Lembra-se de Pedro, o discípulo de Jesus, que titubeou na fé? Embora ele tivesse convivido de perto com Jesus, tivesse o visto comer e falar, na hora de demonstrar sua fé quando Cristo seria crucificado, ele O negou três vezes antes do galo cantar (Mt 26.69-75). E sabe qual foi a reação de Pedro ao perceber sua falha? Ele saiu e chorou (MT 26.75). Confesso que já achei a atitude de Pedro inaceitável – “ele havia caminhado com Jesus, como poderia negá-lo?!” Mas a verdade é que todo cristão ainda é pecador e, em alguns momentos, negar Jesus ou sua fé, será um caminho mais fácil. E em outros momentos, a própria incredulidade poderá alcançar o coração deste e sem pressões externas, mas com suas próprias dúvidas, questionará se Deus realmente existe. E o que fazer quando isso acontecer?

Deus é tão bom, que deixou até mesmo isso claro em Sua Palavra. Leia os versículos abaixo. Vamos ver alguns aspectos de como lidar com a dúvida.

1 – TRANQUILIZE SEU CORAÇÃO

“Assim saberemos que somos da verdade; e tranquilizaremos o nosso coração diante dele quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas. Amados, se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus.” 1 João 3.19,21

Lembro-me de uma garotinha que, ainda pequena, experimentou sua primeira crise de fé. E sua primeira reação foi pedir um sinal para Deus, dessa maneira: “Deus, se o Senhor realmente existe, peço que faça nevar em alguma parte do Brasil!”. Interessante que era o inverno no Rio Grande do Sul e, de fato, foi bem rigoroso, e passaram no jornal algumas imagens de árvores cobertas de gelo. Deus ouviu a oração da garotinha, contudo, a atitude dela foi contrária ao que Deus ensina em Sua Palavra. Deus não precisa provar Sua existência, nem Se defender, pois a Palavra já faz isso por Ele. Acredito que por coincidência, a resposta para o sinal daquela garotinha foi positiva, mas Ele não deixaria de existir se não mandasse neve. Por isso, como cristão, é necessário saber como lidar com a crise de fé.

De acordo com os versículos acima, o cristão com falta de fé deve tranquilizar seu coração quando este o condenar, e continuar a crer em Deus. Isso envolve lutar contra seus pensamentos, suas vontades. É um confronto espiritual sim, não é fácil. Contudo, embora seu coração queira questionar, é preciso continuar a crer que Ele é maior que suas dúvidas e sabe de todas as coisas! Lembre-se também daquilo que pode dar esperança (Lm 3.21,22): das infinitas razões pelas quais decidiu seguir Seu caminho, de como Ele transformou sua vida, dos detalhes de como Ele proveu algo ou protegeu alguém. E lembre-se de Jesus! Ele é o homem real que dividiu a história em antes e depois de sua vida e que pisou nesta terra e mudou a vida de tantos.

Quando a dúvida vier, tranquilize seu coração, continuando a crer na verdade. Não peça sinais para Deus, peça coragem para continuar crendo e ore.

 

2 – OBEDEÇA

Tem uma frase bastante interessante que diz o seguinte: a distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração[1]. Nem sempre, para não dizer na maioria das vezes, deve-se agir como se quer, como se tem vontade. Embora, num contexto de crise de fé dê vontade de fugir, é preciso ser racional. Os principais motivos de se intencionar abandonar a fé são mais justificativas egoístas para viver libertinamente que, de fato, convencer-se de que Ele não existe. Parece radical? Sim! Mas nenhum prazer temporário nessa terra vale mais que os tesouros eternos que o Pai tem reservado para os Seus. Por isso, traçar essa longa distância entre a razão e as emoções é importante. E Deus ensina em sua Palavra que os que são da verdade, obedecem. Veja o versículo adiante que é continuação dos anteriores:

“e recebemos dele tudo o que pedimos, porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada.”1João 3.22

Quando a dúvida vier, tranquilize o coração, creia e continue a obedecer. Isso é demonstrar confiança na prática.

3 – ATENTE AO ESPÍRITO SANTO

E, por fim, o próprio Espírito Santo será mais uma convicção de que Deus existe, pois permanece vivo no cristão que é da verdade. Ele regenera os filhos de Deus; faz deles nova criação (Jo 1.12; 2Co 5.17); habita permanentemente neles (Jo 14.16); dá poder para o cristão ser uma testemunha eficaz de Cristo (At 1.8); sela o cristão, garantindo que é propriedade exclusiva do Pai (Ef 1.13-14); enche plenamente os cristãos que andam de acordo com a vontade de Deus (Ef 5.18-20);  produz frutos na vida do crente (Gl 5.22-23) e concede os dons (Rm 12.6-8; 1Co 12.8-10,28; Ef 4.11; 1Pe 4.10-11). Veja no versículo a seguir…

Os que obedecem aos seus mandamentos permanecem nele, e ele neles. Deste modo sabemos que ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu.” 1João 3.24

Veja também esta bonita a frase de Agostinho de Hipona[2]:

“O Espírito Santo que procede de Deus, quando é outorgado ao homem, inflama-o de amor por Deus e pelo próximo, sendo Ele mesmo o Amor.”

Quando a dúvida vier, tranquilize o coração, creia, continue a obedecer e atente ao Espírito Santo em sua vida.

4 – AME

Dessa forma, para viver um cristianismo convicto, calando as dúvidas, precisa-se de confiança em Deus, e essa fé resulta em obediência e amor.  Amar é uma maneira de continuar confiando no Pai na prática, é ser humilde e priorizar sempre a Deus – vivendo de acordo com a Sua Palavra – e ao próximo (Mt 22.37-40).

Diferente de Pedro, que se entristeceu e sofreu depois de ter negado Jesus, aproveite a oportunidade de amenizar o sofrimento e evitá-lo, e aplique em sua vida estes conhecimentos antes. Por mais que a dúvida seja grande, tranquilize o coração, creia, continue a obedecer, atente ao Espírito Santo em sua vida e ame, ame a Deus e ao próximo. E busque ajuda, seja humilde em pedir socorro, não se estribe em seu próprio entendimento e no seu coração; eles são corrompidos. Lembre-se de que a caminhada cristã é sempre coletiva.

“Amados, se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus e recebemos dele tudo o que pedimos, porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada. E este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou.” 1 João 3.21-23

 

[1] MERTON, Thomas.

[2] GRANCONATO, Marcos. Pequeno Manual de Doutrinas Básicas. 5ªed. São Paulo: Hermeneia, 2014. 57p.