“A vida é tão curta, aproveite-a!”

Essa frase (que acredito todas vocês já ouviram) resume a versão moderna e repaginada de uma filosofia de vida surgida lá na Grécia Antiga, há cerca de 2400 anos, chamada hedonismo, que defendia que o maior valor moral da existência humana seria evitar o sofrimento. Epicuro, um filósofo grego muito pop em sua época, defendia essa doutrina afirmando que “o prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz” [1]. Mas o que você e eu, em pleno século 21, temos a ver com essa doutrina?

Sabemos que nós, seres humanos, temos dentro de nós o desejo de encontrar a felicidade. Um artigo da revista Superinteressante sobre este assunto diz que:

A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade – é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, separar, ter filhos e depois protegê-los”. [2]

Vocês já perceberam o quanto lutamos por nossa felicidade? Eu não sei você, mas muitas vezes meus pensamentos se voltam ao que posso ser, ter ou conseguir para ser mais feliz. Às vezes o busco em conquistas e realizações pessoais, outras no que adquiri ou ainda posso adquirir, e até mesmo na satisfação própria, na auto-estima.

Blaise Pascal um cientista e teólogo cristão que viveu no século XVII) -afirmava que todos os homens procuram ser felizes, sem exceção, por mais que empreguem meios diferentes para isto, pois “a vontade nunca faz o menor movimento que não seja em direção desse objetivo. É o motivo de todas as ações de todos os homens, até daquele que vão se enforcar”. [3]

Mas eu me pergunto, será realmente que nossa vida se resume a isso?  Buscar felicidade em interesses passageiros, que nunca nos saciam, a ponto de precisarmos procurar sempre outras fontes para nos sentirmos satisfeitos ao menos um momento? Como nossa sociedade tem encarado essa realidade?

COMO SE DÁ ESSA BUSCA PARA UMA SOCIEDADE QUE NÃO CONHECE A VERDADE MARAVILHOSA DE CRISTO?

Estamos frente a uma sociedade que nos diz: “Seja feliz! É isso que importa e nada mais!”, “Não ligue para o que os outros pensam ou fazem, faça o que você quiser!”, “Não ligue para a tradição ou para a religião, busque sua felicidade!”. Mesmo que, por vezes, de maneira camuflada, isto é pregado a nós o tempo todo em nossa sociedade, e, quase que instintivamente, vamos nos amoldando para encaixar nossa vida a essa teoria.

Atualmente, vale tudo para ser feliz. Até mesmo pecados claramente explicitados nas Escrituras tem sido justificados como estilo de vida ou escolha própria, como o aborto, a pornografia, os vícios (seja trabalho, academia ou sexo) e protegidos sob uma resposta relativista de que o que pode ser prazer pra mim pode não o ser para o outro e de que o que importa na vida é ser feliz.

Mas aprendemos que felicidade não é um estado estável do ser humano: buscamos a felicidade incansavelmente, quando a pegamos, ela escapa de nossas mãos em instantes, a ponto de nem conseguirmos perceber como a deixamos partir, e então logo precisamos achar outros coisas, projetos ou acontecimentos. Como consequência, a felicidade é sinônimo de ter, ser ou fazer, e não um estado de espírito.

O que nossa sociedade, principalmente as pessoas que defendem esta  doutrina,  não percebem é que a felicidade pode ser um estado e não uma busca frenética pelo prazer, e que podemos encontrar essa felicidade em uma fonte inesgotável. O curioso é que a filosofia hedonista  de Epicuro, afirmava que quanto mais nosso corpo é ‘prostituído’ na busca pela felicidade – aquilo que ele chamava de prazer efêmero, algo como uma fumaça que logo se desfaz – menos conseguimos nos satisfazer realmente, ficando impedidos ter real prazer e real felicidade.

COMO SE DÁ ESSA BUSCA PARA AQUELES QUE CONHECEM A VERDADE MARAVILHOSA DE CRISTO?

Proponho que olhemos primeiramente para a Bíblia e suas verdades. Felicidade é um tema abordado muitas vezes nas Escrituras:

  • Deus é a única fonte de alegria eterna. “Na Tua presença há plenitude de alegria; na Tua destra, delícias perpetuamente” Sl 16.11. Vimos acima que os seres humanos anseiam por felicidade, nosso Criador nos fez assim, e Ele sabia que Ele mesmo é a fonte do verdadeiro gozo. Isso lhe parece egoísta? John Piper diz:

“Uma vez que Deus é a fonte da maior felicidade, e já que Ele é o maior tesouro no mundo, e já que sua glória é o presente mais agradável que Ele poderia nos dar, portanto, a coisa mais bondosa e amorosa que Ele poderia fazer seria se revelar, se magnificar e se vindicar para nosso eterno gozo”. [4]

  • “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos Nele”. Jesus disse: “Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” Jo 15.11.
    Essa é a frase de vida de John Piper, e o que ela comunica é que Deus não se preocupa apenas com que o obedeçamos e glorifiquemos a Ele. Muito mais que obedecer, Ele quer que tenhamos prazer Naquele que nos criou e nos salvou enquanto você e eu estávamos perdidos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1). Portanto: “A finalidade da criação é glorificar a Deus. E o que é glorificar a Deus, se não regozijar-se diante da glória que Ele manifestou?” [5]
  • Nós nos contentamos com pouco. Se sabemos que Deus é o único que pode nos dar verdadeira alegria, a maior alegria, como John Piper diz em um de seus artigos:

“Deus é o ser para quem a auto-exaltação é o ato mais amoroso, porque Ele está exaltando para nós o que, por si só, pode nos satisfazer completamente e para sempre. Se nós nos exaltamos, não estamos amando, porque distraímos as pessoas da única Pessoa que pode fazê-las felizes para sempre, Deus. Mas se Deus se exalta, ele chama atenção a única Pessoa que pode nos fazer felizes para sempre, Ele mesmo. Ele não é um egomaníaco. Ele é um Deus infinitamente glorioso e que a tudo satisfaz, nos oferecendo eterna e suprema alegria nEle mesmo”. [6]

Mas muitas vezes nos contentamos com o prazer do pecado, o prazer supérfluo, o prazer em nós mesmos, o prazer como fim último, um prazer egoísta, ao invés de ir direto para fonte de todo prazer e alegria genuínos.

“Somos criaturas sem entusiasmo, brincando feito bobos e inconsequentes com bebida, sexo, e ambições, quando o que se nos oferece é alegria infinita. Agimos como uma criança sem noção, que prefere continuar fazendo bolinhos de lama num cortiço porque não consegue imaginar o que significa a dádiva de um fim de semana na praia. Muito facilmente, nós nos contentamos com pouco”. [7]

  • A alegria pode ser um estado permanente, mesmo em meio a dificuldades. “Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.” 1 Pe 4.13; “Tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações.” Tg 1.2; “Nos gloriamos nas tribulações” Rm 5.3.
    Já pensaram que nós, crentes em Cristo Jesus, podemos nos alegrar até nas dificuldades? Nossa alegria é bem mais real. Como eu disse anteriormente, a felicidade pode ser um estado permanente quando ela não está firmada em coisas passageiras, mas em algo eterno. Não estou dizendo que sempre iremos rir à toa, mas conseguiremos passar pelo sofrimento contentes no Senhor. (Para entender mais sobre isso, leia este artigo: http://www.desiringgod.org/messages/sorrowful-yet-always-rejoicing?lang=pt)
  • Alegria em Deus é meu dever. “Servi ao Senhor com alegria” Sl 100.2; “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu, a tua lei está dentro do meu coração” Sl 40.8; “Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justo, exultai, vós todos que são retos de coração” Sl 32.11; “Alegrai-vos.” Fp 4.4. 
    O prazer em Deus não deve ser apenas uma consequência da obediência, mas, assim como a obediência é um dever, o prazer também deve ser. Pois assim como não obedecer é pecado, não nos alegrarmos e não nos satisfazermos em Cristo também é pecado.

Uma distorção da verdade: 

“Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” Mc 8.34.

A religião que tem por base a fé em Cristo Jesus como único salvador, não exalta o sofrimento per se (ou não deveria). Esse versículo, que muitos usam de forma inadequada, querendo colocar a vida cristã como uma vida de sofrimento, sem enxergar que Cristo está pedindo para que neguemos desejos e prazeres supérfluos a fim de conseguirmos olhar e experimentar o prazer que Cristo pode nos dar, um prazer excelente, inesgotável e indescritível para nós humanos.

CONCLUSÃO: A ALEGRIA DE ACHAR PRAZER EM CRISTO 

Buscar pelo prazer não é pecado, mas se o buscarmos na fonte errada, nunca seremos saciados, e podemos chegar a lugares sombrios, até perdermos de vista a moral. Mas quando buscamos o prazer na fonte correta, em Cristo, afirmo a vocês que encontraremos o verdadeiro prazer, nossa alma se deleitará Nele e esta busca incansável se tornará em um achado completo, eterno e feliz.

Não sei onde você tem buscado prazer, mas eu te encorajo, assim como escrever esse artigo tem me encorajado, a buscar ler, reter, viver e amar as verdade de Deus, pois a nossa alegria pode estar firmada em Cristo, Deus eterno, nossa fonte de satisfação e não em suas bênçãos ou em prazeres mundanos que escapam por entre nossos dedos em um curto instante.

Concluo com as sábias palavras de Santo Agostinho, que pude experimentar em minha vida, e oro para que possam experimentá-la também:

“Quão suave se tornou de repente para mim a privação das falsas delícias! Eu que tanto temia perdê-las, senti prazer agora em abandoná-las. Tu, a verdadeira e suprema suavidade, as afastavas de mim. Afastavas e entravas em lugar delas, mais doce do que qualquer prazer.”

“Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que… nos alegremos todos os nossos dias” Sl 90.14


[1] Diógenes Laércio. Vitae et placita philosophorum.  

[2] http://super.abril.com.br/cultura/a-busca-da-felicidade7

[3]  John Piper, Plena Satisfação em Deus, p. 17 – citação de Blaise Pascal , pensamentos, p.60-61

[4] http://www.desiringgod.org/messages/god-is-most-glorified-in-us-when-we-are-most-satisfied-in-him?lang=pt

[5] John Piper, Plena Satisfação em Deus, p 17 – citação de Jonathan Edwards

[6] http://www.desiringgod.org/messages/god-is-most-glorified-in-us-when-we-are-most-satisfied-in-him?lang=pt

[7] John Piper , Plena Satisfação em Deus, p. 27  – citação de C.S.Lewis , O peso da Glória, p.30