Lembro-me de uma história que ouvi quando era criança, sobre uma adolescente que, ao ver uma mãe carente de ajuda, dispôs-se a cuidar dos filhos dela. Aquela mãe tinha cinco filhos, e a quarta estava internada no hospital. Ela tinha menos de cinco anos e precisava da companhia da mamãe e do papai. O filho mais novo era um bebê de seis meses. A adolescente, então, se dedicou a cuidar do nenê para socorrer sua mãe. Numa tarde, porém, ela se descuidou em um momento e o bebê caiu da cama com o rosto de frente para o chão, machucando sua testa. Adivinhem quem entrou naquele momento no quarto da criança? A mãe dele. Claro que ela não gostou, mas não brigou com a adolescente, somente a substituiu por outra jovem mais madura.

Você já se viu numa situação semelhante? Muitas vezes, dispomo-nos a ajudar alguém ou tomamos alguma iniciativa muito boa mas, num dado momento, cometemos um erro e, por mais que ele não seja intencional, não somos isentas da culpa por tê-lo feito, e nem deveríamos ser. Sentimo-nos muito mal, não é mesmo?! Às vezes, demoramos mais que as outras pessoas para nos perdoar e ficamos recordando a cena daquele erro a todo instante, contudo, nessas horas, é natural esquecermos da perspectiva eterna da vida, por isso vou ajudá-las a se lembrar com uma outra história… 

Sua ama o apanhou e fugiu, mas, na pressa, ela o deixou cair e ele ficou manco. Seu nome era Mefibosete.” (2 Samuel 4.4b)

Depois da morte de Saul e Jônatas, dois líderes de um grupo de ataque do exército do outro filho de Saul, chamado Is-Bosete, decidiram matá-lo para, de acordo com os estudiosos, serem reconhecidos pelo futuro rei que assumiria, Davi (leia 2 Samuel 4). Assim, todos os descendentes de Saul corriam risco de vida, incluindo Mefibosete, o filho de Jônatas que ainda estava vivo. A situação era tão amedrontadora, que todo o povo de Israel ficou perturbado (2 Sm 4.1). E a ama, para salvar Mefibosete, pegou-o e fugiu com ele, contudo, deixou-o cair e este ficou manco. Mefibosete não pôde mais mexer os dois pés porque sua cuidadora o deixou cair! Se eu fosse a ama dele, com certeza, sentiria-me culpada por muito tempo. Teria pena de olhar para ele e temeria por ter machucado o filho do príncipe.

Mas, a Palavra de Deus não foca as emoções desestabilizadas que supostamente a ama sentiu, nem o sofrimento de Mefibosete, pelo contrário, relata algo muito melhor: a graça de Deus! A perspectiva eterna que gostaria de ajudá-las a lembrar é exatamente que o que redunda de bom de algo ruim são os corações moldados e as virtudes desenvolvidas para a eternidade. Aquilo que somente Deus pode fazer quando não merecemos e erramos. Mefibosete, apesar do erro de sua ama, teve sua vida preservada e, anos depois, foi morar com o rei Davi em Jerusalém, comendo à mesa dele todos os dias. Davi devolveu a ele tudo o que pertencia à sua família, e foi abençoado por poder cumprir a aliança que fez com Jônatas de cuidar da descendência de seu melhor amigo (1 Sm 20.15). Deus fez muito mais do que imaginaríamos para aquela criança!

Apesar de termos facilidade em nos deixar ser levadas pelas emoções e focar nas lamentações, no sofrimento, nos erros, devemos orar e buscar essa perspectiva do alto. Procurar ver o que Deus quer fazer em nós e por meio de nós com esse momento ruim. As pessoas podem não ter misericórdia da sua vida quando você errar, mas esse é um bom momento para você aprender a ser humilde, a assumir os erros não intencionais e as consequências dele e, ainda, aprender a perdoar aqueles que te julgam.

É natural se sentir incompreendida, envergonhada e até mesmo sozinha. Mas Deus está vendo seu sofrimento e está contigo. Ele já te perdoou da culpa do pecado e oferece misericórdia se você confessar seus pecados (Pv 28.13).  Deus também tem muito a ensinar a quem sofreu com o seu erro – talvez o coração mais moldado será o da outra pessoa, que precisará aprender te perdoar, demonstrar misericórdia e amor. Deus está no controle de tudo e sabe o que será melhor para cada um! Da mesma forma que Ele permitiu a queda de Adão e Eva para revelar Seu Filho ao mundo, Ele também permite a nossa para ser exaltado em nossas vidas, quando O buscamos em meio ao desespero e nos preocupamos em agir como Suas filhas.

Para aprender com o seu erro, peça perdão a Deus e a quem for preciso, esforce-se para não errar, contando com a ajuda do Espírito Santo, e descanse no Senhor quanto aos resultados. A ideia não é ser positivista e sonhar que apenas com o esforço pessoal você sempre será alegre e verá o melhor do que é ruim, mas a cada dia, em oração, pedir ajuda dEle e não se deixar levar pelo desânimo e pelas mentiras que você coloca em sua cabeça (‘não vou conseguir’, ‘ninguém vai me entender’, ‘ninguém vai me amar’, etc). Com a ajuda dEle, podemos ter essa perspectiva do alto e, apesar de ser um desafio para nós vivê-la, precisamos sempre nos esforçar para não esquecê-la.

“Há um céu na alma do piedoso” Jeremiah Burroughs