Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. ” Efésios 4.22-24

O novo homem é “criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. Se fomos criados para ser semelhantes a Deus em justiça, precisamos conhecer Sua justiça. Por isso trouxe nas últimas semanas uma explicação introdutória do que é e o que não é justiça divina – e há muito mais a se dizer que não cabe em um artigo (ou livro).

Mas veja a importância da verdade neste versículo: ela é a origem da justiça, e da santidade. Para ser semelhante a Deus é preciso conhecer a Verdade (Jo 14:6). Eis aqui três verdades bíblicas que devem guiar a nossa conversa:

  1. Somos responsáveis perante Deus por cada palavra que dizemos.

“Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado.” Mateus 12:36-37

  1. Somos guiados por um padrão elevado de conduta verbal.

“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.” Colossenses 4:6

  1. Somos chamados a paz.

“Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.” 2 Timóteo 2:24-26

A principal tática do inimigo é colocar-nos uns contra os outros – os “laços do diabo” do versículo acima. Insensatez, engano e contenda são suas principais armas. No assunto que temos tratado o cuidado é duplamente necessário. Quando se fala da chamada “justiça social”, há diferentes definições, cosmovisões e contextos disponíveis, mas muitos de seus proponentes bebem da “teoria crítica contemporânea”. Permita-me um resumo geral do assunto e perdoe-me por detalhes deixados de fora.

A origem da teoria (ou teorias) crítica contemporânea (TCC) é comumente traçada à Escola de Frankfurt, fundada na Alemanha durante os anos 20 por um grupo de filósofos e sociólogos marxistas insatisfeitos com o progresso lento do comunismo. Muitas vezes ela (e estudos derivados dela) são chamados de marxismo cultural por compartilharem o objetivo de promover libertação não apenas de servidão física ou econômica, mas também dos chamados “ideias e valores culturais opressivos”, mas eu seria cautelosa em chamá-la assim, já que não é uma teoria única ou fácil de definir.

No entanto, algumas pressuposições servem para identificá-la: TCC divide a sociedade em grupos oprimidos e opressores, e muitos dos seus teóricos insistem que nossa identidade está inseparavelmente ligada a nossa identidade de grupo. Veja a tabela a seguir:

Identidades de Grupo e Relações de Poder
Minoria oprimida Tipo de Opressão Maioria Opressora
Pessoa de cor Racismo Pessoa branca
Pobre/Classe trabalhadora Classicismo Investidores ricos/Elite
Mulher/Transgênero/Queer Sexismo Homem cisgênero
Gays/Lésbicas/Bisexuais Heterosexismo Heterosexuais
Muçulmanos, budistas, judeus, hindus e outros grupos não cristãos Opressão religiosa, i.e. antisemitismo Cristãos
Pessoa com deficiência Capacitismo Saudável
Imigrantes Nacionalismo Cidadãos
Indígenas Colonialismo Colonizadores Brancos

Opressão seria o uso injusto ou cruel de autoridade ou poder. Esse poder, chamado “poder hegemônico”, seria a habilidade de um grupo em particular de impor suas normas, valores e expectativas no resto da sociedade.

“Em qualquer relação entre grupos que definem uns aos outros, o grupo dominante é o grupo que é mais valorizado. O grupo dominante determina as normas pelas grupo minoria é julgado.” (1)

O aspecto aqui é geral, não específico, subjetivo, não objetivo, e grupal, não individual. Ao invés de “uma mulher é abusada por seu parceiro”, o título da notícia é “todo homem é um estuprador em potencial”, frase usada para explicar que “muitas mulheres tem medo de sair na rua à noite, já que nenhum homem é confiável”, mas sim um estuprador em potencial. 

Membros de um grupo opressor, neste caso, homens, não são vistos como moralmente neutros, ainda que seu comportamento individual seja impecável. O membro do grupo dominante se beneficia, e ao mesmo é moralmente corrompido, pelo privilégio que obtém por fazer parte daquele grupo. 

Peggy McIntosh, autora branca que popularizou o termo “privilégio branco” num documento escrito em 1988, disse: “Minha escola não me treinou para me ver como opressora… eu fui ensinada que meu estado moral dependia de minha vontade moral.” Traduzindo: a pessoa de um grupo dominante é culpada dos problemas causados pelo grupo que participa. Assim, voltando ao caso acima, se a maioria dos estupros é praticado por homens, todo homem é um estuprador em potencial. 

Você pode perceber em alguns parágrafos divergências entre a teoria e o Evangelho da Verdade? O que há em comum entre eles?

(1) Sensoy, O; DiAngelo, Is Everyone Really Equal? An Introduction to Key Concepts in Social Justice Education, Teachers College Press, New York, 2017, p. 25.

(2) McIntosh, P. “White Privilege and Male Privilege,” Race, Class, and Gender: An Anthology, Wad- sworth, Belmont, 1992, p. 72.