No mês passado, um incêndio florestal atingiu de forma trágica a cidade de Paradise (Califórnia, EUA), forçando os cerca de trinta mil habitantes a evacuarem o local, deixando suas casas para trás. As imagens são chocantes. A cidade, cujo nome significa Paraíso, foi devastada pelo fogo, tornando-se rapidamente um rastro de ruína e cinzas.

Que tipos de pensamento vêm à sua mente diante de tragédias assim? Você fica boquiaberta ao ler essas e outras notícias? Tem a impressão de que o nosso mundo está de cabeça para baixo? Por outro lado, talvez você também tenha um histórico próprio de tragédias pessoais. Você já se sentiu como se estivesse se afogando nas revoltas ondas de suas circunstâncias? Ou como se estivesse cercada por chamas de todos os lados, como a cidade de Paradise? Ainda que talvez não tenha enfrentado situações tão extremas, você às vezes sente que a vida lança um problema atrás do outro em sua direção?

Se a sua resposta é sim para qualquer dessas perguntas, tenho certeza de que você não é a única. Mas por que a nossa vida por vezes parece tão bagunçada? Por que o mundo é tão caótico? Para compreendermos a origem de tudo isso, precisamos olhar para um ponto crucial da história da humanidade. A boa notícia é que no mesmo lugar também descobriremos a fonte da nossa esperança em meio ao caos.

Como chegamos aqui

Era uma vez um jardim perfeito, em um mundo perfeito. Lá viviam um homem e uma mulher perfeitos, que formavam um casal perfeito. Além de próximos um do outro, ambos também eram próximos de Deus, o Criador, com quem tinham um relacionamento perfeito. A natureza inteira e todos os animais eram — adivinhe — perfeitos. Talvez alguém resmungue: “Que tédio!”; mas, não se engane, o tédio não tinha lugar nesse mundo. Qualquer nível de insatisfação era inconcebível, já que a felicidade era plena e ininterrupta. E não, esse não é um faz-de-conta. Você pode conferir o relato completo nos dois primeiros capítulos de Gênesis. Estamos falando de um lugar de verdade, no mundo real, no estado original em que Deus o criou.

Até que um dia, um enganador, inimigo de Deus, adentrou o paraíso por meio de uma serpente e questionou a mulher sobre o Criador, induzindo-a a duvidar de Seu caráter e de Seus propósitos — tudo por causa de uma limitação estabelecida por Ele (Gênesis 3). Uma pequena limitação em meio a toda perfeição, diga-se de passagem. Infelizmente, a mulher caiu na lábia do enganador e o homem, passivamente, a seguiu. Imediatamente, tudo mudou. Entraram em cena culpa e vergonha, e o homem e a mulher tentaram se cobrir e se esconder de Deus. (O relacionamento deles com o Criador claramente já não era mais o mesmo.) Não adiantou. E quando Deus chamou o homem para perguntar o que havia acontecido (oferecendo-lhe a chance de confessar sua desobediência), ele prontamente jogou a culpa em sua mulher (e indiretamente, no próprio Deus, que a havia criado e dado a ele como esposa).

Pare por um momento e coloque-se no lugar dessa mulher. De repente, o homem para o qual ela havia sido criada, com o qual ela até então compartilhara um casamento perfeito; o homem que deveria amá-la, além de ter falhado em protegê-la do engano, agora apontava o dedo para ela sem pensar duas vezes, sabendo que a consequência do pecado era a morte. Ou seja, é como se ele dissesse: “Eu não, Senhor Deus; mate ela!” O relacionamento dos dois claramente já não era nem seria mais o mesmo. E aquele era apenas o princípio das dores.

Foi assim que o mundo perfeito deixou de ser perfeito. A perfeita comunhão de que o primeiro homem e a primeira mulher desfrutavam com o Criador foi quebrada, assim como a que tinham entre si. A partir daquele momento, os dois se tornaram pessoas quebradas, com relacionamentos quebrados, em um mundo quebrado. E não é tão difícil perceber que essa é a nossa realidade hoje, não é mesmo? Acredito que a maioria das pessoas tenha um forte senso de que há algo muito errado com o nosso mundo. E repare que isso acontece mesmo sem nunca termos experimentado a vida no paraíso. Tudo o que conhecemos foi o mundo quebrado, e ainda assim, no íntimo, ansiamos por um mundo perfeito. Imagine, então, como o primeiro homem e a primeira mulher devem ter se sentido. Afinal, eles conheceram a perfeição e a perderam. Carregavam a culpa de ter arruinado tudo e a dor de ter que conviver com consequências horríveis. O paraíso estava perdido.

Graças a Deus a história não acabou assim. Sim, o paraíso continua perdido até hoje, mas Deus, em sua misericórdia e graça, ofereceu ao primeiro casal e oferece a nós, hoje, esperança em meio ao caos. A seguir, vamos olhar para dois pontos no relato de Gênesis 3 que nos remetem a essa esperança.

O Descendente que esmaga a serpente

Embora a sentença da desobediência a Deus fosse a morte, o homem e a mulher não morreram imediatamente após pecarem. Se tivessem, a humanidade estaria extinta. Mas em vez de extinguir a humanidade ou de matar o primeiro casal e criar um novo no lugar, Deus permitiu que eles continuassem vivos por determinado tempo e tivessem uma descendência. E mais, prometeu que um descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gênesis 3.14-15). Não sabemos quanto o homem e a mulher entenderam acerca dessa promessa, mas ela deve ter dado ao menos uma pontinha de esperança para eles, tanto que após o fim das declarações de Deus sobre as consequências do pecado, a primeira coisa que lemos que o homem (agora chamado Adão) fez foi dar à mulher o nome de Eva, cujo significado tem a ver com dar vida (3.20). Afinal, Deus não os mataria naquele momento, mas lhes daria vida e descendentes, sendo que um Descendente, em particular, desfaria o caos em que eles haviam se metido. Havia esperança!

Hoje, que já temos a revelação completa da Palavra de Deus, sabemos que esse Descendente já veio. É Jesus Cristo, o Filho de Deus, que adentrou a História como homem, viveu e morreu em nosso lugar, e ressuscitou vitorioso sobre o inimigo, o pecado e a morte. Por meio do primeiro Adão, nós recebemos a herança do pecado e da morte (física e espiritual); por meio da fé em Jesus, o “último Adão” (1 Coríntios 15.45), nós recebemos perdão, justificação e vida eterna (Romanos 5.12-19). E ainda que agora continuemos vivendo neste mundo quebrado, temos do Senhor a promessa de que um dia Ele fará um novo céu e uma nova terra. Um dia, Ele fará um novo paraíso, onde para sempre nós, Seus filhos adotados em Cristo, viveremos em harmonia com Ele e uns com os outros, e dessa vez, será impossível perdê-lo (Apocalipse 21.1-5).

O sacrifício que cobre a vergonha

No meio do jardim que, até então, era o lar do primeiro casal, havia uma outra árvore, chamada de árvore da vida (Gênesis 2.9). Gênesis 3.22-23 explica que Deus expulsou Adão e Eva do jardim para que, sendo agora “conhecedores do bem e do mal”, não tomassem do fruto da árvore da vida e vivessem para sempre. Deus não queria que eles ficassem presos para sempre naquele estado de pecaminosidade, perdição e inimizade com Ele. Foi por isso que Ele os expulsou do jardim. Porém, antes de expulsá-los, Deus lhes providenciou roupas especiais (Gênesis 3.21-24). Talvez você já saiba de tudo isso, mas já parou para pensar por que o relato bíblico inclui esse detalhe?

Percebo nessa ação de Deus uma demonstração de Seu cuidado. Sim, Ele os estava expulsando do jardim, mas não os estava abandonando. Mesmo sendo alvo da rebeldia de Adão e Eva, o Criador fez provisão para as suas necessidades. Em um nível básico, eles simplesmente precisavam de roupas! Precisavam cobrir sua nudez e, possivelmente, proteger-se de eventuais ameaças climáticas. Isso nos mostra a bondade e o cuidado de Deus. 

Mas havia algo mais profundo acontecendo nesse ato divino de vestir Adão e Eva. Repare que eles tinham improvisado “roupas” antes, por conta própria (Gênesis 3.7). Eles estavam certos na necessidade que tinham de ter sua vergonha coberta (em um nível muito mais profundo que o físico, diga-se de passagem), mas estavam errados na maneira como isso deveria acontecer. As folhas de figueira não eram apropriadas. O próprio Deus providenciaria uma cobertura melhor. Para isso, podemos depreender do texto que um animal teve de ser morto — afinal, as roupas eram de pele de animal. Aquela foi a primeira morte da História. Um animal inocente foi morto para cobrir a vergonha de Adão e Eva. Aquele sacrifício apontava para o sacrifício substitutivo de Jesus Cristo em nosso lugar. Sim, o mesmo Descendente de Eva que esmagaria a cabeça da serpente também era o Cordeiro sacrificial que seria morto para que nós tivéssemos nossa vergonha coberta, nossa culpa removida, e fôssemos revestidos com a Sua justiça (João 1.29; 2 Coríntios 5.21; 1 Pedro 2.24; 3.18).

Reflita

Você já havia considerado biblicamente a origem do caos que há em nosso mundo? Quais “cacos” desse mundo quebrado têm sido mais dolorosos para você? Quais manifestações do pecado você percebe em seu próprio coração? 

Você já havia reparado na promessa de Deus acerca do Descendente de Eva? Já havia observado que Deus vestiu Adão e Eva com a pele de um animal inocente sacrificado? De que maneiras esses dois fatos — e a conexão deles com o evangelho de Jesus Cristo — lhe dão esperança?

Sim, vivemos em um mundo onde o paraíso foi perdido. Somos pessoas quebradas vivendo em um mundo quebrado, onde há tristeza, maldade, doenças, dores, tragédias, conflitos e morte. Contudo, em meio a todo esse caos podemos ter esperança verdadeira. Jesus Cristo, o Descendente de Eva, o Cordeiro de Deus, é a nossa esperança.