Meu marido e eu temos cerca de quatro anos de casados. Posso afirmar, sem dúvida, que nosso casamento tem sido uma bênção enorme. Por outro lado, também posso dizer, com a mesma certeza, que tem sido muito diferente do que esperávamos.

Há alguns anos comecei a manifestar um problema de saúde que me causava, entre outras coisas, muita fadiga. Eu tinha momentos, dias e fases melhores e piores, mas de forma geral, minha energia não era a mesma de uma pessoa saudável. Nós dois já sabíamos disso antes de casar, mas quando casamos, passamos a viver na prática as implicações desses problemas no nosso dia a dia.

Por exemplo, eu não tinha condição de cuidar do nosso lar como gostaria; nossos planos eram frequentemente desmarcados em cima da hora porque eu não tinha condição de sair de casa; muitas vezes eu me sentia cansada demais até para raciocinar com clareza e conversar; nossos gastos com saúde eram maiores do que prevíamos; e isso sem falar do desgaste emocional de lidar com uma fadiga crônica debilitante (ou, no caso do meu marido, de lidar com uma esposa com fadiga crônica debilitante), sem sequer um diagnóstico correto, quanto menos um tratamento promissor. Definitivamente esse não era o cenário em que esperávamos nos encontrar como jovens recém-casados.

Mas em meio a essas circunstâncias, experimentamos, em primeira mão, o cuidado do Nosso Deus e Pai. Ele nos sustentou individualmente e como casal. Ele nos deu a Sua provisão — de espiritual a financeira. Ele consolou os nossos corações. E em Sua grande bondade, sabedoria e poder, Ele usou tudo isso para nos transformar.

À medida que caminhamos com o Senhor em meio a esses desafios, e usamos os recursos que Ele nos dá — a meditação na Palavra, a oração, a leitura de bons livros cristãos e o conselho bíblico de sábios irmãos em Cristo — aprendemos e crescemos muito, e nosso relacionamento com Deus e um com o outro se aprofundou.

Uma das lições preciosas que aprendemos é que os planos de Deus para nós são diferentes dos nossos. Assim como os céus são mais altos que a terra, os Seus pensamentos e caminhos são mais altos que os nossos (Is 55.8-9). Ser uma “super dona de casa” ou ter uma vida social agitada, por exemplo, não estava nas prioridades de Deus para mim, pelo menos naquela fase de vida. Por outro lado, desenvolver paciência e contentamento em meio a sofrimento e planos frustrados, isso, sim, certamente que estava na “lista” dEle! O fato é que Deus estava (e está) mais interessado em me transformar em uma mulher mais parecida com Cristo do que qualquer outra coisa. E ser parecida com Cristo, de fato, é a melhor coisa — para a glória dEle e para o meu bem.

Da mesma forma, Deus usou todas essas circunstâncias para moldar o coração do meu marido de maneiras específicas. Nosso Pai também estava e está mais interessado em transformá-lo à semelhança de Cristo do que qualquer outra coisa — e, novamente, isso é o melhor para a glória dEle e o bem dele.

Esse processo é o que Paul Tripp chama de “teologia da graça desconfortável”. Geralmente pensamos no aspecto libertador da graça de Deus — em como Ele, por Sua graça, muitas vezes nos livra e guarda de problemas e perigos. Mas precisamos reconhecer que a Sua graça com frequência também atua de outra forma, permitindo dificuldades e sofrimento em nossa vida, de acordo com Seus bons propósitos. Paul Tripp ensina que “Deus nos levará aonde não pretendíamos ir a fim de produzir em nós o que não poderíamos alcançar por conta própria” [1]. Ou seja, são justamente as situações difíceis que enfrentamos — aquelas que preferíamos que não existissem — que Deus costuma usar para nos purificar e nos tornar mais parecidas com Jesus. Por mais “desconfortável” que seja, não podemos negar que esse processo também faz parte de Sua imensa graça!

Fico feliz em compartilhar que após cinco anos de muito sofrimento na área da saúde, Deus me direcionou a um médico que finalmente descobriu qual era o meu problema. E então, após cerca de um ano de tratamento intenso, Deus me restaurou. Como foi bom voltar a me sentir jovem e com energia depois de tanto tempo! Desde então, meu marido e eu sentimos que estamos em uma nova fase do relacionamento e certamente estamos muito aliviados e felizes por isso. Porém, isso não significa que não tenhamos nem teremos mais qualquer provação ao longo de nossa vida de casados. E esse é o ponto aqui. A graça de Deus nem sempre significa livramento aqui e agora, mas significa que Ele sempre fará o que é melhor para nós — ou seja, Ele sempre usará todas as circunstâncias para nos moldar à imagem de Jesus Cristo, pois esse é o melhor para nós. É por isso que posso afirmar que o nosso casamento tem sido uma bênção mesmo sendo diferente do que esperávamos.

Talvez sua saúde seja ótima e suas circunstâncias, bem diferentes das que contei aqui. Porém, de uma forma ou de outra, todos nós enfrentaremos dificuldades ao longo do casamento. E quando elas vierem, será fundamental que tenhamos em mente a perspectiva da “graça desconfortável”.

[1] “God will take you where you haven’t intended to go in order to produce in you what you could not achieve on your own” — TRIPP, Paul D — 1st Peter: Elect Exiles — 2015 — https://www.paultripp.com/sermons#!/swx/pp/media_archives/170495/episode/58250

Este artigo foi extraído do recém-lançado livro “Rumo ao Altar: Conselhos para Noivas”, de Elisa Bentivegna da Silva, disponível para compra neste link:  https://www.amazon.com.br/Rumo-Altar-Conselhos-para-Noivas-ebook/dp/B0874D1LJ3