Quando adolescente eu era muitíssimo magra, tinha várias espinhas no rosto e, para piorar, meu cabelo era enrolado e bem armado. Meu nariz pontiagudo também chamava atenção. Não era uma menina bonita, eu sabia disso. Era tímida e insegura. Quantas vezes me imaginei com a aparência diferente! Lembrava até da historinha infantil em que o patinho feio se descobria um cisne maravilhoso, quem sabe eu também poderia passar por uma transformação também! Pensei até em cirurgias plásticas…

Já se sentiu assim também? Nada contra cirurgias plásticas, algumas ajudam a restaurar pessoas que sofreram com desastres horríveis. Porém, existe um lado negativo delas e de outras modificações que são comerciais também, por sinal, pois ensinam às pessoas que elas precisam “se amar mais”. E quantos procedimentos estéticos existem! Depilação a laser, cirurgia para aumentar os seios, drenagem linfática, cílios postiços, clareamento de dentes, maquiagem definitiva, unhas de silicone, limpeza de pele, etc. Quando terminam um, já pensam em outro, e acabam em um ciclo sem fim em busca da paz com seu corpo. E quanto dinheiro não investem nisso? Às vezes, muitas que não têm condições de fazê-los parcelam tudo no cartão de crédito e, às vezes, deixam os familiares irritados, sem se sentirem culpadas, pois “se amar mais” é uma necessidade .

Porém, biblicamente, será que é preciso se amar mais? O que será que está por trás da famosa “baixa autoestima”? E será que esses “escapes” com procedimentos vão, de fato, produzir alterações definitivas e solucionar os problemas de autoestima?

 

Precisamos nos amar mais?

De maneira geral, quando se pensa em autoestima biblicamente, o primeiro versículo citado é “ame ao próximo como a si mesmo” (Mt 22.39). Contudo, quando se lê rapidamente os versículos antes e depois deste, percebe-se que Jesus estava falando sobre dois, apenas dois, mandamentos: amar a Deus (Mt 22.37) e amar ao próximo (Mt 22.39). E “amar ao próximo como a si mesma” significa dar a ele a mesma atenção, cuidado e serviço que você naturalmente dedica a si.

Desde que o pecado entrou no mundo, o coração de todas nós é corrupto (Jr 17.9), voltado para si. Por que será que a Palavra de Deus tem tantas referências sobre servir e amar ao próximo? Porque agir assim não é natural para o ser humano à parte da graça de Deus, e o ser humano precisa precisa de ordens e de obediência a Deus para isso. Contudo, amar a si e buscar os próprios interesses é natural. Gosto de pensar no versículo de Lucas 9.23, relacionado a isso, em que os discípulos são advertidos a negar a si, e não se amar mais, para seguir o Mestre. Entretanto, muitas se apegam a referência de Mateus 22.39 que “supostamente” fala sobre amar a si para acalentar seus corações, e ignoram todas as outras referências sobre servir. Existem músicas, campanhas e mantras para as mulheres amarem-se mais em várias igrejas evangélicas! Quando pensam que estão diminuindo sua tristeza amando-se mais, na verdade, estão iludindo-se, entregando-se a pensamentos pecaminosos que escravizam e que também são passageiros. Em um dia, até conseguem acreditar que são bonitas e que estão satisfeitas consigo, mas em outro, estão quase chorando novamente porque queriam ser belas de verdade.

De acordo com a Bíblia, faz parte da boa mordomia que Deus lhe deu cuidar (Ef 5.29) de si. É permitido malhar, usar roupas bonitas, fazer procedimentos estéticos e até compras. Entretanto, é preciso cuidar com as motivações do coração, onde, de fato, acontecem mudanças definitivas (satisfação verdadeira com o que Deus deu): “Por que estou fazendo isso?”, “Tenho condições de fazer?”, “Meus pais/marido concordam?” E cuidar também para que essa busca pela beleza não ocupe o lugar daquilo que é prioridade na vida de uma cristã: o Reino de Deus (Mt 6.33). Não se esqueça também que a beleza, hoje em dia, é até comprável, mas como a própria Palavra de Deus diz, é enganosa e passageira (Pv 31.30) – mais uma boa razão para cuidar com a idolatria da aparência.

O que pode estar por trás da “baixa autoestima”?

É contraditório a tudo que dizem por aí, mas a Palavra de Deus ensina que o coração do ser humano sem Deus é mal (Jr 17.9), por isso, quando alguém tem “baixa autoestima”, paradoxalmente, é porque se ama demais, pois seu coração pode estar…

  • Orgulhoso – desejar uma transformação para ser prestigiada ou “aceitar-se” mais é altivez. Esse indivíduo acha que Deus não lhe deu uma genética boa suficiente, e ambiciona ser diferente. E isso aponta para uma outra atitude pecaminosa, o temor a homens, que é considerar tanto a aprovação dos outros que passa a agir em função do que lhes fariam pensar o melhor sobre você.  Isso pode levar uma jovem a ceder os valores bíblicos ou pode torná-la escrava de procedimentos estéticos para agradar outros (Gl 1.10; Pv 21.4; Pv 29.25) com a justificativa de “amar-se mais”. Nem sempre, mas em muitos casos, com relação a isso ainda, as selfies são feitas com a intenção de despertar a atenção de outros, em especial de rapazes. E muitas usam diversos filtros e apps de fotos, alterando a si fisicamente para saírem mais bonitas. As redes sociais (Instagram e Facebook) podem influenciar as mulheres a se compararem e almejarem ter a beleza que as celebridades, ou outras jovens com muitas curtidas em suas fotos, têm. Contudo, o mau desejo sempre vêm de sua própria cobiça (Tg 1.13-15). Por isso é importante usar as redes sociais com sabedoria.
  • Insatisfeito – quando alguém não está feliz com a aparência que Deus dá é porque não confia que Ele tem o melhor para Suas filhas. E a insatisfação é um caminho para um poço sem fundo, que pode levar à depressão e ao isolamento (1Tm 6.6; Fp 4.4).

Mudanças definitivas

“Se quisermos ter sucesso colocando o pecado à morte, devemos perceber que o pecado com o qual estamos lidando não é outro senão uma exaltação contínua do nosso desejo sobre a vontade conhecida de Deus (Jerry Bridge, Disciplinas da Graça)”.

Admito que houve um tempo em que eu sabia que se entristecer por achar minha aparência desagradável era pecado, mas não conseguia mudar de atitude. Isso acontece. Vencer um pecado não é fácil, mas é possível com a graça de Deus (1Co 10.13)! E somente com Ele, nunca sozinha. Por mais que hajam recaídas, sempre é possível recomeçar. Hoje eu me recordo de como era fisicamente e não me sinto mais entristecida – eu mudei também, mas meus defeitos físicos ainda são realidade. O que aconteceu comigo foi uma mudança de coração que faz me alegrar com o que Deus me deu possível. Posso não ter o ideal de beleza que é apropriado para uma celebridade, e até para minhas amigas, mas é mais do que preciso, com certeza, para viver aqui na terra temporariamente. A beleza aqui é transitória, ao contrário das virtudes que têm valor eterno (Rm 8.18). Buscar o Reino é mais do que ser bonita fisicamente, é ter um coração que agrada a Deus, que é bonito porque é obediente (1Tm 2.9-10; 1Pe 3.3-4). E, com certeza, aquele sorriso sincero no rosto que demonstra paz e satisfação de quem obedece é mais bonito que qualquer acessório que uma garota poderia ter.

Mas, já que a luta contra si não é fácil, seguem alguns conselhos que ajudam nessa caminhada…

  • Renovar a mente – é importante lembrar que o que é belo para a sociedade nem sempre é belo para Deus, pois Ele vê o coração (1Sm 16.7). Por isso, procure conhecer a Bíblia e avaliar os conceitos humanos sobre o que é ou não bonito (Rm 12.2). Também é essencial filtrar os pensamentos, substituindo os depreciativos sobre sua imagem com verdades bíblicas (Cl 3.2; Fp 4.8; 2Co 10.4-6).
  • Cultivar um conceito equilibrado de si (Rm 12.3) – é preciso entender que as filhas de Deus não têm acessórios, não são fisicamente e não fazem habilidosamente nada mais e nada menos do que Ele quer que tenham, sejam ou façam. Não podem se vangloriar nem se desprezar, pois sem Ele não têm nada, são apenas pecadoras. Contudo, devem se lembrar que com Ele é possível ter uma identidade (Rm 8.14; Gl 3.26; Ef 1.1-15), um propósito (Jo 17.4; Rm 12.1; Rm 11.36; Cl 3.17), segurança (Rm 8.38-39; Jo 6.37) e liberdade (Gl 5.1; Rm 7.6; Rm 8.1-2, 15)! As filhas dEle são sempre valorizadas mesmo que sua beleza física não seja como gostariam.
  • Orar – enquanto está entristecida por não ser fisicamente da maneira que gostaria, é difícil lutar contra insatisfação e orgulho. Contudo, quando se ora de acordo com a vontade do Pai, Ele responde favoravelmente e transforma o coração do ser humano pelo Espírito Santo. Por isso, entregue suas dificuldades para Ele. Peça ajuda para ser satisfeita. Compartilhe com uma amiga, orem juntas. Lembro-me que orei alguns ANOS lutando contra a “baixa autoestima”, contudo, Deus me ajudou e cuidou do meu coração (Mt 21.22; Ef 6.18; Fp 4.6-7; Cl 4.2; 1Pe 3.12; 4.7).
  • Servir – edificar e servir ao próximo, além de ser um mandamento divino, tira o foco de nós mesmas. Muitas vezes, essa é a principal dificuldade de quem está lutando contra a baixa autoestima: reparar demasiadamente em si. Não há academia, maquiagem ou roupas estilosas que ajudem. Por isso, é importante continuar a servir e lembrar de que você não é o foco desta terra, mas Deus é e o próximo (Mt 20.27-28; Mc 10.45; Gl 5.13; Fp 2.5-7).

“Com relação às outras pessoas, o nosso problema é que nós necessitamos delas (para nós mesmos) mais do que as amamos. A tarefa que Deus nos dá é necessitar menos delas e amá-las mais.” (Welch, Edward. Quando as pessoas são grandes e Deus é pequeno).