Já haviam se passado 4 anos da minha conversão, muita luta, muitas experiências com Jesus e muita leitura e oração. Em 4 anos Jesus me ensinou muita coisa, mas ele queria me ensinar mais ainda. Então aconteceram algumas coisas na minha vida pessoal, como me mudar de país mais uma vez, deixar minha família definitivamente, me unir ao meu noivo em casamento, e viver a vida que Deus queria para mim como missionária a 2500 km de onde eu morava. Com certeza Deus estava fazendo mudanças na minha vida, muito maiores do que eu conseguia enxergar. Chegara o momento de passar mais uma etapa na vida cristã.

Demorei um tempo em entender que a maior mudança que o Senhor queria fazer em mim não era o fato de levar minhas coisas para outro país, ou dizer “sim” no altar e mudar meu sobrenome, na verdade, a maior mudança que Ele queria fazer em mim era aprender como ser uma serva-escrava dele onde eu estiver e ao redor de qualquer tipo de pessoas.

“E, se você era escravo quando o Senhor o chamou, agora é livre no Senhor. E, se você era livre quando o Senhor o chamou, agora é escravo de Cristo. Vocês foram comprados por alto preço, portanto não se deixem escravizar pelo mundo.” 1 Coríntios 7.22

“Escravos de Cristo! É o que somos! Todas as vezes que os apóstolos se chamavam de “servos do Senhor” (bem como a outros) é este o conceito que eles estavam comunicando.” Luciano Subirá

A palavra escravo no grego, a língua original do Novo Testamento, quer dizer “servo”, “escravo” “subjugado às vontades do seu Senhor”. Mas como assim escravos? Sim, exatamente isso. Somos escravas de Cristo porque fomos compradas por um preço alto, preço de sangue, e nada pode nos separar desse amor. A verdade é que, sem Cristo, também somos escravos, mas escravos de pecado, escravos do Inimigo, não temos decisão própria, tudo o que temos “direito” a fazer é tentar preencher a nossa alma de qualquer outra coisa que não seja Deus.

Quando somos encontradas por Jesus isso muda, seu amor nos constrange, e para isso faremos uma pequena comparação. Olhemos no Antigo Testamento, uma pequena comparação da nossa posição em Cristo:

“Mas, se por estar bem com você e amar você e sua família, o servo disser: ‘Não quero ir embora’,  você pegará um furador e furará a ponta da orelha dele contra a porta. Depois disso, ele será seu escravo para o resto da vida. Faça o mesmo com as escravas.” Deuteronômio 15.16-17

A regra era que, depois de servir seu senhor por seis anos, o escravo do Israelita poderia ser livre, se ele assim o quisesse. No caso de ele “estar de bem com seu Senhor e amar seu Senhor”, não querendo a liberdade, ele seria marcado na orelha e ficaria para sempre com seu senhor, mantendo o “status” de escravo. Provavelmente o motivo para aquele escravo trocar uma vida de “liberdade” por uma vida de escravidão era uma demonstração de misericórdia e bondade no cuidado do Senhor para com ele(1). De certa maneira, nossa escravidão em Cristo é parecida: fomos compradas por ele, resgatadas pela sua graça, a bondade com que o Senhor do universo nos trata é muito mais do que poderíamos pedir! E quanto lucro nos traz! O senhor nos deu uma herança eterna, o presente grandioso que é a salvação!

“De qualquer forma, o amor de Cristo nos impulsiona. Porque cremos que ele morreu por todos, também cremos que todos morreram. Ele morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.” 2 Coríntios 5.14-5

“Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo.” Filipenses 3.7,8

É por isso que nesse processo da minha vida cristã, aprender a ser serva tem sido duro, porque não significa que eu estou dando a Ele só o dia de domingo, ou só o meu serviço na minha igreja local, significa que estou dando até meus suspiros a Ele. Cada passo que eu der precisa estar aprovado pela Sua palavra, pelos Seus princípios e decretos. Agora eu tenho um dono, um Senhor que me ama, que sabe o que é o melhor para mim. Eu não sou mais meu próprio termômetro, e é por isso que eu, como cristã e serva de Cristo, tenho responsabilidades, tais como:

1. Amar ao Senhor acima de todas as coisas e pessoas:

“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.” Deuteronômio 6:5

“Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.” 1 João 4:19-21

“Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. João 14:21

2. Anunciar sua Salvação:

“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” 1 Pedro 2:9

“Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.” 2 Timóteo 4:2

3. Viver em santidade dando um testemunho de Cristo em nossas vidas:

“Portanto, livrem-se de toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e toda espécie de maledicência. Como crianças recém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação, agora que provaram que o Senhor é bom. “ 1 Pedro 2:1-3

“Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus…” Colossenses 1:9-10

Por isso, amemos a Deus, preguemos sua Palavra e andemos em santidade!
_________________________________________________________

(1) Em momento algum estamos defendendo a escravidão como vista no Brasil colonial, por exemplo. O termo escravo/servo no Israel do Antigo Testamento era intercambiável, com uma característica de servidão voluntária. O escravo, neste contexto, era alguém que havia escolhido se submeter a trabalhar sob as ordens de outra pessoa para pagar seus débitos e, ao invés de cuidar de suas próprias posses, dedicava-se ao cuidado das posses de outrem. Assim que ele pagasse o seu débito estaria livre para ir e, uma vez liberto, estaria livre para buscar seu próprio sustento sem nenhuma obrigação posterior dentro daquele domicílio. Ele retornava como um participante completo na sociedade israelita. Ainda que tornar-se um servo contratado significasse um pequeno passo abaixo na escala social, a pessoa poderia voltar a ser um cidadão completo assim que o débito fosse pago. A Lei se preocupava que um escravo fosse tratado como um homem “contratado anualmente” e não fosse “dominado impiedosamente” (Levítico 25:53-54 NVI). De fato, os servos em Israel não eram excluídos da sociedade durante o tempo de servidão, mas eram completamente incorporados dentro dela. Aos escravos – mesmo se não tivessem pago suas dívidas – era garantida a libertação a cada sete anos com todos os débitos perdoados (Deuteronômio 15). Então, inegavelmente, a servidão perpétua era proibida, a menos que alguém amasse o chefe da família e quisesse se unir a ele (Êxodo 21:5), como mencionamos no texto.