Sexo é uma daqueles temas que aparece sempre  em reunião de jovens, conferências, blogs… Não importa quantas vezes falemos sobre isso, é sempre um assunto polêmico, interessante, de encher auditório. Há vinte maneiras diferentes de falar sobre isso, mas por que razão estamos sempre falando sobre isso? A resposta está em Gênesis 1.27-28: Deus nos fez seres sexuais. Veja só:

“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” 

Já ouvi adolescentes responderem em conversas sobre sexo que, se Deus me fez um ser sexual, ele não pode exigir demais de mim porque “é a minha natureza”. Mas o contexto nos dá duas boas respostas a essa desculpa:

  1. Fomos feitos à imagem e semelhança de Deus – isso significa que, diferente dos animais criados nos versículos anteriores, não estamos presos aos nossos instintos. Temos capacidade de escolher, decidir, preferir. Essa habilidade não foi destruída na Queda. Ainda que o pecado torne nossas decisões mais difíceis, ele não nos impede de tomar decisões corretas, principalmente se somos cristãos.
  2. Há um propósito duplo na ordem – encher a terra e dominá-la. Veja, a ordem de encher a terra (o que só acontece por meio de sexo entre um homem e uma mulher) está atrelada ao cuidado da criação. O homem precisava procriar para que mais pessoas pudessem cuidar da criação de Deus. Isso não quer dizer que o propósito do sexo é unicamente a procriação pró-criação, mas que este propósito não pode ser esquecido na busca do sexo. Fazer isso é como usar uma colher para cavar um poço: pode até funcionar, mas não é a maneira ideal de usá-la e causará danos tanto na colher como naquele que a usa.

O sexo tem propósitos muito maiores do que o mundo nos faz pensar. Como cristãs, sabemos que Deus criou o casamento como o lugar apropriado para o sexo e a procriação. Sabemos também que há consequências para ambos fora do casamento. Aqui no blog já falamos muitas vezes sobre isso.

Mas há outra questão que tem me incomodado em relação ao sexo – a maneira como evitamos a procriação. Hoje quero te ajudar a entender o seu corpo e como os métodos contraceptivos funcionam.

Se você é solteira ou noiva, estas informações te ajudarão a cuidar da sua saúde e te preparar para uma futura união conjugal. Se você já é casada, essas informações podem servir para uma maior clareza na escolha do método contraceptivo e na busca pela gravidez tão desejada.

O CORPO FEMININO

O sistema reprodutor feminino é composto de órgãos internos e externos. Os órgãos internos são: os ovários (que produz hormônio e óvulos, e onde estes são guardados e amadurecem), as trompas de Falópio (que conectam os ovários à parte superior do útero e, como um túnel para os óvulos viajarem até o útero, são o lugar onde a concepção – ou fertilização do óvulo – geralmente ocorre), o útero (onde o bebê se desenvolve), e a vagina (ou o canal vaginal) que conecta a cérvix (a parte baixa do útero) à abertura vaginal.

Os órgãos externos são: os lábios maiores e menores (que protegem as aberturas vaginal e uretral), o clítoris (que reage a estímulo e pode ficar ereto), e a glândula de Bartholin (que produz muco lubrificante durante o sexo). Os seios contribuem tanto para o sexo (estimulo sexual) quanto para a procriação (amamentação do bebê), mas não são considerados partes do sistema reprodutor.

Quem controla a reprodução feminina é um grupo de quatro hormônios: estrogênio, progesterona, FSH (folículo estimulante) e LH (luteinizante). 

Por volta dos 9-12 anos, muitas de nós tiveram “a conversa” com a nossa mãe (ou avó ou tia) que foi mais ou menos assim:

“Todo mês o corpo da mulher madura se prepara para ter um nenê, se o bebê não chega, o nosso corpo sinaliza com um sangramento chamado menstruação, e esse processo acontece todo mês. Você vai precisar usar absorventes durante uma semana e pode ser que sinta dores, chamadas cólicas. A gente pode ir junto comprar absorventes e é bom ter sempre um remédio para dor com você.” 

Talvez sua mãe tenha aproveitado a primeira menstruação para levar você à ginecologista, talvez você tenha 30 anos e nunca tenha ido. De qualquer forma, há muito mais que você precisa saber do que o que está neste parágrafo. 

O ciclo funciona em três fases: 

FASE FOLICULAR

  • Dois hormônios são liberados pelo cérebro, FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante), e viajam pelo sangue até os ovários.
  • Os hormônios estimulam entre 15 a 20 folículos existentes nos ovários da mulher. Cada folículo protege um óvulo (como uma casca de ovo). Isso faz com que alguns óvulos comecem a amadurecer. Na maioria dos casos, apenas um atinge uma maturação completa. 
  • A maturação do óvulo e o aumento do FSH e LH levam o hormônio estrogênio a aumentar também.
  • Com o aumento do estrogênio, o FSH para de ser produzido, o que limita a quantidade de folículos que amadurecem. No final, apenas um folículo domina, o que faz com que os outros folículos parem de amadurecer e morram. 
  • O folículo dominante continua a produzir estrogênio.
  • A produção do muco cervical começa estimulada pelo estrogênio. Este muco permite a passagem dos espermatozóides para dentro do útero e os mantém vivos por até cinco dias. Se não houver muco, os espermatozóides não vivem mais do que algumas horas. Quanto mais viscoso e líquido, mais fértil, quanto mais seco e cremoso, menos chance dos espermatozóides atravessarem o muco. 

FASE OVULATÓRIA

  • O aumento do estrogênio aumenta a produção do hormônio luteinizante no cérebro, e o LH age pra empurrar o óvulo pra fora do ovário. Algumas mulheres sentem uma dorzinha no lado em que o ovário ovula.
  • Sem o folículo, o estrogênio pára de aumentar.
  • O óvulo é transportado em direção ao útero pelas fimbrias (como uns dedinhos) das trompas. 
  • A cérvix aumenta a produção do muco cervical e sua viscosidade, que é parecida com a de uma clara de ovo. Se houver relação sexual, o muco captura e nutre os espermatozóides e os ajuda a chegar até o óvulo. 
  • O óvulo vive fora do folículo uma média de 24 horas. Por isso a fase ovulatória nunca leva mais de 48 horas.

FASE LUTEAL

  • Ao passar pela parede do ovário, o óvulo deixa o folículo para trás e este se desenvolve em uma nova estrutura chamada “corpo lúteo”. O corpo lúteo leva de 10 a 16 dias para se desintegrar.
  • Ao desintegrar, o corpo lúteo secreta o hormônio progesterona, que começa a preparar o útero para a implantação do óvulo fertilizado. O endométrio (a parede do útero) começa a engrossar. 
  • A presença da progesterona no corpo aumenta a temperatura basal da mulher ligeiramente. Se uma mulher medir sua temperatura toda manhã assim que acordar, perceberá que durante a fase luteal sua temperatura sobre alguns decimais ou até um grau. Ela também impede que outros óvulos amadureçam e para a produção do muco cervical.
  • Se somarmos o tempo em que o muco está fértil (em que o espermatozóide vive) ao tempo de ovulação (em que o óvulo está vivo), uma mulher tem um máximo de 7 dias férteis. Ou seja, você pode fazer sexo na quarta, ovular dois dias depois e a fecundação acontece enquanto você faz uma caminhada no parque sexta feira, ao invés de na noite em que teve relações. 
  • Se houver sexo e um espermatozóide encontrar o óvulo, ocorre a concepção. O óvulo fecundado (embrião) viaja pela trompa de Falópio até o útero para ser implantado. Esse processo é chamado nidação. Às vezes, mas nem sempre, pode haver um pequeno sangramento nesta hora, que dura no máximo 3 dias e não produz dor, além disso sua cor é rosada ou marrom, não vermelho vivo.
  • Se houver sexo e não houver concepção ou se não houver sexo, o óvulo chega no útero, mas ao invés de ser implantado, o endométrio começa a descamar e é eliminado por meio do canal vaginal – o que nós chamamos de menstruação.

O tempo que demora para uma mulher alcançar o limite do estrogênio necessário para a ovulação varia de mulher pra mulher, mas o tempo de desintegração do corpo lúteo não varia. Então se uma mulher tem 3 ciclos de dias diferentes, ela ainda assim mantém sua “fase luteal” igual. 

Po exemplo: se uma mulher tem fase luteal de 14 dias, se ela tiver um ciclo de 40, um de 28 e um de 34 dias, terá tido, respectivamente, 25, 13 e 19 dias de fase folicular, um de fase ovulatória e 14 dias de fase luteal. A única maneira de saber a duração da sua fase luteal sem testes de laboratório é por meio da medição da temperatura basal. Se você medir sua temperatura todo dia, durante pelo menos 3 meses, assim que acordar, consegue confirmar qual a média da sua fase luteal. 

Se uma mulher, ao medir sua temperatura diariamente, perceber que ela permanece alta por um tempo mais longo do que sua fase luteal (no caso da mulher acima, pelo menos 16 dias) ela está grávida e pode fazer um teste para comprovar. A recomendação é esperar pelo menos 18 dias. Se houver sangramento após este período, é o que chamamos de aborto espontâneo em gravidez recente. Uma mulher que não mede sua temperatura pode nem perceber que ele aconteceu, mas achar que foi apenas um ciclo atrasado. Cerca de 1 em 3 gravidezes termina em aborto espontâneo, mas apenas 1 em 5 são reconhecidos, ou seja, a mulher aborta espontaneamente sem saber que estava grávida. 

Considera-se irregular todo ciclo que não tem a mesma duração. Se seu ciclo dura sempre 24, 28, ou 32 dias, por exemplo (qualquer variedade de 22 a 36), seu ciclo é curto ou longo comparado com a média da população, mas regular. Ciclo irregular significa que seus ciclos tem durações diferentes, menos que 22 ou mais que 36 dias. Nesse caso, vá ao ginecologista, pois seus hormônios podem estar meio confusos e você sofrer de alguma síndrome metabólica, como a SOP.

CONTRACEPTIVOS

Agora que entendemos como o ciclo funciona, podemos pensar na contracepção. Há três tipos de contraceptivos: a abstinência, os métodos de barreira e os métodos hormonais. 

A abstinência é usada, de maneira geral, por casais solteiros de maneira prolongada e normalmente por razões religiosas – acreditamos que o sexo é reservado para o casamento e, durante o namoro e noivado, evitamos relações sexuais (1 Co 6.18-20). Mas casais casados que estão evitando a gravidez podem optar pela abstinência durante a semana fértil quando usam métodos como o Billings ou Natural Cycles (métodos que observam os sinais de fertilidade como a presença e viscosidade do muco cervical e a mudança de temperatura basal, dentre outros). Outros preferem métodos de barreira, preferível à ausência de contato sexual (1 Co 7.5). 

Entre os métodos de barreira mais comuns encontramos o diafragma, a camisinha masculina e a feminina. Eles impedem que os espermatozóides entrem no útero ao criar uma barreira entre o esperma e a cérvix.

Talvez os mais usados sejam os métodos hormonais, em especial a pílula. O anticonceptional hormonal (seja pílula, injeção, ou DIU) normalmente contém estrogênio e/ou progesterona sintéticos e age de três maneiras principais: 

  1. ao inibir a flutuação hormonal comum do ciclo da mulher, eles previnem o aumento do FSH, parando ou diminuindo a liberação do óvulo pelo ovário; 
  2. ao engrossar o muco cervical, eles diminuem a possiblidade do esperma passar pela cérvix e encontrar o óvulo; e 
  3. ao manter a parede do útero (o endométrio) fina impedem que o óvulo fecundado seja implantado – sem implantação, o embrião não recebe os nutrientes e sangue necessário para sobreviver e desenvolver. 

O anticoncepcional também pode colaborar para dificultar o trabalho das trompas de Falópio em levar o óvulo ao útero. Além de todas estas questões, se você estiver amamentando, o uso de estrogênio pode diminuir a produção de leite materno. 

O sangramento que ocorre nas semanas em que você não toma anticoncepcional não pode ser considerado menstruação, porque não está relacionado à ovulação. Se você toma anticoncepcional e pára por uma semana, o seu corpo passa por um sangramento devido à ausência dos hormônios (da pílula), que faz com que seu endométrio descame. Como não houve ovulação, o sangramento é mais leve e há menos ou nenhuma dor. 

Ou seja, quando uma mulher decide usar o anticoncepcional, ela decide:

  1. Não ovular. Enquanto você estiver usando hormônios, o seu corpo não vai funcionar do jeito que Deus projetou. Tudo o que foi explicado acima pára de acontecer. A ausência da ovulação por meses pode ser danosa para o organismo a curto ou longo prazo, podendo ter sérios efeitos na procriação no futuro. Muitas mulheres sofrem ao tentar engravidar depois de muitos anos usando anticoncepcional. 
  2. Não perceber as mudanças no seu corpo. Muitos dos problemas da mulher são detectados pela percepção que ela tem das mudanças normais do organismo. Por exemplo, se uma mulher tem ciclos irregulares ou se tem baixa produção de muco cervical ou muito pelo, ao tomar anticoncepcional ele mascara um possível distúrbio metabólico, como a SOP (Síndrome do Ovário Policístico). Sem perceber, a mulher não pode tratar. Se o anticoncepcional impede a ovulação, ele não regula o ciclo de ninguém, mas potencialmente atrasa a descoberta e o tratamento de distúrbios que podem ser tratados mais cedo e evitar possíveis problemas de infertilidade.
  3. Potencialmente abortar. Se acreditamos que a vida começa na concepção, ao impedirmos que a nidação aconteça (o processo em que o óvulo fecundado/embrião se implanta no útero) estamos impedindo que uma vida que já foi formada se desenvolva. Essa foi, provavelmente, a principal razão para que eu escolhesse um método natural ao invés de um método hormonal na prevenção da gravidez.  

Infelizmente este assunto tem se tornado cada vez mais polêmico, porque deixamos de conhecer nosso corpo e aquilo que Deus criou, de modo tão perfeito, para gerar uma nova vida. Não estou aqui defendendo que todo casal casado deve ter todos os filhos possíveis ou nunca evitar uma gravidez. Este não é o assunto deste artigo. Mas é necessário que entendamos como as decisões que tomamos no processo da contracepção afetam o nosso corpo e as vidas que podemos gerar.

Minha oração é que esta leitura seja útil na tomada de decisões de um casal e no seu próprio autoconhecimento. Oro para que o Senhor te ajude a perceber se há pensamentos errados e se há áreas em que você pode crescer no cuidado do corpo maravilhosamente feminino que Deus te deu. Deus te abençoe.