“Sou filha de pastor, estudei teologia e minha presença e trabalho na igreja são constantes. Sempre recebo elogios e sou disposta a servir, mas há algum tempo, senti dificuldades de orar e de meditar nas Escrituras. Ouço diversas mensagens e li muito sobre o assunto, mas não sentia mais o efeito delas em minha vida. Externamente, sei que aparento fidelidade a Deus, mas internamente, sinto um vazio, já me peguei sem vontade de existir. Sinto-me hipócrita e tenho vergonha de Deus.”

Quem nunca viveu essa situação ou algo parecido na vida? Infelizmente, o pecado nos afasta de Deus e nos permite ser o que seríamos sem Jesus, mesmo já O conhecendo. Por isso, essa realidade, que não deveria ser comum, acaba sendo. Contudo, pela graça de Deus, Ele é o Pai misericordioso que não desiste de Suas filhas e sempre lhes dá mais uma chance de se aproximarem e estreitarem suas conversas. Mas… a esse respeito, o que poderia ajudá-las a lidar com essa situação?

  • ENTENDA QUE DEUS É SEMPRE DISPOSTO A SE RELACIONAR

Nunca é tarde para voltar a ter um momento de oração com Deus ou um relacionamento íntimo com Ele. Deus é maior que os pecados, não importa o tempo que se esteve longe dEle e o que se fez. Ele CONVIDA Suas filhas a orarem e a se relacionarem com Ele sempre (Ef.6.18; 1Ts 5.17; 1Tm 2.8; Mt 6.9-13). É um Deus que perdoa as transgressões (1Jo 1.9; Tg 5.16,19-20), a despeito de qualquer sentimento de vergonha que alguém possa sentir. E é Pai, pronto a derramar suas bençãos sobre os Suas filhas obedientes (Mt 6.9; Ef 1.5; Gl 4.7; Rm 8.16,17; Lv 26.3-6; Dt 28.2-7,12). “A realidade é que nosso Deus é bom. Ser bom faz parte de sua natureza; é que ele é – um Deus que concede, um Deus abençoador, um Deus encorajador, um Deus zeloso, um Deus capacitador, um Deus amoroso. Este é o Deus que desejosamente espera por seu contato.”[1]

  • RELEMBRE AS BENÇÃOS DA ORAÇÃO

Gosto do texto bíblico (At 6,7) em que Estevão, um dos discípulos, foi confrontado no Sinédrio porque “supostamente” havia blasfemado contra Moisés e Deus. Seu discurso em sua defesa foi longo, mas muito detalhado em relação a obra de Deus na vida do povo. O que chama a atenção nessa passagem é como ele relembrou sobre as maravilhas de Deus na vida do povo de Israel por meio de Abraão, Moisés, Josué e Davi. E quantos exemplos podem ser vistos no livro de Salmos (Sl 105.5; 143.5; Sl 28.5) a esse respeito também! Veja um outro exemplo, assim que a arca da aliança foi levada para Jerusalém, Davi e o povo louvaram ao Senhor e advertiram muitos a relembrar das maravilhas que Ele fez:

Deem graças ao Senhor, clamem pelo seu nome, divulguem entre as nações o que ele tem feito. Cantem para ele, louvem-no; contem todos os seus atos maravilhosos. Gloriem-se no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. Olhem para o Senhor e para a sua força; busquem sempre a sua face. LEMBREM-SE das maravilhas que ele fez, dos seus prodígios e das ordenanças que pronunciou.” 1 Crônicas 16.7-12

Dessa forma, depois de ficar tanto tempo sem orar e sem vontade para isso, também é relevante RELEMBRAR as bençãos que se pode desfrutar ao exercitar a oração! Orar é um presente dEle, um privilégio que não pode ser negligenciado. Quantas pessoas no mundo a fora sofrem por não ter com quem conversar, por não poderem contar com o poder sobrenatural de Deus em suas vidas? Quantas pagam tantos médicos e terapeutas para lhes escutarem e tentarem aliviar suas cargas? Claro que as filhas de Deus podem precisar disso também, mas antes, elas podem contar com a graça de Deus e falarem com Ele, experimentando Seu amor a todo instante!

A oração promove paz (Fp. 4.7)! Já tive momentos de demorar para conseguir orar e ficar incomodada por não ter feito devocional e, somando isso com as atividades corriqueiras da vida, sentia-me cansada. Mas, quando me rendia e orava, sentia alívio, os ombros sem fardos, o coração leve e já conseguia respirar, mesmo com as circunstâncias conturbadas.

A oração permite perceber mais a presença de Deus e conhê-lO intimamente (Sl 145.18). Isso porque quando se coloca diante dEle as dificuldades, os pedidos e as bençãos, quando Ele reponde as orações, você lembra que Ele é quem resolveu a situação ou a melhorou ainda mais. Sua bondade, misericórdia, amor e tantos outros atributos (qualidades, características) são percebidos nitidamente, mesmo que de maneira pessoal, somente para você. “E conforme crescer em oração, Deus lhe revelará mais de si mesmo, soprando mais da vida dele em sua vida. Guarde minhas palavras: esta será a parte mais enriquecedora e recompensadora de sua experiência com a oração, muito mais que a diligência ou a fidelidade dele. A aceitação, fidedignidade, dom da paz, dom da graça – essas são as características do caráter de Deus, que se tornarão mais vivas para você à medida que se devota a cultivar uma vida de oração.” [2]

A oração é um meio para se receber as bençãos de Deus. Ele é um Pai amoroso que, por meio da oração, responde aos pedidos de Suas filhas (Mt 7.7,11; Sl 40.1; Mt 21.22). Ele é capaz de tudo (Ef. 3.20, Fp 4.19), remover qualquer obstáculo, curar qualquer doença e dar qualquer presente, de capacitá-las para fazerem algo, desde que isso seja para o crescimento delas (Tg 4.3) e que sejam obedientes (Tg. 5.16; Pv 28.9;). E, mesmo quando diz “não” para algo que se queria muito, Ele está trabalhando na vida de Suas filhas e tem o melhor para elas. Ele é bom o tempo todo, apesar dos momentos difíceis (Sl 34.8).

A oração permite ao poder de Deus fluir para aquelas que oram. (Ex 17.8-13). Esse poder (Sl 29.11) pode se manifestar na forma de sabedoria, coragem, confiança, perseverança, resistência, mudança de atitude, circunstâncias alteradas e milagres. Suas filhas são capacitadas e revigoradas pelo Seu poder.

Alguém já disse que quando trabalhamos, nós trabalhamos, mas quando oramos, Deus trabalha.[3]

  • ENTENDA AS ORAÇÕES QUE DEUS NÃO RESPONDE

Quando a comunhão com Deus está abalada, uma das possíveis consequências é ficar revoltada porque Ele não responde às orações ou as responde negativamente. Contudo, é mais fácil julgá-lO e reclamar sobre isso, que fazer uma autoanálise e perguntar-se “o que posso mudar?” Da parte que cabe às Suas filhas, elas podem estar orando sem a fé devida, ou não orando, podem não ter perdoado alguém, podem estar orando de forma que não agrade a Deus, e podem não estar confessando pecados.  Entenda melhor adiante…

  • Quando há falta de oração (1Ts 5.17). Como Deus poderia responder algo que não lhE foi pedido (Tg 4.1-2)? E quando se ora, deve-se persistir num pedido, ter assiduidade, não desistir por falta de fé. É claro que Deus também pode responder uma oração relâmpago, mas Ele trabalha muito na vida de Suas filhas quando elas persistem e oram assiduamente;
  • Quando o pecado não é confessado (Is 59.2; Sl 66.18; Sl 109.7; Jo 9.31; Pv 15.29; Pv 28.9; Tg 5.16). O pecado corta a comunhão com Deus e impede que as orações sejam respondidas;

“A motocicleta é uma máquina poderosa que suporta qualquer obstáculo, mas seu combustível tem que ser puro […] Qualquer partícula de sujeira poderia provocar perda de força. Do mesmo modo, se você permitir um pequenino pecado em seu coração, ele contaminará suas orações. […] Meu amigo, se você tolera o pecado em sua vida, não gaste fôlego em oração, a menos que seja oração de confissão. Receba o perdão do Senhor e só então Ele ouvirá quando derramar seu coração diante dEle.”[4]

  • Quando se tem conflitos interpessoais não resolvidos (Mt 5.23,24; 1Pe 3.7). Fazer o bem aos irmãos é o mesmo que fazer o bem ao próprio Jesus. E se Deus perdoa as transgressões de Suas filhas, por que elas não poderiam perdoar a de seu próximo também? Não adianta orar e pedir algo ao Pai se não está disposta a se reconciliar ou bem se relacionar com o próximo.
  • Quando oração é egoísta (Tg 4.3). Quando se faz uma lista para Deus de pedidos, deve-se avaliar se parece uma lista de pedidos para o Papai Noel no natal. Muitas vezes, muitas oram apenas para Ele suprir suas necessidades, contudo, deve-se refletir: com alguém que você conversa fisicamente, com algum familiar que tem intimidade, você apenas conta o que você gostaria de receber e ganhar? Se fosse assim, poderia ficar sem amigos… Então, por que tratar seu Pai de tal forma? E ainda bem que Ele é bondoso, e livra Suas filhas de si mesmas, poupando-as de seus desejos que as prejudicariam, por mais duro que possa ser.
  • Quando falta fé (Tg 1.5-8). A passagem de Mateus 21.21-22 sempre me deixava com dúvidas, eu perguntava “como pode a fé mover montanhas?” Mas a resposta ideal seria uma retórica “como a fé não poderia mover montanhas?” Fato é que Suas filhas sempre esperam a montanha se mover, mas este não é o foco correto. A fé deve estar depositada nAquele que pode mover as montanhas, e Ele acrescenta a fé conforme se relaciona com Ele. E é com essa confiança que uma oração deve ser feita, crendo que Ele é capaz e pode fazer tudo.

“Minhas orações eram infrutíferas porque eu olhava para a minha imperfeição, em vez de olhar para a perfeição de Deus […] Naquela noite eu aprendi que Deus não vê as barreiras, mesmo que eu as vejo. Ele está pronto para me usar. Quando me concentro nele e não nas montanhas, posso servir de canal para a sua graça e poder.”[5]

  • FAÇA ESTRATÉGIAS PARA VOLTAR A ORAR

Uma das estratégias que serve para incentivar novamente a oração é fazer um diário de oração. Quando se escreve a oração, fica-se menos propenso a se distrair e pode-se ler depois o que foi registrado. Dessa forma, consegue-se lembrar pelo que foi orado e reparar nas respostas de Deus pelas circunstâncias da vida.

Outra estratégia é separar na agenda um horário num lugar tranquilo para orar. Pode parecer careta, mas se, para cada atividade que quer se desenvolver, uma pessoa precisa de disciplina dentro da rotina e repetição, por que com a vida espiritual seria diferente? Claro que as orações relâmpagos também são preciosas, mas são mais fáceis de passarem batidas. Assim, ter um momento adequado para fazer devocional, orar, é essencial para o crescimento.

“Os seguidores de Cristo não podem crescer sem estrutura e sem um sentido de objetividade em relação à vida espiritual, assim como as pessoas não podem emagrecer ou desenvolver tônus muscular reclinando-se na poltrona e comendo chocolates.”[6]

Por fim, ouvir músicas cristãs que são orações com atenção também é uma maneira de exercitar a oração. Algumas sugestões de músicas são: Oração (banda Purples); Falar com Deus (artistas desconhecidos); Pedoa-me Senhor (Hino 275); Confiança (Projeto Sola); Rendido estou (Aline Barros); Perdão e graça (Vineyard); Me derramar (Vineyard); Entrega (Vineyard).

 

  • ORE, SIMPLESMENTE ORE

Na Palavra de Deus, vários textos nos exortam a orar (1Ts 5.17; 6.9-15), isso porque é um exercício que devemos praticar. Nossa natureza não é inclinada a orar e a buscar um relacionamento com Deus naturalmente; somos depravados. Lembro-me de uma amiga falando a respeito da “inércia”: em suas palavras, quanto menos se faz, menos se quer fazer. O mesmo pode ser dito a respeito da oração: quanto menos se ora, menos se quer orar.

E como escreveu Bill et al.: “Quanto maior a brecha [para pecar], menos dispostos estamos para orar. Quanto menos oramos, maior a brecha se torna.”[7] O pecado chama o pecado (Sl 42.7). A falta de oração leva a tantos outros pecados, como pensar errado sobre Deus – “Deus não facilita a minha vida; Por que o Senhor não permite que algo bom aconteça?” – e outros como, julgar o próximo, sentir-se autossuficiente, ser ingrata, etc.

Enfim, a falta de oração só prejudica Suas filhas. Ainda bem que, por amor a nós, Deus permite essa benção de nos comunicarmos com Ele. Como é maravilhoso poder desfrutar dessa intimidade! E a melhor maneira de lidar com a dificuldade de orar é orando! Livros, artigos sobre o assunto são muito bons para incentivar a prática de novo, mas parar e conversar com Deus é o melhor. Quando a dificuldade aparecer: ore, simplesmente ore.

 

 

[1] HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 41

[2] HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 20

[3]HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 21

[4] HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 138,139

[5] HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 108,109

[6] HYBELS, Bill et al. Idem. Pg 63

[7] HYBELS, Bill; NEFF, LaVonne; WIERSMA, Ashley. Ocupado demais para deixar de orar. São Paulo: Hagnos, 2009.pg 52