Nunca me imaginei nessa situação. De repente, minhas roupas não me serviam mais, meu quadril aumentou, meus pés incharam e minha barriga ficou evidente. A vergonha que sentia das pessoas me olhando era enorme, podia ler os pensamentos delas só pela maneira como me olhavam: “Nossa, uma criança cuidando de outra!” “Nem sabe o que quer da vida e tem que criar um bebê”. Meus pais seriam humilhados por minha causa, as pessoas desacreditariam no bom investimento espiritual em minha vida e os considerariam, sem conhecê-los, ausentes. As despesas triplicariam em casa por minha culpa e as discussões também. O medo, a vergonha e a culpa eram meus novos amigos.

Até eu ter coragem de contar para os meus pais, já tinham passado dois meses, desde que o meu namorado me chamou para sair. Já havíamos ficado sozinhos em nosso quarto várias vezes e não éramos comedidos em nossos afetos.  Naquela noite, deixamo-nos dominar pelas nossas emoções sem nem pensar nas consequências. Tomei a pílula do dia seguinte, mas quem disse que funcionou? Já era tarde demais. Duas semanas depois eu comecei a vomitar, sentia-me enjoada e minha menstruação parou. Até agora não sei como consegui esconder dos meus pais meu erro. Chorei incontáveis vezes sozinha, vomitei muito no vaso da escola, desmaiei na igreja e, mesmo assim, eles não perceberam. E como eu queria não perceber o que estava acontecendo comigo…

Antes de contar para eles, pensei em abortar, mas senti muito medo de ir numa clínica clandestina e, além do mais, não tinha o dinheiro necessário. Orei para Deus abortar meu filho naturalmente, mas não aconteceu. Os testes de farmácia deram todos positivos. Pensei em abortar sozinha e cheguei a olhar espécies de plantas e pílulas na internet para me ajudarem, mas tinha medo de morrer até meus pensamentos me deixarem louca: “Ah, mas e daí se eu morresse? Minha vida estava uma droga mesmo! Teria que esperar para entrar numa faculdade e provavelmente faria uma particular para poder ficar perto dos meus pais. Já era minha carreira profissional! Por que eu fiz isso?” Morrer era um caminho fácil, acessível e indolor. Meu namorado estava disposto a me ajudar, mas não tinha idéia de como começar. Preferiu o silêncio para manter nossa reputação até encontrar uma alternativa.

Que crise!

O meu desespero tomou conta de mim e eu falei para as minhas amigas da escola, precisava de ajuda. Mas, não chegou a completar uma semana e a maioria das pessoas já sabiam do que havia acontecido, olhavam-me esquisito. Parecia que tinham receio de falar e andar comigo e endossar meu erro, então me evitavam. Para a sociedade ao meu redor o meu erro era só não ter usado preservativos e destruir minha carreira profissional, mas na verdade, meu erro foi muito além.

Depois de ser exposta pelas “amigas” da escola, pedi ajuda para a mulher do pastor da igreja. Já tinha aberto minha Bíblia várias vezes, lido alguns textos e parecia que nada fazia sentido. Mas, com a ajuda dela percebi que Deus tem sim a solução para mim, Ele é minha esperança nessa confusão (Sl 46.1)! Contudo, sozinha eu não conseguiria… Ela me mostrou que em João 8.1-11, Jesus não condenou uma adúltera que merecia ser castigada pela lei. Ele a perdoou e ordenou que ela abandonasse sua vida de pecado. Deus oferece perdão para aqueles que confessam seus pecados. Em Provérbios 13.28 está escrito “Quem esconde seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona alcança misericórdia.” Se Deus, apesar dos meus pecados, me perdoou, porque eu tinha que colocar tanto peso sobre mim, eu tinha que lidar com as conseqüências do meu pecado, mas não precisava exagerar a dor. A culpa não deveria me perseguir, porque também é pecado ser escrava dela se Cristo já me libertou.

Foi um processo difícil me perdoar, ainda mais com tantas mudanças no meu corpo e com hormônios alterados que me deixavam mais emotiva, mas o que me ajudou muito foi orar e obedecer a Deus, eu precisava pedir perdão para minha família. No início, meus pais ficaram muito alterados e disseram palavras horríveis, porém, com o tempo e o acompanhamento do pastor e sua esposa, perceberam que a raiva que sentiam era porque a reputação deles seria prejudicada e os sacrifícios deles seriam maiores. Mas, perceberam como estavam sendo egoístas e que em alguns momentos na minha criação eles falharam também.

Pedi perdão para o meu namorado por antecipar um privilégio reservado para o casamento, o sexo (Hb 13.4), e por ter cooperado com o pecado dele. Nós deveríamos ter incentivado a santidade um no outro, mas deixamo-nos dominar por atos impulsivos e perdemos o privilégio de estabelecer uma comunicação mais sólida e um relacionamento que não fosse baseado em sentimentos. Se eles morressem, não teríamos mais nada. Contudo, percebemos nosso erro e fomos nos ajustando e buscando crescer espiritualmente juntos. Decidimos não casar até que ele pudesse nos sustentar financeiramente e até que estivéssemos mais maduros sobre o relacionamento de marido e mulher, caso contrário, nossa união matrimonial falharia.

Na igreja, os adolescentes me evitavam e eu não sabia a que classe pertencia mais porque precisava aprender tanto sobre como ser mãe, disciplina de filhos, administração de dinheiro e tantas outras coisas que não ensinavam na classe dos adolescentes. As meninas estavam preocupadas com os pontos do vestibular e eu estava ansiosa com o parto. Será que eu devia ter uma cesariana? Contar meus pecados junto com o meu namorado para a igreja e se submeter a disciplina bíblica foi uma experiência bem constrangedora, mas trouxe muito alívio, porque as pessoas podiam conversar conosco sem receios de estarem se associando com imorais, mas com pecadores que queriam crescer. Obedecer a Deus decidindo pedir perdão me trouxe paz em meio ao caos. Paz que só vem de Cristo (Jo 14.27).

O bebê que eu queria matar foi usado por Deus para me fazer perceber o quão distante eu estava dEle e apesar de todo o sofrimento de lidar com o meu corpo, com o meu namorado e a minha família, Deus transformou isso em bem (Rm 8.28). A partir de uma perspectiva terrena, minha vida estava arruinada, mas com uma perspectiva celestial, eu fui moldada por Ele. Aprendi que santidade não é apenas ser virgem, mas ter pensamentos puros e se alimentar com o que coopera para a minha pureza (1Ts 4.7). Aprendi que um relacionamento é muito mais do que toques físicos (1Co 13.4-8). Aprendi a ter misericórdia de meninas que enfrentam essa situação e não julgá-las (Mt 7.1-5). Meus pais aprenderam que precisa haver mais diálogo na criação dos filhos e que é um privilégio serem avós (Pv 17.6). Meu namorado aprendeu que amar de verdade é mais do que se saciar nos prazeres físicos, mas proteger moralmente e servir. Minha igreja aprendeu que precisa aprender acolher pessoas que passam por gravidez indesejada e parar de julgar.

Apesar do meu aparente fracasso de vida, tenho o privilégio de segurar em meus braços uma benção de Deus que muitos pais almejariam ter e não podem. E também tenho a oportunidade de ajudar outras meninas que passam pelo mesmo e de educar meu filho para que ele seja mais uma pessoa que glorifique a Deus. Posso dizer que sou vitoriosa por ter perseverado nos caminhos de Cristo e por ter aprendido que Ele é a minha força e que o meu sofrimento redunda em louvor a Ele!

“Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.” 2Coríntios 12.9

Narrativa fictícia