Quando eu era pequena, gostava muito de ouvir a história de amor dos meus avós. Eles se conheceram em uma cidade pequena no estado do Rio de Janeiro. Meu avô, engenheiro recém-formado, mudou-se para trabalhar em uma fábrica e passou a morar em uma pensão.

A dona da pensão tinha uma sobrinha, e meu avô gostava de almoçar na companhia dela. Estendiam o tempo naquele cafezinho… e depois de muitos cafezinhos, meu avô pediu aquela jovem em casamento. Mas, como toda história de amor que vale a pena ser ouvida, houve um problema. Meu avô foi enviado para trabalhar por algum tempo na sede da empresa, que ficava na Inglaterra. Eles noivaram antes de ele ir embora, e seguiram-se meses e meses de noivado à distância. Muitas cartas foram trocadas, afinal, o telefone não era algo tão comum. Minha avó conta que, no início, ela recebia cartas semanalmente e respondia cada uma delas, mas meu avô nunca as recebia. “Será que ela se esqueceu de mim? Não me ama mais?” Triste, ele se perguntava sempre se havia algo errado. E minha vó insistia em responder, mas parecia inútil.

Quando o Sr. José Sartori Filho, meu avô, estava quase desistindo, descobriu que a recepcionista do hotel onde estava hospedado guardava as cartas em nome do Sr. “Filho”, enquanto meu avô perguntava sempre se tinha alguma carta para o Sr. “Sartori”. Lá estava a pilha de meses e meses de respostas da minha avó e todas as suas declarações de amor… Já imaginou que confusão?

Pois é. Hoje quem namora à distância sou eu: ele mora no Piauí, trabalhando como missionário no interior do estado, enquanto eu termino minha faculdade em São Paulo, até que possamos casar – o que está marcado para o ano que vem. Fico pensando em como somos privilegiados por termos acesso a celulares, WhatsApp, Skype, FaceTime e até o “antigo” SMS (que nos ajuda nos momentos em que a internet cai, rsrs). Parece que era para ser tão mais fácil, agora que temos todas essas tecnologias, mas vejo que muitos desafios que meus avós enfrentaram nós também enfrentamos hoje! E além da comunicação, muitas outras coisas, que a princípio pareceriam tranquilas, acabam tornando-se problemas. Por que isso acontece? Ué, independente de estarmos perto ou longe, e de termos wifi ou não, nosso coração continua sendo enganoso (Jr 17:9) e continuamos sendo pecadores (Rm 7:19-20)! E um relacionamento com dois pecadores envolvidos com certeza não será muito parecido com um conto de fadas!

Minha proposta hoje é trazer algumas reflexões sobre o namoro à distância, mas como eu disse, independente de você namorar ou não à distância, com certeza passará por alguns desses desafios, simplesmente por ter o coração corrompido pelo pecado! Vamos então olhar para algumas questões importantes nessa perspectiva?

PENSE BEM, ORE MUITO ANTES DE COMEÇAR E SAIBA EM QUE TIPO DE NAMORO ESTÁ ENTRANDO!

Antes de começar qualquer namoro é preciso pensar e orar sobre a situação. Basear o relacionamento nesse sentimento intenso que faz você ter certeza hoje que ele é “o homem da sua vida” realmente não levará vocês a lugar nenhum! Primeiro, porque não existe um cara específico para você, mas sim princípios estabelecidos por Deus nos quais devemos nos basear para escolher: ter a mesma fé que você (2 Co 6:14), ter a aprovação de seus pais (Ef 6:1) e líderes (Pv 15:22), ser um cara que leva você a ser mais temente a Deus (Ef 5:25-26), etc. Segundo, porque nenhum relacionamento baseado em sentimentos se sustentará por muito tempo (principalmente à distância!), pois o amor não é um sentimento e, sim, uma atitude, uma decisão. Na perspectiva bíblica do casamento, quando acaba o sentimento amoroso, o casamento não se torna uma “farsa” e pode ser desmanchado. Não! É justamente nesse solo difícil de conflitos e decepções com o outro que nasce o amor real, que é expresso em atitudes e decisões amorosas. O pacto sustenta o sentimento, e não o contrário (1 Co 13, Ef 5:21-33). Cristo nos amou quando éramos pecadores, Ele decidiu nos amar (Ef 2.4). Ele não esperou pra ver se seriamos pessoas que se encaixariam em sua lista de exigências, Ele nos amou morrendo em uma cruz.

Assim, se namorar exige um compromisso profundo, namorar à distância demanda uma convicção ainda maior deste compromisso. Isso porque VAI ACONTECER muito de você não sentir mais que ele é “o homem da sua vida”. VAI ACONTECER de ele te decepcionar profundamente e vocês não se encontrarem no dia seguinte para resolver. VAI ACONTECER de você se perguntar por que entrou em um relacionamento tão difícil e sofrido pela saudade. VAI ACONTECER de você sentir muito mais ciúmes do que o normal, porque há pessoas com ele lá enquanto você está longe. VAI ACONTECER de outros meninos interessados se aproximarem de você quando você e seu namorado não estiverem muito bem. E aí? Uma perspectiva romântica e melosa jamais sustentará esse relacionamento. Somente dentro da perspectiva correta de amor podemos estender graça e perdão a cada desapontamento, como o Senhor faz conosco (Mt 18:23-35), conversando em amor e apontando a falha um do outro (1 Ts 5:11). Somente nessa perspectiva podemos entender que precisamos amar primeiro a Deus e buscar nossa satisfação nEle, para só então amar o outro (1 Jo 4:19). Somente nessa perspectiva podemos reconhecer nosso pecado (1 Jo 1:9) de ciúmes e insatisfação, confessando que somos egoístas e que ninguém nos pertence. E somente nela também ganhamos poder para lutar contra as tentações de adultério que virão (1 Co 10:13).

Você e ele tem a mesma perspectiva de amor? De relacionamento? De casamento? E mais importante que isso: vocês dois tem a mesma perspectiva que Deus sobre essas coisas? A Palavra de Deus nos dá ferramentas e conselhos para evitar enrascadas, mas quem é precipitado ignora tudo isso e acaba quebrando a cara à toa (Pv 14:29)!

TENHA UMA PERSPECTIVA SAUDÁVEL DELE E DE VOCÊ MESMA

Muitas meninas passam muito tempo da adolescência alimentando-se emocionalmente do “açúcar” que escorre dos filmes de romance. Na minha adolescência os favoritos eram “O Diário da Princesa”, “Um amor para recordar” e “Diários de uma paixão”, mas, de fato, qualquer comédia romântica ou drama pareciam extremamente atrativos. Eu criava na minha mente um namorado perfeito, com todas as melhores características de cada mocinho e não percebia que, enquanto adoçava meu coração construindo expectativas irreais, envenenava muitas áreas do meu futuro relacionamento, que jamais se pareceria com qualquer um desses filmes. Precisamos entender que príncipes encantados não existem! E que o seu namorado não vai viver em função de você (e nem deveria!).

Se você namora à distância, por exemplo, pode achar muito preocupante passar alguns dias sem ligar e ouvir a voz dele, ou passar um dia inteiro sem ele responder sua mensagem. Mas em que padrão de relacionamento está se baseando? Naquele dos filmes, em que o cara espera ansiosamente a mensagem da menina e está sempre pronto para satisfazer seus anseios emocionais? Aliás, se você já foi salva por Cristo, será que deveria satisfazer seus anseios em um namorado? John Piper disse que “A incredulidade é o falhar em estar satisfeito somente por Deus”. Sabe o que isso significa? Que toda vez que nos sentimos insatisfeitas emocionalmente com nossos namorados é porque estamos, na verdade, falhando em crer que Cristo é o único capaz de satisfazer profundamente os desejos da nossa alma! Não se engane, homem nenhum poderá “preencher” o que falta em sua vida: só Cristo pode fazer isso! Cristo é a plenitude de todas as coisas (Cl 2:9-10) e somente Ele pode nos dar vida plena (Jo 10:10)! Temos que entender que o relacionamento serve não para suprir nossa carência, mas para tornar-nos mais parecidos com Cristo! Esse é o propósito de Deus para o casamento, e, portanto, para o namoro! Portanto, não coloque sua dependência emocional no seu namorado, mas sim no Senhor!

NÃO ENTRE NO NAMORO SEM TER EM VISTA O CASAMENTO

Às vezes vejo meninas entrando em um relacionamento à distância e dizendo “é melhor começar a namorar agora que nos gostamos, porque ele (ou você) vai embora e depois pode ‘esfriar’”. Queridas, que perspectiva pobre de amor! Como já dissemos anteriormente, não adianta iniciar o relacionamento baseando-se em sentimentos – eles passam. Assim, começar porque tem o sentimento agora não “segurará” o relacionamento. Se você quer começar a namorar por medo do sentimento esfriar, alguma coisa no fundamento desse namoro está muito errada! Cuidado!

Outra coisa bem perigosa é entrar no relacionamento quando não se sabe quando pretendem casar. Queridas, em uma perspectiva bíblica, namoro não é um passatempo, mas um compromisso que visa chegar ao casamento de forma pura. Assim, se você deseja agradar a Deus, dificilmente conseguirá evitar relações sexuais por 3 ou 4 anos enquanto espera a idade ou a circunstância propícia para casar. Não se enxerga casando com seu namorado nos próximos 3 anos? Então espere mais para namorar! Não pense que você é forte, porque é quando acreditamos muito nisso que mais estamos propensos a cair (1 Co 10:12)!

Espero que este texto tenha feito você pensar e considerar algumas questões importantes, ajudando nas possíveis decisões e crises que você poderá enfrentar no namoro, especialmente se for à distância! Que Deus te abençoe!