Esse artigo é a continuação de um artigo anterior. Se você perdeu a primeira parte, confira aqui.

Na primeira parte deste artigo, abordamos aspectos teóricos acerca dos desafios peculiares que nossos hormônios nos trazem e agora veremos algumas aplicações práticas para o nosso dia a dia como mulheres cristãs.

1. Mantenha uma rotina de leitura bíblica e oração

Da mesma forma que precisamos de comida, precisamos regularmente da Palavra de Deus em nossa dieta espiritual. Ela é o alimento indispensável da vida cristã, plenamente proveitosa para o nosso crescimento (2 Timóteo 3.16-17). É por meio dela que conhecemos a Deus e a Sua vontade e aprendemos a permanecer no Senhor Jesus, sem o qual não podemos dar frutos duradouros (João 15.4-8). É por meio dela que contemplamos a glória do Senhor e somos, assim, transformadas pelo Espírito segundo a Sua imagem (2 Coríntios 3.13-18). Você percebe aonde quero chegar? Não temos como reagir às pressões hormonais de maneira agradável a Deus deixando de lado esse recurso precioso que Ele nos deu. O mesmo serve para a oração, por meio da qual podemos alinhar nosso coração com o Pai, expressar nossa gratidão por Seu cuidado e graça, colocar diante dEle nossas necessidades e anseios, confessar nossos pecados, pedir a Sua ajuda e experimentar a Sua paz (Mateus 6.9-13; Filipenses 4.6-7; Hebreus 4.14-16).

Que lugar a leitura bíblica e a oração têm em sua rotina? Você tem aproveitado bem esses dois recursos que são, ao mesmo tempo, um dever e um privilégio dos filhos de Deus? Precisamos permanecer na Palavra de Deus e na comunhão com Ele. Somente assim nossas atitudes serão marcadas por amor, alegria, paz, paciência, bondade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5.22-25) — sim, até mesmo na TPM!

Obs.: Se você não sabe nem por onde começar (ou retomar) esses hábitos tão importantes, talvez esse texto possa ajudá-la.

2. Ajuste o foco

Além de uma sólida rotina de leitura bíblica e oração, há outros hábitos que podem nos ajudar a manter a perspectiva e a atitude corretas diante das tentações acentuadas pela TPM.

Diário para auto-reflexão

A autora Martha Peace, em seu livro “Mulheres em Apuros”, dedica um capítulo inteiro para tratar da TPM [1]. Uma de suas excelentes sugestões é que, quando estivermos nos sentindo deprimidas, irritadas, nervosas ou ansiosas, registremos nossos pensamentos em um diário e analisemos a nós mesmas pelo crivo das Escrituras (Filipenses 4.8). Assim, poderemos ver quais padrões de pensamentos precisam ser substituídos e quais são os novos padrões que precisam substituí-los. Esse tipo de exercício pode nos ajudar a reconhecer mais prontamente quando os nossos pensamentos estão distorcidos, desalinhados com a Verdade e, assim, nos levar de volta para a Palavra de Deus a fim de renovarmos nossa mente e atitude (Romanos 12.1-2; Efésios 4.22-24).

Memorização de versículos

Memorizar versículos bíblicos também é uma ótima ferramenta para a renovação do nosso modo de pensar. É extremamente útil para lidarmos com a TPM ou outros contextos hormonais, pois diante dos momentos de pressão o Espírito Santo poderá trazer à nossa mente os versículos que já memorizamos. Mas quais versículos escolher? E como memorizá-los? Podemos escolher trechos sobre a esperança do evangelho e a capacitação que temos, em Cristo, de viver uma nova vida, como Tito 2.11-14. Também é interessante memorizar trechos sobre atitudes das quais precisamos nos despir ou revestir, como Efésios 4.29-32 e Filipenses 2.14-16. Uma estratégia simples é escrever esses textos em papéis e colocar em locais visíveis. Assim, cada vez que nos depararmos com eles, teremos a oportunidade de dizer a Verdade para nós mesmas e pedir ajuda ao Senhor para obedecê-la. Caso você se interesse por um método mais estruturado de memorização, sugiro que considere o método Charlote Mason.

Louvor e ação de graças

Podemos escolher louvar e agradecer a Deus mesmo quando não estamos sentindo vontade de louvar e agradecer, e essa é uma maneira muito interessante de se lembrar da Verdade e decidir agir de acordo com ela. Veja, não estou dizendo que não há lugar para o lamento sincero e humilde diante de Deus — com certeza há! Mas mesmo em meio ao nosso lamento mais sincero e humilde, podemos encontrar razões para louvá-Lo e agradecer-Lhe (Salmo 13; Salmo 73.26), e essa atitude pode se tornar um bálsamo de consolo e de renovação de forças e foco para o nosso ser.

Servir

Deus nos chama a cuidar dos interesses dos outros como cuidamos dos nossos (Filipenses 2.3-4) e se você tende a ficar excessivamente preocupada consigo mesma e desanimada com suas próprias circunstâncias, essa pode ser uma ótima maneira de ajustar sua perspectiva. Assim como o louvor, nós não precisamos necessariamente “sentir vontade de” servir para servir, da mesma forma como muitas vezes não sentimos vontade de levantar da cama todas as segundas-feiras, mas levantamos mesmo assim. Que oportunidades Deus tem colocado em sua vida para servir outras pessoas? Veja, a questão aqui não é passar a ajudar todas as pessoas em todas as suas necessidades, mas cultivar um coração de serva, atento às oportunidades de servir e disposto a supri-las dentro do possível (Provérbios 3.27), motivada pelo grande amor de Cristo por nós (Marcos 10.45; Filipenses 2.5-11; 1 João 3.16-17).

3. Reavalie seus hábitos e estilo de vida

Cultivar uma alimentação saudável e uma rotina regular de exercícios pode fazer muita diferença em nosso equilíbrio hormonal e emocional. Se você nunca se preocupou com isso, está na hora. Avalie também como tem estado o seu sono. Tem dormido bem e o suficiente? O sono adequado também exerce um papel importante em nossa saúde e bem-estar. Precisamos fazer a nossa parte para cuidar bem do corpo que Deus nos deu. Mas se você fizer tudo isso e ainda assim sentir que algo não parece certo com seu corpo, sugiro que busque, se possível, um médico que olhe para além dos sintomas e procure realmente identificar e tratar a causa. Pessoalmente, sugiro também que você tenha cautela com medicamentos alopáticos e hormônios artificiais de uso contínuo. Cada caso é um caso (e não estou aqui para oferecer conselhos médicos!), mas aprendi, por experiência própria, que alguns desses remédios podem trazer efeitos colaterais bem desagradáveis e, às vezes, sequer resolvem o problema que supostamente deveriam “remediar”. Por exemplo, alguns médicos prescrevem pílulas anticoncepcionais para supostamente “tratar” algum problema (como espinhas, cólicas menstruais, ovários policísticos ou endometriose) ou simplesmente para a mulher não menstruar/não engravidar, e muitas sofrem com efeitos colaterais como fadiga e até depressão. Muitos médicos negam a realidade e dizem, sobre as queixas de suas pacientes: “Isso é coisa da sua cabeça”, “Você não está assim por causa do anticoncepcional, mas por causa de sua rotina puxada ou até mesmo por uma questão emocional”. Não se deixe enganar. Os efeitos colaterais de anticoncepcionais e outros remédios são reais! Se possível, pesquise sobre tratamentos mais naturais, como fitoterápicos e hormônios bioidênticos, e converse sobre eles com seu médico.

4. Organize-se

Voltando ao livro “Mulheres em Apuros”, Martha Peace sugere que mantenhamos um planejamento sábio e um ambiente organizado em nosso dia a dia [2]. Dessa forma, poupamo-nos de algumas preocupações desnecessárias, o que pode facilitar um pouco a nossa vida especialmente nos dias em que já temos de lidar com as pressões hormonais. Além disso, ao planejarmos nosso calendário, podemos levar em conta os dias previstos para a TPM aflorar e, assim, se possível, evitar tomar grandes decisões ou assumir tarefas/compromissos muito desgastantes nesse período.

5. Peça ajuda

Não encare as dificuldades da vida de mulher sozinha. Tenha disposição para se abrir com uma irmã em Cristo mais madura que demonstre ser sábia e confiável (Tito 2.3-5). Pergunte se ela poderia caminhar com você em meio às suas lutas na TPM (ou outro contexto hormonal). Se sim, proponha-se a prestar contas para ela, contar suas dificuldades, confessar seus pecados, compartilhar suas vitórias, pedir conselho e oração, recitar os versículos que memorizou… Tenha em mente que esse tipo de relacionamento dificilmente surge de maneira natural e automática. Seja intencional em buscar ao menos uma mulher com quem você possa cultivar esse tipo de relacionamento; ore, procure em sua igreja local e se receber um “não” de alguma mulher, continue orando e procurando. Se você é casada, considere também a possibilidade de compartilhar essas lutas com seu marido e pedir que ele a ajude nessa caminhada, lembrando-a da Verdade e orando por e com você.

Há esperança

Antes de terminar, quero assegurar-lhe: você não está sozinha. Você não é a única que luta nessa área. E há esperança! Como nos lembra Martha Peace, “embora a TPM seja algo real, ela não pode nos impedir de honrar a Deus e amar os outros durante esse período” [3]. Deus sempre tem provisão suficiente para nós, não importa o dia do mês (2 Pedro 1.3)! Embora não seja fácil, é possível, pela graça de Deus que nos capacita, cultivar bons hábitos e perseverar no que é correto mesmo quando isso implica ir contra os nossos sentimentos. Sim, falharemos e pecaremos. Mas Deus não rejeita um coração quebrantado, que, em Cristo, pede o Seu perdão e clama por Sua ajuda para mudar (Salmo 51.17; Provérbios 28.13; 1 João 1.9; Hebreus 4.15-16).

Um lembrete mensal da graça de Deus

Nesse artigo, abordamos especificamente os desafios trazidos por nossos hormônios — as dores e lutas. Porém, não percamos de vista o fato de que o design de Deus para nós, mulheres, continua sendo admirável. Ele nos criou com a capacidade maravilhosa de gerar e nutrir vida (física e emocionalmente) e o nosso ciclo menstrual é também um lembrete desse privilégio. No começo da primeira parte deste artigo, comentei que recebo lembretes mensais da realidade da Queda (por causa das dificuldades que têm acompanhado meu ciclo). Porém, ao mesmo tempo, posso encarar meu ciclo como um lembrete mensal da graça de Deus, porque mesmo nesse mundo caído e quebrado pelo pecado, Ele continua sustentando e abençoando a Sua criação com vida. Alegremo-nos, pois, na criatividade e graça de nosso Deus e Pai! Lembremos que, em nossa fragilidade e fraqueza, temos a oportunidade de experimentar de forma mais intensa o quão grande e forte Ele é (2 Coríntios 12.7-10)! E descansemos em Sua promessa de sempre fazer tudo cooperar para para o nosso bem (Rm 8.28-29)! Glórias e graças ao Senhor eternamente!

 

[1] PEACE, Martha. Mulheres em Apuros. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010, capítulo 7.

[2] Idem.

[3] Idem.