O nome do jogo já esclarece as regras: você pode escolher – verdade ou consequência – só não pode fugir. Se não encarar o desafio de responder a verdade sobre sua intimidade, tem que estar disposta a sofrer as consequências – um lendário mico para divertir a roda. O que “verdade… ou consequência?” nos ensina sobre lidar biblicamente com nossas responsabilidades? Muito mais do que você imagina!

Você acorda com o despertar da décima soneca do celular e liga o aparelho para ver se pode pedir mais dez minutos. Não dá! Já está atrasada! Se não se vestir em cinco minutos e engolir o café da manhã em quatro segundos, vai perder a carona do irmão mais velho pra te deixar no cursinho. Prova de Geografia no primeiro horário, putz!!! Abre os olhos e sente uma leve dor de cabeça; desce da cama irritada porque já está ouvindo os gritos do seu “uber familiar” dizendo para se apressar, senão vai ter que ir de metrô. No caminho para o banheiro lembra que seu tênis preferido foi mascado pela cachorra de estimação da sua melhor amiga; hoje terá que ir de crocs mesmo. Resmunga um palavrão. Não encontra o livro de Geografia para colocar na mochila. Ao passar pelo espelho parece que está levando um pacote de esponja de aço sobre a cabeça – “isso não pode ser o meu cabelo!” Pensa em ligar a chapinha; não vai dar tempo. Um elástico para um rabo de cavalo tem que resolver o problema. Seus olhos estão inchados, as espinhas pipocam em sua testa; você sente vontade de esganar seu irmão, enquanto ouve mais um grito dele chamando por você de dentro do elevador. Na correria, tromba com a maçaneta da porta – outro palavrão. O elevador já desceu; terá que esperar o próximo. Ao correr da porta dá de cara com a vizinha do andar de cima que chegou na madrugada e ficou desfilando de salto alto pela casa, interrompendo seu sono; uma dúzia de xingamentos mentais. Entra no carro e puxa o capuz do moletom pra mostrar ao “motorista” que não quer papo. Ele não te dá moral e ainda faz a mesma piadinha infame de todas as manhãs. Você o odeia com todas as suas forças; a vontade de esganar uma pessoa bate o recorde; parece que você vai explodir. Ao descer na porta do cursinho, dá de cara com “o modinha” que você vive tentando impressionar. Justo hoje, que você se sente uma mistura bizarra de baleia com topete de calopsita, ele resolve te dar bom dia. Você aperta o passo e finge que não escutou. Já na sala de aula, vem a gota d’água: você confundiu o horário e a prova que começará em três minutos é de História, não de Geografia. Aaaaaaaahhhhhh!!!! Você xinga, joga livros para o alto, não consegue conter o choro, tem que correr para o banheiro e bate com tanta força a porta da sala que os vidros e a maçaneta despencam aos pedaços.

A verdade: você teve um ataque de ira, mostrou descontrole emocional, ofendeu pessoas, causou prejuízos ao patrimônio, não conseguiu fazer a prova e foi repreendida pelo diretor com um sermão que te deixou com a cara queimando de vergonha.

A consequência: você se sentiu péssima e envergonhada porque percebeu que exagerou na dose, terá que se humilhar e pedir perdão aos colegas, gastar da sua mesada para pagar o conserto da porta e a segunda chamada da prova que não conseguiu fazer. E passar pelo segundo “carão” para contar aos seus pais sobre a sua birra de menina mimada.

Agora, sua tentativa de driblar as regras e explicar que não teve culpa ou que foi tão grave assim: “Estou de TPM, meu humor fica péssimo, vocês precisam entender! A situação foi muito estressante, não consegui me controlar! Fui provocada e reagi como qualquer pessoa normal. Não tenho sangue de barata!”

Como lidar biblicamente com suas emoções “fora de controle”?

Martha Peace escreveu:

“Geralmente as pessoas pensam que a TPM é uma licença para ficar frenética. […] O que Deus quer nos ensinar durante esses momentos? Como podemos suportá-los de uma maneira que honre a Deus? […] Às vezes as pessoas me perguntam se eu penso que a TPM é real. A resposta é ‘Sim!’, entretanto, ainda sendo tão real ela não pode nos impedir de honrar a Deus e amar os outros durante esse período”. [1]

TPM não é pecado, mas agir com ira é pecado (cf Ef 4.26, 27). Flutuações hormonais não são pecado, mas palavras torpes são pecado (cf Ef 4.29). O termômetro não é a condição fisiológica pela qual você está passando, mas suas reações de submissão e obediência aos mandamentos do Senhor, sem favorecer o diabo que busca brechas para lhe fazer desonrar o Espírito Santo que vive em você. O apóstolo Paulo escreveu o que precisa acontecer: você tem que “fazer morrer” as práticas pecaminosas em sua vida (cf. Rm 8.13; Cl 3.5). Não, não é simples! Mas com o Espírito Santo vivendo em nós, até meninas mimadas podem encarar a luta contra a tentação de fugirem à responsabilidade de sua instabilidade emocional.

“A expressão ‘afinal, ninguém é perfeito’, talvez seja nossa desculpa. Contudo, encarar honestamente esses pecados, é algo bem diferente. Para começo de conversa, é uma situação que causa vergonha. Além disso, também implica termos de tomar uma atitude em relação aos nossos pecados. Não podemos continuar a ignorá-los como fizemos até agora”.[2]

E quando o universo parece conspirar contra você, “verdade… ou consequência?” continua valendo? Leia com atenção o próximo relato:

Dormi com um chiclete na boca e agora há chiclete grudado em meu cabelo. Quando saí da cama esta manhã, tropecei no skate e, por fatalidade, deixei cair meu suéter na pia enquanto a água corria, e pude entender que aquele seria um dia terrível, horrível, ruim, muito ruim! […] Havia favas para o jantar e eu odeio favas. Estavam se beijando na televisão e eu odeio beijos. Meu banho estava quente demais, entrou sabão em meus olhos, … tive que usar meu pijama de trem. Eu odeio meu pijama de trem. Quando fui para a cama, não encontrei meu travesseiro favorito, a luz do abajur queimou e eu mordi minha língua. O gato quis dormir com meu irmão caçula, não comigo. Foi um dia terrível, horrível, ruim, muito ruim! [3]

A verdade: todas vivemos dias em que desejamos ser teletransportadas para regiões desabitadas do planeta. Dá tudo errado e só queremos fechar os olhos, dormir e acordar na semana seguinte quando a turbulência já tiver cessado.

A consequência: fugir não é uma opção. É preciso engolir o choro e buscar uma saída em meio ao caos de suas experiências de dor e sofrimento.

Sua tentativa: vitimizar-se! “A culpa é da minha mãe que me tira do sério com tantas cobranças!” “Se pelo menos eu tivesse dinheiro para viajar nas férias para esfriar a cabeça…” “Se meu ex parasse de me provocar com tantas postagens de felicidade, eu conseguiria superar o fim do nosso namoro…”

Como lidar biblicamente com as circunstâncias?

Primeiro, é preciso identificar a “crença” que está por trás das suas desculpas: algo ou alguém me fez ser do jeito que sou. Não fosse “fulano”, eu seria diferente – mais paciente, mais amorosa, mais contente, menos impulsiva. Essa crença é mentirosa e o único interessado em manter você presa a ela é o diabo, porque, assim, ele pode minar sua confiança na soberania e na bondade de Deus. A verdade é que as adversidades não têm o poder de nos fazer mais rancorosas, ingratas e amargas. Adversidades simplesmente abrem espaço para revelarmos o que verdadeiramente somos – rancorosas, ingratas e amargas. Nancy DeMoss afirma que “se não estamos satisfeitas dentro das circunstâncias presentes, provavelmente não seremos felizes em nenhum outro conjunto de circunstâncias.” [4]

Escute, menina mimada, as palavras do apóstolo Paulo: “…aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação… Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13, NVI). A tranquilidade desse homem não dependia dos acontecimentos ao seu redor, mas da fidelidade imutável do Senhor. O Senhor fez promessas sobre o seu sustento e provisão para as suas necessidades, e Ele não mente. Então confie, fique tranquila e viva contente, pois não há uma conspiração contra você. Deus sabe o tempo e o modo como conduzir todas as coisas para que elas cooperem no tratamento do seu caráter, fazendo-lhe mais parecida com Jesus; é esse o propósito dEle para a sua vida (cf. Rm 8.28, 29).

“A verdade é que podemos confiar em um Deus sábio, amoroso e soberano para controlar todas as circunstâncias de nossa vida. A alegria, a paz e a estabilidade vêm de acreditar que cada circunstância que envolve nossa vida foi previamente filtrada por entre seus dedos amorosos e faz parte de um grande e eterno plano que ele está realizando neste mundo e em nossa vida.” [5]

Menina, está na hora de deixar de ser mimada. Diga a verdade e encare as consequências.

  1. Diga a verdade a você mesma: faça uma avaliação honesta das fraquezas do seu caráter e dos pecados que mais facilmente lhe apreendem – ira, ansiedade, melancolia, egoísmo, grosseria, fofoca, sarcasmo, inveja, mentira, impureza sexual… e exponha-os à verdade da Palavra de Deus. Independentemente de quais sejam e do quanto lhe pareçam repugnantes, admita que estão presentes em sua vida e precisam ser tratados com base no Evangelho. Com a morte de Cristo, Deus já providenciou perdão para esses e todos os demais pecados que possam se manifestar em você e lhe ofereceu uma vida nova, livre de qualquer condenação. “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou a escrita de dívida que consistia em ordenanças e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.13,14, NVI).
  2. Não fuja das consequências de seus pecados: mesmo envergonhada, ou sofrendo danos, não tente criar desculpas ou minimizar os prejuízos. Encare os danos com coragem e enxergue-os como oportunidades que Deus está lhe oferecendo para crescer em maturidade e fé. Assuma que é você a responsável por dar todos os passos práticos na luta contra o pecado, mesmo dependendo do Espírito Santo para completar a obra de santificação em sua vida. “Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef 6.10, 11).
  3. Seja humilde quando for repreendida ou quando as circunstâncias envolverem outras pessoas. Em momentos de conflitos, o orgulho nos impede de considerar com imparcialidade nossa parcela de responsabilidade na questão. Julgamos que somente “o outro” é culpado. Jesus disse que, para julgarmos e apontarmos o erro do próximo, precisamos estar com as vistas limpas de nosso próprio pecado: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer a seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mt 7.3-5). A esse respeito, o autor do livro “Em busca da paz” escreveu: “Somente quando assumir 100% da responsabilidade por meu pecado – ainda que pense (arrogantemente) que sou responsável por apenas 1% do conflito – é que lidarei devidamente com a minha ‘viga’ de forma agradável a Deus. Devo dar 100% de atenção à minha contribuição de 1%.” [6]

Que o Senhor lhe conceda graça para amadurecer e desenvolver a salvação com a qual ele lhe presenteou.

Por Flórence Franco.

[1] PEACE, Martha. Mulheres em apuros: soluções bíblicas para os problemas que as mulheres enfrentam. São José dos Campos, SP: Fiel, 2010. p. 103.

[2]  BRIDGES, Jerry. Pecados intocáveis. São Paulo, Vida Nova, 2012. p. 47.

[3] VIORST, Judith. Alexander and the Terrible, Horrible, No Good, Very Bad Day. apud Nancy Leigh DeMoss. Mentiras em que as mulheres acreditam e a verdade que as liberta. São Paulo, Vida Nova: 2013. pp. 212, 213.

[4]  DeMOSS, Nancy Leigh. Mentiras em que as mulheres acreditam e a verdade que as liberta. São Paulo, Vida Nova: 2013. p. 216.

[5]  Idem. p. 217.

[6] JONES, Robert. Em busca da paz: princípios bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamento quebrados. São Paulo, Nutra Publicações: 2014. p. 122.