Talvez você tenha visto, talvez alguém tenha te contado, talvez seu parceiro tenha confessado. Mas não importa de que maneira venha a notícia, ela é sempre avassaladora. Ou imagine o inverso, você fraquejou e traiu seu namorado. Num momento era tudo amor entre vocês, agora há um muro de vergonha separando os dois pombinhos. E não importa como isso será descoberto, se você for pega ou se contar, causará uma dor tremenda.

A traição é tão completamente devastadora, que tanto cristãos quanto não cristãos concordam ser ela inaceitável. E não importa se foram conversas, um beijo, uma noite, vinte anos; se foi uma pessoa conhecida, desconhecida, um profissional do sexo, sexo online ou uso contínuo de pornografia. Saber que a pessoa que se ama compartilhou segredos, desejos, momentos de prazer – isto é, que engajou a mente, o corpo ou ambos – dói.

A dor de ser traída pelo parceiro – seja namorado, noivo ou marido – é enorme. A vergonha de ter caído em pecado e traído o parceiro é incomparável. Quando entramos em um relacionamento, prometemos fidelidade e acreditamos que o outro será fiel ao que cumpriu. Mas o que fazer quando a traição acontece?

Meu objetivo não é escrever um tratado sobre o pecado da traição, mas apontar algumas atitudes bíblicas práticas que podem ajudá-las a enfrentar por esta crise de modo coerente com as Escrituras. Assim, quero atender a ambas as situações neste artigo, pensando biblicamente sobre como devemos agir quando nos encontramos nesta situação. Primeiro, quero falar à pessoa traída. Segundo, trazer uma palavra ao que foi infiel. Encerrarei com uma palavra de encorajamento.

Quando sou traída

Por onde começamos depois que descobrimos a traição?

A resposta pode parecer óbvia. Começamos em Deus. Precisamos primeiro nos lembrar de que Deus nos concede graça para suportar estas dificuldades. E em seguida não permitir que as mentiras de Satanás tomem conta de nossa mente. Estas são verdades a serem lembradas neste momento:

  • Deus é soberano sobre todas as coisas; (Colossenses 1.16; Salmos 24.1; 90.2; 97.9)
  • A traição não é uma punição divina, mas um reflexo da nossa humanidade caída; (Mateus 15.19)
  • O pecado foi cometido primariamente contra Deus e, somente depois, contra mim; (Salmo 51.4-5)
  • Por mais que possamos contribuir para um desentendimento ou desencanto de nosso parceiro, a traição é uma decisão individual tomada pelo outro – a culpa não é sua; (Tiago 1.14)
  • O perdão é sempre possível para nós, filhas de Deus. É, na verdade, uma ordem dada por Jesus para nós obedecermos; (Mateus 18.21-35)
  • Você foi perdoada de delitos maiores contra Deus, portanto o amor de Deus por você e sua gratidão a Ele pelo perdão recebido te capacitam a oferecer perdão.;
  • Jesus correlaciona o perdão que concedemos a outros ao perdão concedido a nós. (Mateus 18.35)

Com estas verdades em mente, tome uma decisão. A oração do Pai Nosso pede a Deus  “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6.12) Ela atrela o nosso perdão ao perdão que concedemos aos outros, pois este reflete nossa real obediência ao maior mandamento “Ame ao Senhor” e “Ame ao teu próximo” (Marcos 12.29-31).

No entanto, ofertar perdão não significa continuar o relacionamento. Mas não tome esta decisão antes de ofertar perdão. Como filha do Rei, esta é a atitude esperada de você por Deus. O objetivo final do perdão é a reconciliação. Ofertar perdão é reconhecer que assim como Deus apagou de Sua memória aquele delito, você deve fazer o mesmo. Ofertar perdão não é o mesmo que continuar o namoro, mas sim alcançar a reconciliação entre você e seu namorado – o que David Prince chama de perdão integral.

Quando namoramos, buscamos conhecer alguém que tenha características e caráter que agradem a Deus e a nós. Em alguns casos, o perdão permitirá a continuidade do relacionamento, mas dependendo da situação, isto será insustentável. Então, por mais que as Escrituras dizem ser dever seu como cristã ofertar perdão, você não está obrigada pelas Escrituras a permanecer neste relacionamento.

[Uma palavra às casadas que porventura leiam este artigo: minha oração é que caso isso aconteça, você disponha no seu coração buscar, no Senhor, a restauração do seu casamento. Lembre-se que o divórcio só foi permitido por Deus por causa da dureza do coração humano (Mateus 19.8). Mas este não é o plano original de Deus. Por isso, busque aconselhamento bíblico com o pastor de sua igreja ou um conselheiro bíblico habilitado, que possa ajudá-los a discernir onde haja necessidade de trabalhar no caráter e no relacionamento de vocês como casal. Mesmo que seu marido esteja realmente arrependido e você o tenha perdoado, não deixe de procurar ajuda. Há muitos efeitos da traição que ainda podem afetar seu relacionamento após o perdão.]

Como, então, ofertamos perdão bíblico? Ken Sande, em seu livro “O pacificador”, compartilha algo chamado de “As quatro promessas do perdão”. Pelo exemplo de Cristo, sabemos que o perdão não é um sentimento, mas uma decisão. Assim, são estas as promessas:

  • Não pensarei mais sobre a ofensa.
  • Não mencionarei mais a ofensa e não a usarei contra você.
  • Não falarei a outras pessoas sobre a ofensa.
  • Não permitirei que a ofensa fique entre você e eu, ou que prejudique o nosso relacionamento pessoal.

Você saberá que o perdão está em efeito quando estas promessas forem diariamente cumpridas. Pode parecer muito a exigir de você, mas Deus lhe concedeu perdão inimaginável, comparado ao que Ele espera que você ofereça. A pessoa que não perdoa fica amargurada, azeda, difícil de conviver, pois coloca sua justiça acima da justiça divina.
Além disso, cuidado com o sentimento de “eu não mereço passar por isso”, pois está fundamentado numa noção equivocada de justiça própria. Pecadores como somos, merecemos a morte, a separação eterna de Deus, sofrimento e dor sem fim. Jesus, porém, tomou sobre si a ira de Deus (propiciação, I Jo 2.2, 4.10), os nossos pecados (substituição, I Tm 2.5-6), e a nossa dívida (justificação, Rm 5.1). Por isso somos amados, santificados e justificados diante de Deus. Tudo de bom que recebemos é imerecido (Ef 2). Assim, as coisas ruins que acontecem a nós são apenas resultados da presença do pecado em nós, nas pessoas a nossa volta e na natureza. Portanto, cuidado para não culpar a Deus ou recusar ofertar perdão por uma imagem distorcida de si mesmo.

Quando traímos

“Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando essa o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” Tiago 1.14-15

São muitas as razões apresentadas por pessoas que caíram em tentação e traíram seus parceiros, mas apenas uma é verdadeiramente bíblica: o pecado. Problemas no relacionamento, dificuldades de auto-controle, a sedução de outrem, momentos propícios – não importa. No final das contas, é o pecado (a cobiça) existente no coração do homem que responde à tentação, e este, desprovido de domínio próprio e sem ouvir ao Espírito Santo, cede e sofre a morte – da confiança, do relacionamento, do ministério, do emprego, de amizades, e muito mais. No entanto, em Jesus, há esperança para o pecador.

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” I João 1.9

O primeiro passo que o traidor deve dar é reconhecer o seu pecado diante de Deus, confessar a Ele e mudar seu caminho. Estas três atitudes também devem ser aplicadas para com o seu namorado. Em seu livro, Ken Sande apresenta uma lista de sete passos para uma confissão eficaz, sendo três deles referentes aos verbos citados acima.

Pode até parecer mais fácil esconder a traição e prometer a si mesmo que nunca repetirá o erro. Mas não se engane:

“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Provérbios 28.13

Assim, em primeiro lugar, admita especificamente.Declarações gerais como “sinto muito”, sem identificar o erro, deixam a impressão de que não estamos realmente conscientes do que fizemos, ou que não estamos dispostos a prestar contas por isto. Quanto mais específico o pedido de desculpas, mais ponderado e genuíno ele é.”

Seja claro quanto ao que fez – diga o quê, quando e com quem – e inclua em sua confissão a mágoa causada ao seu parceiro, a quebra de confiança e todo o mal causado. O arrependimento deve ser completo e sua verbalização deve incluir todas as áreas onde você pode ter machucado o outro. No entanto, evite dar detalhes quanto ao ato em si que em nada contribuem.

Segundo, aceite as consequências. Pode ser que, como resultado de seu pecado, o seu namorado decida terminar o relacionamento de vocês. Por ele ainda não estar comprometido legal e espiritualmente com você, ele tem o direito de escolher permanecer ou não ao seu lado. Não cabe a você julgá-lo ou cobrar dele qualquer outra atitude. Sua responsabilidade como cristã é ser franca e honesta, confessando seu pecado de forma clara e aceitando as consequências de forma completa.

Uma traição, no melhor dos casos, gera desconfiança. Mesmo após perdoá-la, seu namorado ainda pode sofrer com as lembranças e com dúvidas sobre seu comportamento. Dê tempo a ele para que o perdão (que é uma decisão) solidifique-se em sentimento.

“Devemos dar à pessoa a quem injuriamos a dignidade de processar sua mágoa e responder honestamente. Podemos ter de esperar um longo tempo antes que o perdão venha. Não devemos pressupor que tudo pode ser esquecido instantaneamente. Por isso, pedimos e esperamos uma resposta quando somos genuínos em nossa confissão.”

Além disso, há outras consequências mais graves que precisarão de maior ponderação para o perdão, especialmente quando a traição resulta em gravidez ou doença sexualmente transmissível, por exemplo. Nestes casos, seu namorado pode até oferecer perdão inicialmente, mas precisar de tempo para ponderar se irá assumir para si as consequências do pecado que você cometeu contra ele.

Terceiro, altere seu comportamento. O versículo acima diz que a misericórdia é concedida aos que deixam o seu pecado. Independente do perdão ser concedido ou não, o arrependimento genuíno exige abandono do pecado. Mas caso o relacionamento continue, seja clara sobre como desenvolver a confiança de seu namorado ao assumir um compromisso de evitar a tentação. Isto pode significar encerrar qualquer contato com o outro rapaz (até mesmo deletando-o das redes sociais e bloqueando-o no celular), mesmo que ele seja grande amigo da sua família. Pode envolver maior abertura e transparência quanto à sua agenda, seu celular ou seu computador.

Aproveite este momento para dedicar-se em seu relacionamento com o Senhor. Cair em tentação sempre demonstra que área de nossas vidas precisa ser trabalhada e submetida à Soberania do Senhor e, principalmente, o que temos adorado mais que a Deus a ponto de trocar o prazer momentâneo do alívio de um desejo pelo prazer duradouro da presença do Senhor e de seu deleite em nossas vidas.

E agora, José?

Bem, a Bíblia é muito clara quanto ao que Deus espera de nós. Cumpre a nós obedecer. Cada situação exigirá diferentes soluções e cada pessoa será responsável por sua própria decisão. Mas se posso apelar a você, como irmã em Cristo e como alguém que compreende de perto esta situação: se você traiu, confesse e peça perdão; se você foi traído, ouça e ofereça perdão.

A você que sofre as consequências de seu próprio pecado, oro para que Deus lhe dê graça para reconhecer seus erros, confessá-los e mudar de comportamento. A você que está sofrendo com o pecado de outrem, oro para que Deus lhe dê graça para viver uma vida que imite a Cristo também na concessão do perdão e na prática das promessas feitas ao concedê-lo.

Oro também para que Ele continue moldando em nós um coração conforme o Seu, que glorifica a Ele em meio ao sofrimento, apesar dos nossos pecados, em todas as circunstâncias.

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Romanos 11.36)