Eu nasci em uma família de classe média, na qual a “estabilidade financeira” foi realidade desde a minha infância. Meus pais tinham empregos fixos, eram bem organizados financeiramente e dificilmente se envolviam em dívidas. Tínhamos uma vida tranquila, sempre tínhamos um pouco mais de sobra, para comprar uma roupa nova, sair para um restaurante no final de semana ou passar as férias em algum lugar legal. 

Quando eu me tornei adolescente, meus pais passaram a me dar uma “mesada”, que foi crescendo conforme eu ia ficando mais velha e “independente”. Agora eu podia sair com meus amigos sem ter que ficar pedindo dinheiro a cada saída. Podia comprar algo que eu quisesse, ou mesmo guardar dinheiro para trocar de celular. Até cheguei a trabalhar fora certa época da juventude, durante o tempo que estava na faculdade, mas novamente o meu salário não tinha uma responsabilidade, era somente para coisas além da necessidade, pois estas eram supridas pelos meus pais.

A essa altura eu pensava que lidava bem com o dinheiro, que não era uma preocupação ou algo que tirava o meu sono, mas algo que eu sabia usar bem. Pensava que eu não era apegada ao dinheiro de jeito nenhum. Foi então que, já formada, decidi me casar e, além disso, me tornar missionária no interior do nordeste, realidade bem diferente da de São Paulo, onde cresci. Essas duas situações foram graça de Deus em minha vida, pois me permitiram perceber que minha segurança estava no lugar errado.

Se você já ouviu uma pregação ou leu um livro sobre casamento talvez tenha ouvido que finanças é um dos problemas mais recorrentes entre os casais recém-casados. Isso acontece porque cada um tem uma “cultura financeira” que muitas vezes não é sistematizada, mas está lá. Um acha que deve guardar dinheiro para se precaver de eventos inesperados, enquanto outro acha que não vale a pena guardar dinheiro, mas quer sempre gastar tudo que está disponível. Um está acostumado a passar tudo no crédito, o outro quer primeiro ter o dinheiro na conta, para poder pagar no débito. Um acha que deve ofertar somente o dízimo, o outro está sensível às necessidades de outras pessoas e vê em cada uma delas uma oportunidade de ser generoso. E aí as discussões começam, pois agora não há (ou pelo menos não deveria haver) “meu dinheiro” e “seu dinheiro”, é tudo nosso!

Além do fator casamento, ser missionária também foi uma nova realidade desafiadora pois dificilmente missionários têm um salário fixo. Existem alguns mantenedores ou alguma ajuda mais fixa de alguma igreja, mas o mais comum é que as entradas sejam bem variáveis. Então em um mês “sobra” e, em outro mês, o dinheiro é suficiente apenas para o básico.

Foi então que comecei a perceber o amor que eu tinha ao dinheiro – pecado que eu aprendi a nomear de AVAREZA. Os primeiros meses foram bem angustiantes. Percebi que não podia mais comprar “tudo o que quisesse”, percebi que se gastasse demais saindo parar algum restaurante, por exemplo, poderia faltar para coisas essenciais, como pagar a conta de luz ou fazer mercado. E essa situação gerou em mim todos aqueles pecados que eu citei no primeiro artigo. Comecei a murmurar por estar vivendo um padrão diferente de vida, comecei a me comparar com outras pessoas que não estavam no campo missionário e suas viagens para fora do país e sentir pena de mim mesma. Comecei a ficar ansiosa por não crer mais que teria o suficiente para amanhã, e essas coisas começaram a tirar meu sono. Toda vez que meu marido propunha ajudar algum irmão em necessidade (e temos muitos, pois moramos em um contexto pouco privilegiado financeiramente), eu ficava receosa e me recusava. E então, tive que reconhecer que lá estava ela, a AVAREZA. Escravizando meu coração e me impedindo de ver o Deus a quem eu servia.

SEMPRE MAIS E CADA VEZ MENOS

O primeiro problema da avareza é o constante sentimento de que “não vai dar”. Essa insegurança e preocupação constantes, nos cegam de tal forma que passamos a estabelecer padrões cada vez mais altos, que nunca conseguimos alcançar.

“Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos.” Ec 5:10

“Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vesti-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado.” Ageu 1:6

A Palavra de Deus fala que o avarento nunca está satisfeito. Por mais que ele aumente seus investimentos, seja promovido, por mais que aumente a semeadura, colhe cada vez menos. Eu já vivi essa realidade. Parece que quanto mais eu me apegava, quanto mais economizava, mais faltava. Quanto mais eu pensava em estratégias para levantar mais recursos, mais problemas tinha com a casa, coisas quebravam e precisávamos pagar pelo conserto, e assim por diante.

Esses são os sofrimentos que Paulo fala em 1 Timóteo 6:6-10. No contexto anterior do texto, ele está falando de alguns falsos mestres que achavam que podiam ganhar dinheiro com a piedade. Então ele afirma: “De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com o que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos.”

Segundo as Escrituras, não há nada de errado em ter dinheiro. O problema é se apegar ao dinheiro, dispender toda sua energia para acumulá-lo, buscar a riqueza como se ela fosse nos trazer a verdadeira felicidade. Ao contrário disso, o texto afirma que essa busca leva a desejos descontrolados e nocivos, que levam as pessoas a ruína e destruição, sendo atormentadas por sofrimentos terríveis e até apostasia. 

Veja, não estou falando de alguém que vai no cassino e fica apostando tudo. Não estou falando de um homem rico e obstinado por mais dinheiro, que podemos ver em tantos filmes. Estou falando de uma dona de casa recém-casada, que decidiu dedicar sua vida ao ministério. Estou falando de mim mesma. Em pouco tempo eu já desfrutava desse tormento que o texto aponta. Eu precisei ser confrontada e ensinada por Deus, para entender onde eu deveria colocar minha segurança e onde poderia buscar contentamento.

A AVAREZA, O CONTENTAMENTO E A CONFIANÇA EM DEUS

Estávamos na segunda quinzena do mês e a conta já estava quase zerada. Não tínhamos expectativa de receber nenhuma oferta, pois todos os mantenedores já haviam feito seus depósitos. Já tínhamos pago todas as contas, menos a de luz. A conta chegou e eu me desesperei. Antes de começar a orar, pensei no que faria caso não conseguíssemos pagar. Comecei a antecipar o sofrimento de ficar sem luz, a humilhação de ter que pedir dinheiro para alguém. Então Deus me confrontou com esse texto: “Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: ‘Nunca o deixarei, nunca o abandonarei’ Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé.” (Hb 13:5-7)

Deus estava me ensinando algo precioso. Eu não estava sozinha. Ele estava comigo. Ele havia me chamado, Ele havia me levado, Ele era responsável por mim. Outro texto me impactou muito:

“Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro. Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa? […] Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”. (Mt 6:24-25,31-33)

Decidi que iria orar. Dessa vez, iria buscar a Deus e tentar confiar nEle. Faltavam quatro dias para a conta vencer e todos os dias eu orava, de manhã, a tarde e a noite. “Senhor, o Senhor sabe que precisamos pagar essa conta. O Senhor sabe que eu já não confio no Senhor. Me ajuda a confiar, me ajuda!!”. No dia anterior ao vencimento, abri a conta do banco no aplicativo do celular e adivinha só? Lá estava exatamente o valor que precisávamos para a conta de luz, depositado por alguém totalmente inusitado, mas eu sabia exatamente quem tinha mandado o dinheiro: o próprio Deus! Nem preciso dizer que chorei muito. Chorei por perceber quão incrédula eu havia sido, como havia menosprezado o tamanho e o poder de Deus. Chorei por perceber quão amada eu era, a ponto de mesmo tão dura, Deus ter decidido me ensinar de um jeito tão carinhoso.

VERDADEIRA SEGURANÇA

A avareza não está condicionada a ter ou não ter o dinheiro, mas sim ao lugar onde o seu coração encontra segurança. Não está relacionado à quantidade de dinheiro que você precisa. Não é simplesmente dizer “Deus me dá o suficiente, não posso reclamar de nada”. Lembra do apóstolo Paulo, quando falou que aprendeu a viver contente na fartura e na escassez? Pois é. Então, não estamos falando de ter ou não dinheiro, mas de ter ou não segurança. Se quando o dinheiro está na conta você está tranquila e quando não está você fica nervosa, algo está errado. Nossa segurança deve estar em Deus e não em nossa conta. Ter um emprego e salário fixo não significa segurança alguma, afinal, a qualquer momento você pode ser demitida, não é mesmo? Mas Deus não, Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre será. Ele promete sustentar você hoje amanhã, como sempre sustentou. Ele te ama e cuida de você. O dinheiro não, ele te domina e escraviza. O dinheiro é um bom servo, mas um péssimo senhor. Nunca se esqueça disso.

Por isso, quero encorajá-la hoje a entregar essa área de sua vida a Deus. Peça para Deus destruir a “verdade” de que somente o dinheiro te trará segurança e conforto. Peça a Ele que transforme a sua mente e que você possa perceber que somente Ele é capaz de te trazer segurança. Peça a Ele para viver essa vida de contentamento, plenamente satisfeita nEle!