Fui bem cedo despertada para a minha sexualidade, acho que com sete ou oito anos de idade. Não entendia muita coisa, mas as cenas de beijo nas novelas me fascinavam e provocavam uma reação estranha em meu corpo, que era boa. Queria ter a mesma sensação mais vezes e então sugeri às amigas que brincavam comigo que imitássemos os casais das novelas. Dizendo que era brincadeira, elas acabaram cedendo algumas carícias; e eu sempre queria mais. Elas se assustaram e me ameaçaram; então eu recuei. Mas as memórias ficaram e a curiosidade também. Sempre que havia oportunidade de ver cenas mais provocantes na TV, lá estava eu. Folhear uma revista teen em busca de artigos sobre “a primeira vez” era um momento planejado ansiosamente. Sei que isso soa ridículo hoje em dia, quando em um click podemos acessar um universo de vídeos, fotos e textos de conteúdo erótico, sob a ilusão de que ninguém jamais nos descobrirá. Mas eu fui criança e adolescente antes que o computador fosse “pessoal”; e, os smartphones então… nem preciso mencionar.

Aos treze anos eu já recebera informações suficientes para construir o meu mundo das fantasias. E lá eu me escondia com frequência para os meus encontros com meninos ou meninas. Nem preciso dizer que masturbação fazia parte desse pacote. Era nesse mundinho que eu me esquecia das crises com a aparência, da balança e da timidez que me paralisava para qualquer expectativa de relacionamento no mundo real.

Contudo, o senso de culpa sempre me acompanhou, na fantasia e no mundo real. Logo que comecei a ter curiosidade sobre sexo, descobri os livros cristãos que os meus pais compraram a fim de instruir meu irmão mais velho no assunto. Às escondidas, eu li todos. É evidente que não estava curiosa sobre o que Deus disse a respeito do sexo, mas foi exatamente o que encontrei lá: o sexo fora feito para o casamento e é legítimo somente quando acontece entre homem e mulher. Qualquer prática que contrarie esses princípios fundamentais… “pecado”. Assim, não foi muito difícil saber que eu estava burlando as regras quando fantasiava e me masturbava. Mas parar estava fora de cogitação.

Aos quinze anos me converti e a noção que eu já trazia sobre o pecado, parece que foi aumentada em um milhão vezes. E tive minha primeira crise de fé: aquela experiência que tinha sido tão marcante, que eu passara a chamar de “o dia da minha conversão”, era uma mentira? Afinal, se fosse verdadeira, eu teria abandonado “aqueles pecados” tão terríveis. Mas ao pensar sobre Jesus e o convite que Ele me fizera, eu não tinha dúvidas. O que precisava mudar então? A resposta era óbvia: eu precisava de santificação. Entendia esse conceito como uma espécie de ritual de purificação, cujos elementos eram leitura bíblica e oração. Quase a “poção mágica” que afastaria de vez a lascívia que insistentemente me rondava. Você já pode imaginar que não funcionou bem assim. Posso resumir os anos seguintes em infindáveis repetições do ciclo pecado – culpa – confrontação pela Palavra – arrependimento – compromissos de mudança – esfriamento – pecado.

Durante os anos da faculdade, morando só e cheia de novas amizades, fui descobrindo combustíveis mais potentes para me proporcionar prazer. A pornografia foi um deles. A diversidade de conteúdo era fascinante e eu não rejeitava nenhum, mas me interessava especialmente pelos textos eróticos: romances, artigos e dicas de revistas femininas e os contos breves. Gastava horas dos meus dias lendo isso e atualizando meu arquivo de memórias. Não tinha coragem de contar a ninguém o que estava acontecendo. As pessoas pensavam que só os meninos têm esses problemas e como eu, uma moça cristã, bem envolvida na igreja, admitiria que tinha problemas com pornografia e masturbação? Certa vez, uma amiga mais velha e casada me deu abertura para falar. Contei-lhe sobre a culpa que sentia e ela me consolou com a esperança de mudança que o evangelho nos oferece. Mas isso não funcionou. Na minha imaturidade, soava como leviandade, licença para pecar, pecar e depois pedir perdão.

Quando comecei a trabalhar não foi diferente; sempre encontrava uma brecha e fugia para meu mundinho da diversão. Logo comprei meu primeiro PC e aí já não tinha mais volta. O receio da culpa não me impedia mais; o medo de ser flagrada era facilmente vencido e o temor a Deus era sufocado por um desejo incontrolável que não me permitia pensar em outra coisa. No mesmo período, um esforço extra me ajudou a perder peso e pela primeira vez experimentei a sensação de ser assediada. O que facilmente soaria como uma conversa de conquistador barato para uma mulher segura do seu valor pessoal, penetrou o meu coração carente como suave melodia. Me envolvi com um colega de trabalho casado e dei-lhe minha virgindade. Depois de algum tempo, deprimida e com medo do que ainda poderia acontecer, mudei de emprego, de endereço e estava decidida a mudar também de vida. As mudanças interromperam o relacionamento, mas não me trouxeram a vida nova que eu esperava. As memórias eram as mesmas, o desejo tinha aumentado de intensidade e minha válvula de escape voltara para o prazer solitário.

Me envolvi mais na igreja esperando encontrar distração nas tarefas. Não funcionou. A frequência diminuía por um tempo mas, na primeira queda, a frustração e a raiva traziam à tona tudo o que ficara abafado no mundo secreto dos pensamentos. Assim foi, até despertar em mim a vontade de servir a Deus em ministério de tempo integral na igreja. Como isso era possível? Com tantas pessoas certinhas para Deus chamar para o Seu trabalho, como Ele poderia escolher a mim, suja e indigna como sempre fora? Ele sabia de tudo e sabia como eu não conseguiria mudar; como eu Lhe serviria assim? Entretanto o Senhor foi paciente e misericordioso; me ajudou a perceber que qualquer pessoa chamada seria indigna diante Dele. O medo passou e a decisão foi tomada. Próximo passo: me preparar em um seminário. E lá, certamente “eu me libertaria” do passado de pecados e sujeira.

Novamente estava enganada, pelo menos no que dizia respeito ao meu conceito de libertação e os métodos que Deus usaria para isso. Eu achava que seminarista era uma espécie de “eunuco”; não sofria com essas tentações carnais. Não demorou muito para perceber que a teoria estava errada. Além disso, o confinamento no seminário não era tão seguro quanto eu imaginara; dava para ter um mundo secreto ali também. Contudo, mês após mês fui percebendo minha “solitude” ser invadida. Primeiro pela vergonha, diferente da culpa que sentia antes. Como, diante de um Deus tão santo e bom quanto o que estava conhecendo, eu poderia contaminar meu corpo e minha mente com a podridão de desejos tão pervertidos? (cf Rm.6:12-13). Em seguida, pela noção de juízo sobre o que eu habitualmente fazia (cf Cl.3:5-6). E finalmente, por várias meninas que tinham histórias tão “feias” quanto a minha e estavam esperançosas de alcançar graça para um futuro diferente e dispostas a falar sobre isso. Ops… descobri que a trincheira contra a pornografia e a masturbação não era território exclusivamente masculino; há muitas de nós lá enfrentando um combate acirrado.

O que aconteceu nos anos seguintes foi como um processo de desintoxicação, ou melhor, de “desidolatrização”. Meu mundo de fantasias havia se tornado meu ídolo funcional, a quem eu recorria quando me sentia cansada, entediada, frustrada, preocupada e mais uma dúzia de “-adas”. Era lá que eu cultuava. À medida que estudava a Palavra de Deus fui percebendo todas as mentiras que sustentavam meu pecado e sendo encorajada a romper com cada uma delas. Em anos, experimentei dias seguidos de trégua na prática do pecado e um sossego de consciência que até então eu desconhecia. O que eu chamava de “ritual da santificação” tornou-se um processo natural de conhecer a Deus, amá-Lo mais e desejar ser mais devotada a Ele do a mim mesma.

Infelizmente, porém, esse não foi “final feliz” da história. Não me tornei insensível ao desejo, como muitas vezes pedi em oração. Muito menos sou capaz de ignorar as tentações como se não tivessem nenhum poder sobre mim. As vitórias que tive não foram definitivas. Mas eu aprendi que posso lutar e que, na luta eu glorifico a Deus, ainda que por vezes eu seja derrotada. Também não posso dizer que “estou limpa há ‘X’ anos”, nem semanas, talvez. Mas aprendi que ser tentada não é pecado e que, mesmo quando peco, não sou mais escrava da lascívia para continuar me sujeitando a ela. Aprendi a ser mais cuidadosa com o uso do meu tempo livre, com o conteúdo que alimenta a minha mente, com a escolha dos amigos a quem exponho minha intimidade. Decidi usar ferramentas que possibilitem outras pessoas acompanharem o uso que faço dos meus dispositivos de mídia e ter parcerias de prestação de contas sobre a minha rotina. Desisti das expectativas muito altas a meu respeito, e encarei que sou vulnerável; muito, muito propensa ao pecado! Estas palavras de Paulo me ajudam diariamente redirecionar o foco do meu serviço ao Senhor e à sua igreja:

Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade; contudo, a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim, juntamente com a fé e o amor que estão em Cristo Jesus. Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior. Mas, por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna. Ao Rei eterno, ao Deus único, imortal e invisível, sejam honra e glória para todo o sempre. Amém. 1 Timóteo 1:12-17

Por que decidi contar a minha história proibida? Porque hoje sei que há muitas à procura de esperança para as suas histórias proibidas. Já tentaram mil caminhos e parecem sempre voltar ao mesmo lamaçal. Não espere fórmulas mágicas, trilhas fáceis, soluções imediatas e definitivas. Isso só o Céu poderá nos trazer. Encare a vergonha, tire suas máscaras e inicie a caminhada. Sofra o dano, abra mão do prazer passageiro, da autogratificação e da ilusão de que para ser feliz vale tudo, até pecar. Não vale! Se você está começando a cavar no túnel escuro dos pecados sexuais, pare agora. Saia para fora, limpe-se e caminhe na luz. Se você já está cavando há um tempo, não se iluda que encontrará a “pepita da satisfação”. Esta mina não tem ouro, só lixo! E você comerá cada vez mais lixo para ter energias e continuar cavando, num trabalho sem fim.

Finalmente, nunca pense que um estímulo é fraco demais para enredar e controlar você. Lembra das “fascinantes cenas de beijos nas novelas”? E posso te assegurar que eram bem menos intensas do que as exibidas atualmente no horário das seis. Qualquer indício de fagulha é suficiente para alcançar o pavio do pecado abrigado em seu coração. Por isso, fuja! Proteja-se! Se já sente cheiro de fumaça, peça ajuda! Não acumule capítulos de vergonha que servirão apenas para elevar a censura da sua história. E não se esqueça: a graça de Deus lhe dá todo o suprimento de que precisa para lutar e vencer todos os dias!

“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” Tito 2:11-13

Por Ana Patrícia Machado (nome fictício por questões de privacidade).