aldeias da morte de indígenas por causa de brigas, bebedeiras,  doenças,  isto nos entristecia muito. Passamos por algumas dificuldades de saúde, onde a boa mão do Senhor sempre nos socorreu. Muitas vezes através das orações das nossas famílias, igreja e amigos que nos sustentavam!

Mas nada se comparava com a alegria dos encontros das crianças da cidade com as que moravam nas aldeias! Os vôos eram esperados com grande entusiasmo! Sempre era motivo para festas e guloseimas! O “quintal” da missão acabou sendo um cantinho especial com recordações de várias gerações dos filhos de missionários que ali viveram. Muitas histórias e peraltices, algumas só reveladas agora depois das crianças grandes!

Com muita gratidão, vimos missionários que dedicaram suas vidas na tradução da Bíblia e que puderam participar dos cultos especiais da sua entrega muitos anos depois. A Bíblia completa na língua uai-uai foi a primeira no Brasil, seguida pelo Novo Testamento ianomâmi para a etnia Sanumá. Já existia o Novo Testamento na língua Macuxi. O trabalho de tradução nunca parou.

Hoje já existem muitos grupos que foram alcançados com a pregação do Evangelho: uaiuais, ianomâmis, macuxis, ingaricós, uapixanas e iecuanas. Em várias aldeias macuxis, uaiuais, ianaomâmis, uapixanas, já existem igrejas formadas e lideradas por pastores indígenas que ainda recebem assistência e treinamentos na área espiritual e a MEVA ainda hoje oferece aos missionários apoio logístico e consultoria antropológica e lingüística.

As oportunidades de servir a Cristo neste trabalho são incontáveis e nada se compara à alegria de obedecer ao mandamento de Jesus de fazer discípulos até os confins da terra (Mateus 28.18-20). E a necessidade continua. Jesus nos alerta dizendo: “A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para sua seara (Mateus 9.37,38).  Quem sabe vocês não possam continuar esta história, não só orando pelos os que estão servindo longe, mas aceitando o desafio de ir. E mais… tenho certeza que oportunidade de servir a Deus por meio da hospitalidade você tem, então faça isso 😊

Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns acolheram anjos. Hebreus 13.2

Sejam mutuamente hospitaleiros, sem reclamação. 1 Pedro 4.9

Compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade. Romanos 12.13

 

Izilda Maria Mendes Berti, mãe das nossas conselheiras, Marina e Marília Berti ❤