Nós todas sofremos. Pode ser um coração partido, um sonho frustrado, uma família quebrada, um relacionamento complicado, dificuldades nos estudos, um trabalho estressante, problemas financeiros, doenças, tragédias, perseguição, luto, entre outras coisas. Todas temos dores em algum momento, em alguma área da vida, sejam elas físicas ou não, visíveis ou não, nos mais variados graus. E todas estamos cercadas de pessoas que também enfrentam lutas, dos mais diversos tipos. Essa é a realidade do mundo em que vivemos, um mundo caído, quebrado pelo pecado desde Gênesis 3.

Com isso em mente, conforme enfrento algumas das minhas próprias lutas, uma história tem chamado a minha atenção. É a história de uma simples menina, ou melhor, de um grande Deus que faz de uma simples menina um instrumento de bênção em meio à dor. Estou falando da serva da esposa de Naamã, o comandante do exército do rei da Síria, cuja história pode ser encontrada em 2 Reis 5.1-19.

Não sabemos o nome dela. O que sabemos é que, repentinamente, essa menina foi raptada de sua família, de sua cultura, de seu país, e forçada a se tornar uma escrava. Não sabemos o que se passava em seu coração, mas talvez possamos imaginar um pouco de sua dor. O que me chama a atenção, porém, é que, mesmo nesse trágico contexto, ela se tornou uma bênção para as pessoas ao seu redor. Como?

Compaixão em meio à dor

Acontece que Naamã, embora “fosse um guerreiro valente, sofria de lepra” (2 Reis 5.1). Humanamente falando, quando estamos passando por sofrimento, nossa tendência natural é sentir pena de nós mesmas, não é? Não somos propensas a nos isolar, nos fechar e até nos tornar amarguradas? Essa é a nossa inclinação pecaminosa ao enfrentarmos sofrimentos: ignorar o sofrimento dos outros, seja porque não prestamos muita atenção ou porque simplesmente não nos importamos o suficiente, afinal, já temos bastante peso sobre nossos ombros!

Agora, lembre, a questão nessa história não era “apenas” que a menina já tinha seu próprio sofrimento. A questão era também que Naamã talvez fosse, em parte, responsável pelo seu sofrimento. (Não foi ele que havia raptado a menina, e a Bíblia não nos dá detalhes sobre como ele a tratava, mas o fato é que aquela definitivamente não era uma infância ideal! Lembre, ela era uma criança escrava, longe de sua família, de seu povo e país.) Como será que reagiríamos ao ver sofrendo alguém que, em algum grau, nos faz ou fez sofrer?

Surpreendentemente, Deus deu a essa menina olhos para enxergar o sofrimento de seu senhor e um coração compassivo para com ele. Da mesma forma, Deus é poderoso para transformar nosso coração! Como Suas filhas, podemos reagir ao sofrimento de uma nova maneira, assim como essa menina, mas principalmente, assim como Jesus. O Nosso Salvador é o nosso exemplo supremo de compaixão. Ele não só suportou o sofrimento em nosso lugar, Ele o escolheu. Ele deliberadamente abraçou (João 10.14-18) o pior sofrimento do universo, sendo esmagado por causa de nossos pecados (Isaías 53.5), totalmente desamparado (Marcos 15.33-34), para que nós fôssemos perdoadas e reconciliadas com Deus (Colossenses 1.20-22). E Ele nos chama a seguir Seus passos (1 Pedro 2.21).

Fé em meio à dor

Então a menina se compadeceu de seu senhor. Mas ela não podia livrá-lo de seu sofrimento. Ela não tinha o poder de curar lepra. Como poderia, então, ajudá-lo? No fundo, ela sabia que não podia. Porém, ela conhecia aquEle que podia! Mesmo sendo uma simples menina, privada do convívio com o povo de Deus em tenra idade, sua fé em Deus não havia sido destruída. Percebemos até um forte contraste entre a fé da menina e a falta de fé do rei de Israel. Quando Naamã foi até ele pedindo a cura, o rei ficou desesperado, achando que aquilo era, na verdade, uma desculpa para começar uma guerra (2 Reis 5.7). A menina, porém, havia sido confiante e direta: “o profeta […] o curaria da lepra” (v.3). E ele de fato o curou.

Mas será que isso significa que Deus sempre curará as doenças das pessoas por quem intercedemos? Ele sempre atenderá nossos pedidos por livramento, desde que tenhamos fé? Embora esse tenha sido o caso nessa história, também há relatos na Bíblia em que Deus escolheu não agir dessa forma (veja, por exemplo, 2 Coríntios 12.7-10). Mas é importante observar que a maior necessidade de Naamã não era de cura da lepra, mas de redenção. Provavelmente ele não sabia, mas seu coração precisava mais de cura que seu corpo. E Deus usou sua cura física para operar nele uma transformação espiritual. “Agora sei que no mundo inteiro não há Deus, senão em Israel”, Naamã declarou (2 Reis 5.15). “Nunca mais oferecerei holocaustos ou sacrifícios a qualquer outro deus, senão ao Senhor” (v.17).

Assim como Naamã, nós e as pessoas ao nosso redor temos necessidades mais profundas que livramento aqui e agora. Os que ainda não pertencem a Deus precisam desesperadamente de arrependimento genuíno e fé em Cristo como Salvador. O que está em jogo é mais que felicidade ou tristeza imediata; é o destino eterno. E aqueles irmãos e irmãs em Cristo ao nosso redor que estão sofrendo também precisam de mais que livramento aqui e agora. Precisam, assim como nós, de esperança, sustento e transformação em Cristo.

Porém, não podemos dar a outros o que não temos. Só podemos compartilhar a esperança e o consolo que conhecemos. E é por isso que o sofrimento nos dá uma grande oportunidade, pois nos permite experimentar de maneira pessoal o consolo que vem da parte de Deus. Em Seu amor, sabedoria e soberania, Nosso Pai nos consola em nossas aflições para que possamos consolar outros (2 Coríntios 1.4). Por isso, se queremos ser instrumentos de bênção em meio ao nosso próprio sofrimento, precisamos, além de cultivar um coração compassivo, elevar nossos olhos para o Único que pode transformar vidas – a nossa e a dos outros.

Consoladas para consolar

Sim, o sofrimento pode ser muito desagradável. Não nego isso de maneira alguma e não defendo que finjamos que “está tudo bem”. Mas os sofrimentos não são empecilhos em nossa vida. Quer dizer, na prática, talvez realmente pareçam empecilhos por trazerem tanta dor e frustrarem muitos de nossos planos. Porém, nosso sofrimento nunca, NUNCA poderá frustrar os bons e soberanos propósitos de Deus. Pelo contrário. De uma perspectiva eterna, nosso sofrimento pode ser justamente o contexto que Deus usará para nos transformar e nos usar como instrumentos em Suas poderosas mãos.

Por isso, minha irmã, pergunto-lhe: Que tipos de sofrimento você tem enfrentado? Tem buscado e experimentado o consolo de Deus? De que maneiras você pode compartilhar com outros o consolo recebido? Corramos para o nosso Senhor! Temos um Sumo Sacerdote compassivo que, além de se importar conosco, é poderoso para nos ajudar (Hebreus 4.14-16). Agarremo-nos à Sua compaixão e ajuda e, por Sua graça que nos capacita, cultivemos um coração compassivo como o dEle. Estendamos a Sua graça às pessoas ao nosso redor, apontando para a única fonte de verdadeira esperança: o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Com Ele, por Ele e para Ele, sejamos servas em meio à dor. E, assim, que o nosso grande Deus seja glorificado em nossas vidas, inclusive em meio às mais turbulentas tempestades.