Ano passado as conversas na minha mesa tomaram rumos muito diferentes. Nunca na minha vida vi tão grande polarização – parece que todo mundo tinha uma posição diferente sobre política, papel da polícia, discriminação por causa da cor da pele ou expressão de gênero, e, é claro, prevenção e tratamento do COVID. Tenho de confessar que participei de várias dessas conversas, algumas mais intensas que outras. Como cristã, especialmente, me preocupa o quanto nesta conversa a sociologia é colocada acima da teologia, perdendo de vista o entendimento bíblico do que, de fato, é justiça. 

O Senhor faz justiça e julga a todos os oprimidos. Salmo 103.6

Como vimos, justiça é dar a alguém aquilo que lhe é devido ou fazer aquilo que deve ser feito. Por exemplo, é justo dar a Deus glória e adoração por causa de quem Ele é. Justiça existe apenas porque Deus é justo e reto. Ele é quem define o que é justiça e quem a revela em Sua Palavra. Em nosso desejo de agirmos com justiça, precisamos ler as Escrituras para entender o que Deus considera justiça e como podemos vivê-la. 

Antes disso, no entanto, precisamos estar prontos a confrontar nossa visão atual de justiça social e, a partir daí, desenvolver nossa posição a partir das Escrituras. A Bíblia nos apresenta um caminho para a verdadeira justiça:

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. ” Efésios 4.22-24

No artigo de hoje, gostaria de te oferecer duas perguntas para te ajudar a DESPOJAR da futilidade dos seus pensamentos, corrompidos por desejo enganosos, e a RENOVAR seu modo de pensar quanto a justiça social e outras questões relacionadas a ela.

 

  • Sua visão de “justiça social” leva a sério o caráter divino de Deus?

 

A primeira injustiça que podemos cometer é a idolatria – adorar a criação ao invés do Criador. No nosso presente século, não há ídolo mais adorado do que o “eu”. Veja as propagandas na TV, os livros mais vendidos, as postagens no Instagram, as figurinhas no WhatsApp – todos cantando versões da mesma melodia: “Acima de tudo, seja feliz.” “A primeira pessoa que você deve agradar é você mesma.” “Seja você mesma.” Siga o seu coração.”

Aqui estão os seis mandamentos da Idolatria do Eu, ouvidos em todo lugar pela nossa geração. Veja se você os reconhece:

 

  • A origem e o padrão da verdade são a sua própria mente, então confie em si mesma. #arespostavemdedentro 
  • Suas emoções são autoritativas: então não as questione nem deixe ninguém questioná-las. #sigaseucoração
  • Você é soberano sobre seus sonhos e desejos, então use seu poder para mover o mundo à volta deles. #vivasuaverdade #amorpróprio
  • Você é o ser supremo, então aja sempre de acordo com o seu principal objetivo: glorificar e satisfazer a si mesma. #agentesóviveumavez #empodereasimesmo
  • Você é uma boa pessoa, então não deixe que ninguém te oprima com a ideia antiquada que você é um pecador que precisa de graça. #nuncamude
  • Você é o criador, então use seu poder criativo para criar sua própria identidade, para definir seu propósito. #sejavocêmesmo #autenticidade

 

Pense comigo: se temos autonomia para criar nossa identidade, nosso propósito, então não existe distinção entre Criador e criatura! No entanto, esse pensamento é cruel. Definir e sustentar identidade e propósito por toda a vida é uma tarefa grande demais para um ser humano, e requer uma onipotência, uma soberania, que nós não temos, colocando expectativas do tamanho de Deus nos ombros de suas criaturas. Isso é exaustivo! Além disso, tira de nós a alegria de sermos criadas por alguém infinitamente melhor que todas nós.

Muito comum também é a Idolatria da Aceitação Social, a necessidade de moldar a nossa cosmovisão para sermos aceitas socialmente, ao invés de sermos fiéis às Escrituras. Pense comigo se a razão pela qual você fica em silêncio ou foge desse assunto é porque você está preocupada com o que as pessoas vão pensar de você, ou se, ao contrário, isso a levou a comprometer suas convicções bíblicas. Se essa for sua motivação principal, é uma escolha ruim.

B) Sua visão de “justiça social” coloca sua identificação com um grupo acima de sua identificação em Adão e em Cristo?

Infelizmente, nossa necessidade de uma identidade e um senso de pertencimento pode nos levar a unir-nos a grupos ímpios e, consequentemente, injustos. O tribalismo é uma das piores ideias do século 20, colocando-nos sempre numa posição de “nós contra eles”, não importa que grupo façamos parte. 

Deus nos fez para viver em comunidade assim como Ele vive em comunidade – “não é bom que o homem esteja só” (Gn. 2:18). Mas o que vemos hoje em nossa sociedade e, infelizmente, até mesmo em nossas igrejas, é a tendência em muitos de, por pertencer a um grupo, opor-se a outro, culpando o outro pelos males da sociedade. Mas como podemos viver a unidade proposta por Deus como igreja se outras identidades tomam precedência em nossas vidas acima da identidade que compartilhamos? Lembre-se de três verdades bíblicas fundamentais:

  • Nossa Identidade em Adão: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Romanos 3:23

Todos pecaram e carecem da glória de Deus – pessoas de todas as cores, tribos e opinião política. Você é tão corrupta, pecadora e carente quanto eu. Você precisa da graça de Deus. O pecado é universal, assim como a necessidade de redenção. Dê uma olhada no espelho e lide com o seu próprio pecado primeiro.

  • Nossa Identidade em Cristo: “Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28

Naquela época, uma oração comum entre os fariseus dizia: “Graças a Deus que não sou nem mulher, nem escravo, nem gentio”. Paulo aqui acaba com essa distinção. Quando compartilhamos da fé salvífica em Cristo, compartilhamos também de sua identidade, e isto põe por terra qualquer machismo, feminismo, classicismo e racismo. Estar “em Cristo” é a solução para a guerra entre todas essas “tribos”.

  • Somente Deus é o Juiz e o Justificador: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.” Romanos 8:33-34

Romanos 8 deixa bem claro de onde vem nossa justificação. Você não precisa de aceitação social. Seu desempenho não se baseia no falso evangelho da eterna necessidade de boas obras. Já que Cristo já ressuscitou e intercede por nós com Deus, você precisa apenas responder ao que Ele fez demonstrando o Fruto do Espírito. 

“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:19-22

O que sua visão de justiça social está produzindo? Medo? Desconfiança? Discórdia? O maior ato de justiça que você pode fazer é adorar a Deus.