Lá pelos meus vinte e poucos anos, vivi uma fase de transição, na vida e na minha fé.

Saí da casa dos pais, passei a ganhar o meu próprio salário e tomar todas as minhas decisões “pensadas” ou “levadas” pelo momento, sem ter de dar satisfação a ninguém.

Foi exatamente nessa fase que me levou a questionar se eu realmente seguia a Cristo por crescer na Igreja ou se eu O amava de fato.

Cometi muitos erros, e sei que todos eles foram perdoados.

Hoje não pretendo entrar em detalhes, relembrar aquilo que já foi deixado para trás, mas vejo que, mesmo muito distante de quem eu fui nos meus vinte e poucos anos  – que parecem ter sido há uma eternidade, olhando hoje dos meus quase trinta – tenho que estar alerta a respeito de alguns mesmos elementos de perigo.

Vamos entender quais são?

1 – A VOZ DO ÍMPIO

A Bíblia fala, em Salmos 35:1, que há no coração do ímpio a voz da transgressão, isto porque ele não teme a Deus.

Afastada daquele tempo e das situações que vivi, agora consigo ver claramente que muitas vezes errei por “ouvir a voz do ímpio”.

Essa característica ingênua temos em comum com uma “personagem” muito conhecida de todas nós, a primeira mulher, Eva.

Vocês sabem como está escrito em Gênesis 2 e 3, tudo era perfeito no Éden, não havia rusgas no relacionamento entre homem e mulher, no entanto, ainda assim, Eva deu ouvidos ao que a serpente tinha a dizer (Gn 3:1-6) e perdeu de vista as palavras do próprio Deus.

Resta claro para nós que “ouvir a voz do ímpio” não é um presságio de tomada de boas decisões.

O problema é que, quando nos deixamos envolver pelo “momento”, o mais provável é que não saibamos identificar qual seria essa “voz” e os problemas que ela nos traz.

Isso nos leva a outro claro elemento de perigo:

2 – VISÃO LIMITADA

Os nossos olhos são capazes de focar e distinguir um número limitado de informações por vez. 

Comumente, ao olharmos uma imagem cheia de detalhes, a cada vez que gastamos tempo olhando para ela, vemos detalhes que pareciam estar lá, escondidos.

O que quero dizer é que precisamos ter cuidado com a visão limitada.

Ter 15, 20, 25 anos nos faz sentir e perceber as coisas ainda mais intensamente, estamos muito próximas do olho do furacão para compreender tudo que está ao redor e além.

Sinto que com o passar dos anos eu passei a ter uma melhor visão do todo, mas ainda tenho que ter muito cuidado com o meu foco obstinado ao problema ou dificuldade que se põe à minha frente.

Sinto-me mais sábia do que já fui, no entanto, essa “evolução pessoal”, se assim posso dizer, não adveio da “idade”, até porque ainda tenho muito a aprender, mas sim do aprofundamento do meu relacionamento com Deus.

Aqueles tropeços, que mencionei no início, me levaram a entender o quanto eu necessitava de Deus e que só nEle a minha alma encontraria descanso e verdadeiro gozo.

O salmo mencionado acima nos lembra que o ímpio assim o é porque não teme ao Senhor.

Por outro lado, o sábio é aquele que teme ao Senhor, é o que nos diz Provérbios 9:10, quem não se lembra desse versículo: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.”. 

Essa, portanto, é a nossa maior esperança, de que não necessitamos de sabedoria em nós mesmas, mas temendo ao Senhor, seremos guiadas por Ele e não pela voz do tolo.

3 – SENSAÇÃO DE INFALIBILIDADE

Chegamos ao ponto final desta reflexão.

O temor do Senhor me levou a abandonar os comportamentos e situações que me arrastavam para o pecado, eu passei a identificar melhor a voz do ímpio e ser cuidadosa em não lhe dar ouvidos.

O problema é que o “sucesso” da minha nova vida, o fato de sentir que havia deixado para trás “o velho homem” me fez, algumas vezes, baixar a guarda.

Paulo nos exorta, em 1Co 10:12, a não baixar a guarda, a permanecer vigilantes, porque, estando de pé, ainda estamos sujeitas à queda.

Quando falamos sobre não ouvir a voz do ímpio, pode parecer que essa influência maligna é meramente externa e seria fácil silenciá-la.

Infelizmente, a Palavra de Deus nos lembra que todos os “maus intentos” procedem do nosso próprio coração (Mt 15:19).

Assim, precisamos permanecer vigilantes e rejeitar não só a voz ímpia ao nosso redor, mas principalmente aquela que vem no nosso enganoso coração (Jr 17:9).

– A SOLUÇÃO – 

A resposta não é objetiva, mas também não é complexa.

Os meus vinte e poucos anos me ensinaram que, apesar de se menos insensata e intensa, eu sempre estarei sujeita a influências externas e internas, restando em mim cada vez mais firme a convicção de que a Palavra de Deus é suficiente para me guiar, alimentar, fortalecer, ensinar, independente de como eu esteja me sentido ou da forma que eu enxergue as coisas no momento.

É o que está escrito em 2 Timóteo 3:16-17.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

Agora, a cerca de meio ano de completar os meus trinta anos, entendo que, apesar da minha fraqueza e da minha visão limitada, o Senhor e a sua Palavra me fazem a cada dia que neles busco, um pouco mais sábia e capaz de distinguir e rejeitar a voz do ímpio, ainda que ela proceda do meu próprio coração pecador.

– Vitória Maria Carvalho –