Enquanto uns dizem que existem muitas “narcisas” por aí, a Bíblia nos diz que todas nós somos. Mas o que é uma “narcisa” e o que Deus diz sobre isso? Este artigo, da série “Sou mais eu”, vem para lhe explicar mais uma faceta de uma vida egoísta: o amor por si mesma.

HISTÓRIA DE NARCISO[1] E O CONCEITO NARCISISTA

Existem diversas versões sobre Narciso, mas, resumidamente, Narciso era um belo e orgulhoso jovem, filho do deus-rio Cefiso e a ninfa Liríopes. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias disse aos seus pais que ele teria vida longa se jamais contemplasse a sua própria imagem.

Certo dia, enquanto Narciso caminhava em um bosque, um grupo de ninfas o viu e se apaixonaram imediatamente por ele. Mas, como um jovem orgulhoso e desprezador de todas aquelas que por ele se apaixonavam, Narciso as dispensou. Com raiva, tais ninfas foram até os deuses e clamaram para que ele fosse castigado. E o castigo dado foi: Narciso nunca encontraria um amor correspondido.

Tempos mais tarde, Narciso, parou em uma nascente de água para matar a sua sede e, ao se ajoelhar, ele viu seu reflexo na água e se apaixonou pela imagem. Narciso foi embriagado pela imagem a tal ponto que definhou enquanto a contemplava – cumprindo as duas profecias proferidas sobre si. .

Tanto o nome “Narciso”, quanto a expressão “narcisista” derivam da palavra grega “narke”, que significa “entorpecido”. Ou seja, o personagem mitológico grego Narciso e a qualidade “narcisista” significam alguém entorpecido por si mesmo, em outras palavras, embriagado ou amante de si mesmo.

Toda história mitológica tem uma moral e a história de Narciso tem a finalidade de alertar aqueles que vivem para si, se amando, se consumindo.

 

NARCISO E OS DIAS ATUAIS

Agora que sabemos sobre Narciso, quem são as “narcisas” de hoje? Eu e você!

Eu e você somos obcecadas por nós mesmas! Nós nos amamos MUITO! Esse amor existe desde o Jardim do Éden, quando Adão e Eva desobedeceram a Deus (confira em Gênesis 2 e 3) e, como consequência, eles e toda a humanidade tornaram-se pecadores e amantes de si mesmos (confira em Romanos 5).

Deus nos criou à imagem e semelhança dEle, o que implica em nossa devoção a Ele. Como Moody explicou: “O homem era uma criatura que o seu Criador podia visitar, ter amizade e comunhão com ele. De outro lado, o Senhor podia esperar que o homem Lhe correspondesse e fosse digno de Sua confiança”. [2] Mas, por causa do pecado, essa correspondência e confiança foram quebradas. Deus saiu do governo de suas vidas. E o que sobrou? O nosso ego!

Jesus, nos Evangelhos, mostrando o quanto nos amamos, disse: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22:39). A comparação feita por Jesus não é que precisamos amar a nós mesmas para então conseguirmos amor o próximo, como é pregado por alguns. A comparação quer enfatizar o nosso amor próprio. Nos amamos tanto que o melhor amor que poderíamos dar a alguém é o tipo de amor que temos por nós mesmas.

Nós não precisamos aprender a nos amar, nós já nos amamos. Isso é algo natural (confira em Efésios 5.29). Por exemplo: se você tem uma dor de dente, o que você faz? Procura um dentista, certo? Ou, quando você está com fome, você vai atrás de alimento, óbvio! Ou, quando está suja e cansada, você toma um banho, não é mesmo? Então, tudo isso é demonstração do nosso amor próprio.

Outras demonstrações deste amor egoísta são:

  • A necessidade de reconhecimento. Ou seja, você vive na dependência de elogios e, quando eles não acontecem, você se sente frustrada.
  • Importar-se excessivamente com sua aparência. Ou seja, você faz das famosas seu alvo de beleza a tal ponto que se sente mal (e insatisfeita) por não se parecer com elas. Ou a obsessão pelos números expressos na balança. Ou a angústia que toma seu coração quando se vê no espelho. Ou a necessidade de postar selfies nas redes sociais para se sentir bonita por meio das curtidas e comentários. Ou a fixação pelas calorias e horas na academia.
  • A necessidade de ter atenção para si. Em uma roda de amigos, risadas exageradas e a expressão constante de opinião são indicativos de que você anseia a atenção dos outros.
  • A máxima atenção que se dá a opinião dos outros. Você vive de acordo com o que os outros falam e esperam de você. Se eles dizem “a”, você faz “a”. Se eles dizem “b”, você faz “b”.
  • A necessidade de ser/ter o melhor. Por exemplo: ter as melhores notas, estudar nas melhores faculdades, ter os melhores professores, ter o melhor emprego, etc. Uma outra forma de expressar essa necessidade é por meio de críticas. Você critica aparência, desempenho e atitudes das pessoas a sua volta para mostrar que você é melhor do que elas.

Diante dessas descrições é fácil perceber o quanto nos amamos, não é mesmo? Isso é real porque, como pecadoras, baseamos nossa vida no tripé desejos-sentimentos-(supostas)necessidades. Ou seja, se temos desejo de algo, corremos atrás. Se sentimos que algo é “preciso” [para nos deixar felizes e confortáveis], fazemos o possível para realizar tal sentimento. E, se cremos que algo é “necessário” aos nossos próprios olhos, logo, fazemos o possível para consegui-lo. Resumidamente, gastamos a maior parte da nossa vida em busca daquilo que queremos.

 

O QUE DEUS ESPERA

Mas, será que é isso que Deus quer de nós? O que a Palavra de Deus diz sobre isso?

“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu”. Romanos 12:1-3

Nós acreditamos em muitas mentiras, e, como naturalmente “narcisas”, cremos que tudo deve girar em torno de nós mesmas. Os versos acima nos mostram que uma forma de não nos amoldarmos aos padrões deste mundo é renovando a nossa mente com a verdade, e a verdade sobre este tema é dada no versículo três: devemos ter um conceito equilibrado de nós. Sobre isso, John Stott disse: “Quando pensamos em nós mesmos, devemos evitar tanto uma estimativa alta demais como (Paulo poderia ter acrescentado) uma avaliação demasiada baixa acerca de nossa pessoa”. [3] E como ter uma avaliação equilibrada de nós mesmas? Tendo os olhos em Cristo. Cristo é o único que nos capacita a medir nós mesmas com moderação, pois morreu em nosso lugar para dar nova vida e essa vida é baseada nEle e em Sua Palavra e não em nós mesmas. E é por causa dEle que sabemos que somos pecadoras e não melhor do que Ele e os outros.

“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém”. Romanos 11:36

A vida não nos foi dada para vivermos para nós, para a glória de Deus! Isso significa renunciar nosso coração egoísta e nos humilhar aos pés de Cristo, pois somos dEle e podemos viver para a glória dEle por meio dEle mesmo! Como 2 Coríntios 5.15 diz: “E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. Logo, não fomos criadas para encontrarmos satisfação em nós mesmas, mas nEle! Não estamos aqui para espalhar nosso nome, mas espalhar o dEle!

“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” Filipenses 2:3-8

Ter os olhos fitos em Jesus Cristo e ter a consciência de que devemos toda a glória a Ele desdobrará em nosso relacionamento com o próximo. Como vimos no verso acima, devemos considerar nossos irmãos e amigos superiores a nós! Sobre isso nosso maior exemplo é o próprio Cristo que, mesmo sendo Deus, se humilhou e veio a terra para nos salvar da condenação eterna. Por isso, independentemente da situação e da pessoa, precisamos considerar opiniões e atitudes daqueles que nos cercam, pois não somos donas da verdade e, consequentemente, não somos melhores do que ninguém.

 

Querida leitora, eu e você somos naturalmente “narcisas”, no entanto, não devemos erguer esta bandeira, mas a de Deus. Como ouvi recentemente de um pastor: a vida com Deus deve imitar o crescimento do rabo de um cavalo – deve crescer para baixo. Por isso, convido-lhe a orar o versículo a seguir todos os dias e a orar também a letra desta música:

“É necessário que Ele cresça e que eu diminua”. João 3.30

 


[1] Resumo feito a partir do vídeo encontrado em < https://www.youtube.com/watch?v=c3Nd8No0CFY> e os textos encontrados nos seguintes links: http://mitologiagrega14.blogspot.com.br/2011/11/narciso.html,  https://reinodasfabulas.wordpress.com/2011/03/07/a-historia-de-narciso/, https://pt.wikipedia.org/wiki/Narciso

[2] Moody, D.L., Comentário Bíblico.

[3] STOTT, John. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 2000. pg. 393, 394.